Estou em estado de "Choque". Um dos membros dessa banda mítica que marcou o panorama infanto - juvenil de muito boas pessoas, Onda Choque, é transexual. Sim, tem mamas de silicone e ainda não tem a certeza se quer dar o passo eunuco final.
Quem diria que este rapaz, que esteve em palco actuando para milhões de espectadores (sozinho no meio de 20 gajas com bandoletes, suspensórios e colans aos quadrados rosa, cantando "ela só quer so pensa em namorar" e " ele é o rei lá do liceu", realizando complicadissímas coreografias viris), viria a admitir que "já tinha um bichinho dentro dele, sempre se sentiu mulher".
Quer dizer, não estou assim tão chocado, afinal tenho um amigo que pertenceu a esses mesmos Onda Choque e hoje tem um papel de destaque na J.C.P.
Onda Choque o que fizeste tu à minha geração? G.F.
…respostas, críticas, crónicas, verdades infundadas, teorias, encontros, paródias, conspirações, chalaças, ramboiadas, lágrimas, venenos, gentes, vícios, valores, palavras, perguntas, solidões, comunhões, fobias, frenias, neopatologias, actualidades, mundialidades, portugalidades. Ou só insignificâncias…
sexta-feira, dezembro 26, 2003
quinta-feira, dezembro 25, 2003
Dia de Natal
Dia 25 de Dezembro, Natal. Já não acordo de madrugada para correr para a árvore enfeitada em busca dos presentes que misteriosamente alguém fazia o favor de me oferecer. Essas entidades ou mágicas ou suspeitosamente parentais acertavam sempre no que queria pois também as escolhas eram sempre poucas e bem definidas. Já não me deito a 24 com a ânsia de adormecer rápido e acordar como um flecha disparada em direcção à sala. Já não acordo para um dia pleno de liberdade, um dia passado inteiramente a brincar satisfeito. Então, consumia-me em jogos, deleitava-me com as peças por montar, gritava e saltava comovendo-me a cada descoberta camuflada debaixo dos embrulhos rasgados.
Já cresci um bocadinho mas o que o passar dos anos inevitavelmente me tirou hoje ajuda-me a sorrir quando me revejo na cara dos que realmente vibram com esta data especial, os pequenos. A eles o Futuro, a eles os presentes. Aos outros, resta-nos a esperança que não tenham perdido essa pequenez, que ainda comunguem réstias de inocência. Porque ainda há muitos dos outros que teimam em escrever e refazer o Natal. Têm que o pintar sempre de novas formas obcecados pela originalidade, pela melhor forma de chegar a um maior número. Escrevem e rescrevem, consomem, vendem e reciclam o tema, até à exaustão. Há outros que começam a trabalhar meses antes, idealizando montras, desenhando luzes, enfeites, jogos de som. Tudo tornam eléctrico, computorizado, maquinal. Constroem sonhos em plásticos e metais. Hiperbolizam emoções em jogos para consolas. Os fazedores de notícias seleccionam as que melhor espelham a pobreza que nesta quadra de luxúria assume lugar de obsceno destaque. Uma vez por ano, a paz. Uma vez por ano, o amor. Uma vez por ano lá se embala Jesus. Uma vez por anos os outros lembram-se que há outros porque é slogan o fazerem. E nós, já também somos aos poucos já os outros que são muitos. Vamo-nos esquecendo do silêncio num mundo de infinitos estímulos. Onde a plenitude das chamas dos madeiros na noite fria das aldeias nos deixou de aquecer, substituída pelas televisões ligadas nos urbanos apartamentos. Onde a tradição ainda é o que era mas sem se perceber porque é. Talvez o limite que estamos a chegar nos desperte a vontade de travar este ritmo frenético. Parar de deitar mais lenha, apreciar o rubro das brasas ténues. Talvez nos próximos Natais não sinta necessidade de escrever mensagens de Natal pois já o fiz e tentei mudar em mim o que nelas critico ou realizei os sonhos que nelas tracei durante o resto do ano. E é tão grande esse resto…
Já não acordo de madrugada, deito-me de madrugada. Mas ainda sou feliz no meio do torpor desta melancolia natalícia. Há felizmente o cheiro dos livros oferecidos, bilhetes por obliterar numa viagem desconhecida por fazer. Há os sonhos que ganham sabores, as rabanadas, a canela. Há os saltos de alegria e a cara de basbaque do meu primo depois de receber um barco de piratas. Existe a infância dos meus tios e dos meus pais. Existem as vitórias ao “Pictionary” das orgulhosas gerações vindouras que no “Trivial” levam baile dos quase reformados.
Existem coisas pequenas, mesquinhices, consumos, mensagens de telemóvel banais repetidas para a lista completa de contactos. Existem pequenas guerras como em qualquer família. Mas nós, os que podemos ler blogs, carregar 70 vezes no “enviar sms”, comprar o último perfume da Hugo Boss, passar o ano em Barcelona, temos mais que algum conforto financeiro: temos segurança e esperança. Nós temos Futuro, mesmo desconhecendo-o. Há outros, estes também muitos, sem quaisquer horizontes. Como diria Sidónio Muralha: «Hoje é dia de Natal, mas quando será de todos?».G.F.
Já cresci um bocadinho mas o que o passar dos anos inevitavelmente me tirou hoje ajuda-me a sorrir quando me revejo na cara dos que realmente vibram com esta data especial, os pequenos. A eles o Futuro, a eles os presentes. Aos outros, resta-nos a esperança que não tenham perdido essa pequenez, que ainda comunguem réstias de inocência. Porque ainda há muitos dos outros que teimam em escrever e refazer o Natal. Têm que o pintar sempre de novas formas obcecados pela originalidade, pela melhor forma de chegar a um maior número. Escrevem e rescrevem, consomem, vendem e reciclam o tema, até à exaustão. Há outros que começam a trabalhar meses antes, idealizando montras, desenhando luzes, enfeites, jogos de som. Tudo tornam eléctrico, computorizado, maquinal. Constroem sonhos em plásticos e metais. Hiperbolizam emoções em jogos para consolas. Os fazedores de notícias seleccionam as que melhor espelham a pobreza que nesta quadra de luxúria assume lugar de obsceno destaque. Uma vez por ano, a paz. Uma vez por ano, o amor. Uma vez por ano lá se embala Jesus. Uma vez por anos os outros lembram-se que há outros porque é slogan o fazerem. E nós, já também somos aos poucos já os outros que são muitos. Vamo-nos esquecendo do silêncio num mundo de infinitos estímulos. Onde a plenitude das chamas dos madeiros na noite fria das aldeias nos deixou de aquecer, substituída pelas televisões ligadas nos urbanos apartamentos. Onde a tradição ainda é o que era mas sem se perceber porque é. Talvez o limite que estamos a chegar nos desperte a vontade de travar este ritmo frenético. Parar de deitar mais lenha, apreciar o rubro das brasas ténues. Talvez nos próximos Natais não sinta necessidade de escrever mensagens de Natal pois já o fiz e tentei mudar em mim o que nelas critico ou realizei os sonhos que nelas tracei durante o resto do ano. E é tão grande esse resto…
Já não acordo de madrugada, deito-me de madrugada. Mas ainda sou feliz no meio do torpor desta melancolia natalícia. Há felizmente o cheiro dos livros oferecidos, bilhetes por obliterar numa viagem desconhecida por fazer. Há os sonhos que ganham sabores, as rabanadas, a canela. Há os saltos de alegria e a cara de basbaque do meu primo depois de receber um barco de piratas. Existe a infância dos meus tios e dos meus pais. Existem as vitórias ao “Pictionary” das orgulhosas gerações vindouras que no “Trivial” levam baile dos quase reformados.
Existem coisas pequenas, mesquinhices, consumos, mensagens de telemóvel banais repetidas para a lista completa de contactos. Existem pequenas guerras como em qualquer família. Mas nós, os que podemos ler blogs, carregar 70 vezes no “enviar sms”, comprar o último perfume da Hugo Boss, passar o ano em Barcelona, temos mais que algum conforto financeiro: temos segurança e esperança. Nós temos Futuro, mesmo desconhecendo-o. Há outros, estes também muitos, sem quaisquer horizontes. Como diria Sidónio Muralha: «Hoje é dia de Natal, mas quando será de todos?».G.F.
regressos
Andei por ali errante. Furagi-me deste Oráculo na procura de mais perguntas, na descoberta de mais insignificâncias. Perdi-me noutras noites sem escrita mas inspiradoras e plenas de ideias que vão fermentando.
Tive e tenho essa necessidade de fugir. Fugir dos rostos que lêem o que escrevo, fugir das minhas opiniões e das vossas. Viajei e trabalhei. Extenuei-me e satisfiz-me. Andei em noites de boémia aventura talvez não querendo perder a oportunidade de amanhã me lembrar dos caminhos velhos. Estou de volta a este porto de abrigo. Não sei por quanto tempo já que ninguém aqui me prende. Já que sem musas somos tristemente livres. A questão sobre a minha existência e já agora a da tua ainda me vai consumindo. Outras dúvidas também, com mais serenidade. Volto então para registar memórias.
Volto a este antro, a esta “Stand up/down” personalizada, a este palco egocêntrico de uma solidão com assistência. Vim só beber um copo, matar-me saudades. Não tenho nada para fazer. Acho que tenho alguma coisa para escrever. Como não preciso de o fazer já, logo vejo.
È bom sentirmo-nos assim de férias, estagnados, não fora o frio quase mediterrânicos, com projectos para 2004 já a quererem ebulir-se, mas deitados no sofá a ver os clássicos de Natal. E como o teclado está a uns poucos movimentos musculares abdominais e a 3 passos do trono procrastinante, já cá volto. Ou não. G.F.
Comentários, dúvidas, incertezas, ofertas monetárias, sermões, correcções, propostas irrecusáveis, cabalas, feedbacks, basbaquices quotidianas, pactos secretos de uma vida plena de felicidade( paixão eterna e Amor transcendental e mágico a fazer filhos para sempre, todos os dias a rir e a ofecerrmo-nos presentes e quando nos zangarmos curamos as fúrias e as desarmonias com sexo quente e louco junto a uma fogueira na praia de uma ilha perdida), envia para: oracludosbasbaks@mail.pt Ainda não respondi a nenhum mail: tu podes mudar isso.
Tive e tenho essa necessidade de fugir. Fugir dos rostos que lêem o que escrevo, fugir das minhas opiniões e das vossas. Viajei e trabalhei. Extenuei-me e satisfiz-me. Andei em noites de boémia aventura talvez não querendo perder a oportunidade de amanhã me lembrar dos caminhos velhos. Estou de volta a este porto de abrigo. Não sei por quanto tempo já que ninguém aqui me prende. Já que sem musas somos tristemente livres. A questão sobre a minha existência e já agora a da tua ainda me vai consumindo. Outras dúvidas também, com mais serenidade. Volto então para registar memórias.
Volto a este antro, a esta “Stand up/down” personalizada, a este palco egocêntrico de uma solidão com assistência. Vim só beber um copo, matar-me saudades. Não tenho nada para fazer. Acho que tenho alguma coisa para escrever. Como não preciso de o fazer já, logo vejo.
È bom sentirmo-nos assim de férias, estagnados, não fora o frio quase mediterrânicos, com projectos para 2004 já a quererem ebulir-se, mas deitados no sofá a ver os clássicos de Natal. E como o teclado está a uns poucos movimentos musculares abdominais e a 3 passos do trono procrastinante, já cá volto. Ou não. G.F.
Comentários, dúvidas, incertezas, ofertas monetárias, sermões, correcções, propostas irrecusáveis, cabalas, feedbacks, basbaquices quotidianas, pactos secretos de uma vida plena de felicidade( paixão eterna e Amor transcendental e mágico a fazer filhos para sempre, todos os dias a rir e a ofecerrmo-nos presentes e quando nos zangarmos curamos as fúrias e as desarmonias com sexo quente e louco junto a uma fogueira na praia de uma ilha perdida), envia para: oracludosbasbaks@mail.pt Ainda não respondi a nenhum mail: tu podes mudar isso.
quinta-feira, novembro 20, 2003
ou pelo menos tenho Fé...
Depois de uma discussão sobre celibato, padres e mulheres, cheguei a uma conclusão. E chegar a uma conclusão dá-nos pelo menos uma alegria vazia, a de encontrarmos uma nossa própria citação. Esta conclusão pode ser estúpida mas qualquer conclusão tem de surgir quando se quer ir para a cama mais cedo ou simplesmente por um fim à reflexão. Se não fizer qualquer sentido, compreendamos a hora, o local e o contexto ecológico em que se inseriram tais palavras. Se quiseram mesmo criticar, força (já outras discussões pouco estéreis nasceram de teses desprovidas de lógica e conteúdo).
Porque não percebermos a Mulher como o ideal de Perfeição em vez de Deus? Pelo menos existem mais provas dessa aproximação idílica: algumas Mulheres existem. G.F.
Porque não percebermos a Mulher como o ideal de Perfeição em vez de Deus? Pelo menos existem mais provas dessa aproximação idílica: algumas Mulheres existem. G.F.
domingo, novembro 16, 2003
na América também há basbaques, e geniais.
«Não quero atingir a imortalidade atráves do meu trabalho. Quero atingi-la ficando vivo» Woody Allen
«e tudo bata certo nem que por um segundo»
Hoje, mais um domingo sereno, caseiro. Um domingo que provavelmente devemos ter partilhado. Este é considerado o primeiro dia da semana e o dia da semana dedicado ao descanso. Nos cristãos, também dedicado ao culto. Pergunto-me porque raio se começa uma semana a descansar? Porque é que em Inglês se chama “Sunday” se na Inglaterra raramente o astro rei vem mirar a sua corte, nem sequer aos Domingos? E porque razão há pessoas “fáceis como manhãs de domingo”?
Definitivamente o domingo dá azo a uma procura pessoal pelo mais variado tipo de perguntas idiotas. E o Domingo, além de ser idiota, promove fenómenos idiotas. Não sei se já alguém reparou mas há um lobby deconhecido na TVI. Falo do grupo de pressão que os animais falantes e/ou pensantes exercem sobre a programação das manhãs dominicanas. E esta raça de animais falantes não tem a mesma fibra que os animais de La Fontaine. Porém, eles andam ai, fazem desporto e vieram para dominar.
Provavelmente o chefe dessa organização com poderes ocultos é o cão que faz de AIR BUD. Quantas vezes já deu este filme na TVI? Um cão que joga basquetebol ter a influência que tem na TV nacional é preocupante (O estado da Televisão nacional é preocupante). Mas o pior é que não é só um cão que joga basquetebol. Também podemos assistir, sentados na eucaristia do nosso sofá, a burros que jogam golfe, macacos que fazem hockey no gelo, crianças polícias sinaleiras em recreios do preparatório, papagaios falantes que desvendam casos insólitos, gatos que marcam golos de cabeça, miúdos de três anos cientistas que têm contacto com extraterrestres e o Ernesto. Sim o Ernesto. O Ernesto Contra Ataca. O Ernesto no Circo. O Ernesto Motoqueiro. O Ernesto é provavelmente a “Anita” da televisão domingueira americana.
Talvez tenhamos de combater a passividade que este dia da semana nos dá, lutar contra a tentação de ver pela 850ª vez a “estreia” do “Sozinho em Casa” e desligar a televisão. Pensar na liberdade que é andar de pijama dia inteiro, com a barba por rapar e o cabelo por pentear. Na liberdade que é não nos termos que ver ao espelho. Viver a horizontalidade deste dia ao som de um Tom Jobim que nos faça sentir pertencentes a mais um Domingo. Um longo e descansado Domingo.
Mas nem todos vivemos domingos descansados. Há quem largue o ócio do seu neste dia. Julgo assim, que há em Portugal o culto do domingo. Um culto de certa forma masculino. Todos devemos ter um vizinho, um sogro, um amigo, um pai, que acorda todos os Domingos às 9horas da manhã; bebe o seu café de domingo; faz a manutenção pelo jardim da terra, 2 flexões, 3 abdominais, 4 minutos de corrida; compra o seu semanário, os três jornais desportivos no caso da sua equipa ter ganho, só “A Bola” no caso de ter perdido; tira o seu carro (comprado há 10 anos com 3 mil quilómetros) da garagem, lava-o meticulosamente durante toda a manhã, vestido de fato de treino, sapato de domingo, a bolsa à cintura com o telemóvel e as chaves (bolsa essa quase ocultada pela barriga proeminente). Então chama a sua Maria que se deve estar a retocar ao espelho e a vestir as roupas domingueiras aos seus filhos. Vão visitar o Cabo da Roca, o Guincho, a Boca do Inferno, Mafra, Belém. Invariavelmente têm de trazer sempre lembranças comestíveis: pasteis, queijadas, travesseiros, etc., como se inconscientemente escolhessem o destino com base nos sabores da sua preferência. A banda sonora dessa tarde de família é muito provavelmente os relatos da T.S.F. de todos os jogos da SuperLiga passando pela de Honra até às Distritais. Vão passear se não tiverem uma bela vivenda de férias em Fernão Ferro ou se já tiverem ido ao Colombo, ao Vasco da Gama, à Feira Nova, ao Almada Fórum, ao culto comercialista na semana passada. Os passeios têm a duração dependente da hora do jogo da jornada, transmitido nessa noite em horário nobre, ou do começo de mais uma gala da operação triunfo. O jantar é sempre leve uma vez que o almoço de domingo tem que ser obrigatoriamente cozido à portuguesa.
Pensando nestas gentes tão genuinamente nossas, portuguesas, lembro-me dos Domingos na terra do meu pai. Do encontro com os meus tios e primos: “estás mais alto!” “já andas em que ano?” “e namoradas, quantas?”. Os Domingos no Outono fazem-me sempre lembrar ou antecipar o Natal no frio beirão. Reportam-me sempre para o bruto granito contrastando com as amáveis pessoas simples. Trazem-me, habitualmente a marcada nostalgia, remetem-me sempre para as raízes. Às pequenas terras onde há esse costume bonito de se vestir a melhor roupa. Quando chega este dia, vislumbra-se uma outra luz nas ruas. Larga-se a mesma vestimenta usada na lavoura dias a fio e busca-se nas arcas o vestido mais resplandecente com um ligeiro cheiro a naftalina ou a única gravata usada em casamentos, baptizados e funerais passados. As beatas ganham alegria nos fervores do culto. Há um verdadeiro descanso. Físico e de alma.
Hoje, que rearrumo o meu quarto e as lembranças, descanso a alma e o corpo. Escolhi este Domingo para regressar à escrita umbloguista. Tenho tido dificuldade em escrever sabendo já da existência de rostos que me lêem e me perguntam se já larguei ou não as palavras virtuais. Não gosto da sensação de escrever pensando que esta ou aquela pessoa estão a ler. Isso tem bloqueado a publicação de alguns textos. Porém, este Domingo trouxe-me de volta essa 3ª pessoa que não existe, esse público sem cara e sem expectativas com quem não tenho compromissos e me relaciono. Neste Domingo penso que valerá a pena continuar com estas pequenas insignificâncias que, além de me afastarem da inauguração do Estádio do Dragão e de mais alguns emplastros desta vida, me fazem serenar e deixar publicado aquilo que um dia será um fragmento do meu passado. Talvez mais tarde, amanhã, escreva alguma coisa melhor. Talvez amanhã seja Segunda, no Mundo. G.F.
Definitivamente o domingo dá azo a uma procura pessoal pelo mais variado tipo de perguntas idiotas. E o Domingo, além de ser idiota, promove fenómenos idiotas. Não sei se já alguém reparou mas há um lobby deconhecido na TVI. Falo do grupo de pressão que os animais falantes e/ou pensantes exercem sobre a programação das manhãs dominicanas. E esta raça de animais falantes não tem a mesma fibra que os animais de La Fontaine. Porém, eles andam ai, fazem desporto e vieram para dominar.
Provavelmente o chefe dessa organização com poderes ocultos é o cão que faz de AIR BUD. Quantas vezes já deu este filme na TVI? Um cão que joga basquetebol ter a influência que tem na TV nacional é preocupante (O estado da Televisão nacional é preocupante). Mas o pior é que não é só um cão que joga basquetebol. Também podemos assistir, sentados na eucaristia do nosso sofá, a burros que jogam golfe, macacos que fazem hockey no gelo, crianças polícias sinaleiras em recreios do preparatório, papagaios falantes que desvendam casos insólitos, gatos que marcam golos de cabeça, miúdos de três anos cientistas que têm contacto com extraterrestres e o Ernesto. Sim o Ernesto. O Ernesto Contra Ataca. O Ernesto no Circo. O Ernesto Motoqueiro. O Ernesto é provavelmente a “Anita” da televisão domingueira americana.
Talvez tenhamos de combater a passividade que este dia da semana nos dá, lutar contra a tentação de ver pela 850ª vez a “estreia” do “Sozinho em Casa” e desligar a televisão. Pensar na liberdade que é andar de pijama dia inteiro, com a barba por rapar e o cabelo por pentear. Na liberdade que é não nos termos que ver ao espelho. Viver a horizontalidade deste dia ao som de um Tom Jobim que nos faça sentir pertencentes a mais um Domingo. Um longo e descansado Domingo.
Mas nem todos vivemos domingos descansados. Há quem largue o ócio do seu neste dia. Julgo assim, que há em Portugal o culto do domingo. Um culto de certa forma masculino. Todos devemos ter um vizinho, um sogro, um amigo, um pai, que acorda todos os Domingos às 9horas da manhã; bebe o seu café de domingo; faz a manutenção pelo jardim da terra, 2 flexões, 3 abdominais, 4 minutos de corrida; compra o seu semanário, os três jornais desportivos no caso da sua equipa ter ganho, só “A Bola” no caso de ter perdido; tira o seu carro (comprado há 10 anos com 3 mil quilómetros) da garagem, lava-o meticulosamente durante toda a manhã, vestido de fato de treino, sapato de domingo, a bolsa à cintura com o telemóvel e as chaves (bolsa essa quase ocultada pela barriga proeminente). Então chama a sua Maria que se deve estar a retocar ao espelho e a vestir as roupas domingueiras aos seus filhos. Vão visitar o Cabo da Roca, o Guincho, a Boca do Inferno, Mafra, Belém. Invariavelmente têm de trazer sempre lembranças comestíveis: pasteis, queijadas, travesseiros, etc., como se inconscientemente escolhessem o destino com base nos sabores da sua preferência. A banda sonora dessa tarde de família é muito provavelmente os relatos da T.S.F. de todos os jogos da SuperLiga passando pela de Honra até às Distritais. Vão passear se não tiverem uma bela vivenda de férias em Fernão Ferro ou se já tiverem ido ao Colombo, ao Vasco da Gama, à Feira Nova, ao Almada Fórum, ao culto comercialista na semana passada. Os passeios têm a duração dependente da hora do jogo da jornada, transmitido nessa noite em horário nobre, ou do começo de mais uma gala da operação triunfo. O jantar é sempre leve uma vez que o almoço de domingo tem que ser obrigatoriamente cozido à portuguesa.
Pensando nestas gentes tão genuinamente nossas, portuguesas, lembro-me dos Domingos na terra do meu pai. Do encontro com os meus tios e primos: “estás mais alto!” “já andas em que ano?” “e namoradas, quantas?”. Os Domingos no Outono fazem-me sempre lembrar ou antecipar o Natal no frio beirão. Reportam-me sempre para o bruto granito contrastando com as amáveis pessoas simples. Trazem-me, habitualmente a marcada nostalgia, remetem-me sempre para as raízes. Às pequenas terras onde há esse costume bonito de se vestir a melhor roupa. Quando chega este dia, vislumbra-se uma outra luz nas ruas. Larga-se a mesma vestimenta usada na lavoura dias a fio e busca-se nas arcas o vestido mais resplandecente com um ligeiro cheiro a naftalina ou a única gravata usada em casamentos, baptizados e funerais passados. As beatas ganham alegria nos fervores do culto. Há um verdadeiro descanso. Físico e de alma.
Hoje, que rearrumo o meu quarto e as lembranças, descanso a alma e o corpo. Escolhi este Domingo para regressar à escrita umbloguista. Tenho tido dificuldade em escrever sabendo já da existência de rostos que me lêem e me perguntam se já larguei ou não as palavras virtuais. Não gosto da sensação de escrever pensando que esta ou aquela pessoa estão a ler. Isso tem bloqueado a publicação de alguns textos. Porém, este Domingo trouxe-me de volta essa 3ª pessoa que não existe, esse público sem cara e sem expectativas com quem não tenho compromissos e me relaciono. Neste Domingo penso que valerá a pena continuar com estas pequenas insignificâncias que, além de me afastarem da inauguração do Estádio do Dragão e de mais alguns emplastros desta vida, me fazem serenar e deixar publicado aquilo que um dia será um fragmento do meu passado. Talvez mais tarde, amanhã, escreva alguma coisa melhor. Talvez amanhã seja Segunda, no Mundo. G.F.
G.F.
Alguém me disse que as minhas iniciais lhe faziam lembrar Grândola Futebol Clube. Agora sempre que vou assinar, uma imagem absurda forma-se na minha mente. Um jogo de futebol entre alentejanos, com o lenço vermelho ao pescoço e tudo. Uma claque de mineiros de mão no ouvido e olhos fechados a cantar a música que o 25 de Abril tornou célebre. Depois de cada golo gritam G.F.C.! G.F.C! G.F.C.! gloriooooooso G.F.C. glorioso G.F.C. Mas não é por isso que vou mudar a assinatura.
Como sempre gostei mais do nome da família da minha avó paterna, Fontes, vou deixar Costa de lado e passar a assinar simplesmente Gonçalo Fontes, G.F. O meus antepassados ligados ao pai do meu pai, que me perdoem. Isto no caso de haver céu, pessoas a lá morar e Internet. Como “Gonçalos” Costa conheço mais 2 e “Gonçalos” Fontes nenhum, talvez assim seja um pormenor absurdo na busca pela identidade original que todos enganados procuramos. Além disto, termino mais rapidamente cada post o que também é útil. Este post é assim destinado aqueles que pensarem que G.F. e G.F.C. são pessoas diferentes ou para os mais analistas que isso é apenas um sintoma da minha esquizofrenia. Não, mudei apenas de assinatura. Ou antes simplifiquei-a. Voltei ao Oráculo. G.F.
Como sempre gostei mais do nome da família da minha avó paterna, Fontes, vou deixar Costa de lado e passar a assinar simplesmente Gonçalo Fontes, G.F. O meus antepassados ligados ao pai do meu pai, que me perdoem. Isto no caso de haver céu, pessoas a lá morar e Internet. Como “Gonçalos” Costa conheço mais 2 e “Gonçalos” Fontes nenhum, talvez assim seja um pormenor absurdo na busca pela identidade original que todos enganados procuramos. Além disto, termino mais rapidamente cada post o que também é útil. Este post é assim destinado aqueles que pensarem que G.F. e G.F.C. são pessoas diferentes ou para os mais analistas que isso é apenas um sintoma da minha esquizofrenia. Não, mudei apenas de assinatura. Ou antes simplifiquei-a. Voltei ao Oráculo. G.F.
segunda-feira, novembro 03, 2003
Há muito que sonhava com um fim de semana como o que tive hoje. Um bom argumento, estórias curtas, personagens cativantes. E também, não menos importante uma banda sonora mágica. 3 horas de blues, gospell, reggae, rock, 8 horas de uma viagem à volta da europa moderna que cabe nas ruas estreitas da Capital. Sonhos, solitudes, memórias de desilusões, multidões e gargalhadas sinceras, satisfeitas.. Uma noite "fantomatica", a merecer um post cuidado. "Yesterday seems like a life ago", that multitude could actually "change the world with their own two hands" "but now is just another lonly day. And here comes emptiness crashing in", so for today, "i will just walk away". G.F.C.
sexta-feira, outubro 31, 2003
citaram
Pela primeira vez na história deste Oráculo e na minha história pessoal, citaram-me. Pela primeira vez fiz uma troca de blogues: «Mostra-me o teu que eu mostro-te o meu». Pela primeira vez ponho aqui um link, retribuindo a amabilidade. Não sabia como era ver uma citação minha noutro lado, ver as palavras que escrevi numa noite perdida soltarem-se e rumarem a outras janelas. Mais uma vez é sempre bom encontrar pessoas que escrevem e falam de pequenos pormenores que a nós também nos são importantes. À distância de um clique, uma leitura encantada. G.F.C.
terça-feira, outubro 28, 2003
Se Deus existe, em Lisboa anda de Metro.
Andava há tempos para escrever sobre esta estória pequena cuja lição me serve para as alturas em que invariavelmente subavalio as capacidades de algumas pessoas que vou conhecendo ao longo da vida, devido a preconceitos que não gostava de ter mas que todos temos (mesmo que prescritivamente não o assumamos). Penso nela muitas vezes. Não só devido à pequena lição mas sobretudo devido ao pequeno momento de simplicidade e de beleza que surgiu onde menos esperava: no metropolitano de Lisboa. A beleza em sítios onde a menos suspeito sempre me fascinou.
Mesmo que a verdade deste relato não tenha, para quem me estiver a ler, nada de especial, o que é certo é que para as pessoas que estavam naquela carruagem, aquele momento deve ser ainda hoje lembrado com um sorriso. È com base na possibilidade remota que alguma dessas pessoas esteja a ler, que escrevo este post. E já agora, escrevo também para aquelas que compreenderem o porquê dessa contemplação.
Aconteceu em meados de Abril. Tinha acabado as aulas e dirigia-me ao Chiado pela Linha Amarela. Não me lembro em que estação entrou aquela senhora grávida, jovem, muito bonita, com uma barriga enorme. Lembro-me de ter pensado para comigo porque é que teria de viajar de metro, aquela grávida, aquela hora. Um senhor levantou-se para a deixar sentar e saiu na estação seguinte. Enquanto tentava estupidamente descobrir algum sintoma de infelicidade na grávida pelo facto de estar a andar de metro, reparei que sorria com esperança ao olhar o vidro, e reparei noutra pessoa que se dirigia para um lugar deixado à sua frente. Era um homem aparentemente com 30 anos, mongolóide, Síndrome de Down, com o sorriso característico, camisola de lã por baixo de um sobretudo mal apertado e sujo. Nos pés umas sandálias velhas. Com a língua de fora e a cabeça a fazer movimentos repetitivos, caminhou e sentou-se frente a frente com a senhora que sorria a si mesma no espelho em velocidade pelos túneis escuros das entranhas de Lisboa.
Depois, depois aconteceu uma prova do amor, que nós ditos normais, nunca saberemos transmitir com tanta espontaneidade, com tanta natural abertura, com tanta honestidade terna, com tanta doçura como a daquele sorriso e a voz tão terna como a daquele rapaz mongolóide, naquele dia, naquela carruagem. Olhou-a, baixou os olhos em direcção à barriga e sorriu. A senhora sorriu retribuindo a simpatia. Esteve uns momentos pensativo e então, sem receio de estar a falar com uma estranha, sem pensar na reacção do resto dos passageiros, disse arrastando a voz enrolada devido à sua fortuna genética “ Tem muita sorte. Vai nascer na Primavera. Vai ser muito lindo como a mãe”. Levantou-se ao mesmo tempo que a senhora agradecia e saiu na outra estação dizendo “Parabéns”, sempre a sorrir. A senhora disse novamente obrigado e todos os que estávamos naquela carruagem agradecemos, embasbacados, calados, cada um à sua maneira… G.F.C.
Comentários, dúvidas, incertezas, ofertas monetárias, sermões, correcções, propostas irrecusáveis, cabalas, feedbacks, basbaquices quotidianas, tudo isso para: oracludosbasbaks@mail.pt Critica.
Mesmo que a verdade deste relato não tenha, para quem me estiver a ler, nada de especial, o que é certo é que para as pessoas que estavam naquela carruagem, aquele momento deve ser ainda hoje lembrado com um sorriso. È com base na possibilidade remota que alguma dessas pessoas esteja a ler, que escrevo este post. E já agora, escrevo também para aquelas que compreenderem o porquê dessa contemplação.
Aconteceu em meados de Abril. Tinha acabado as aulas e dirigia-me ao Chiado pela Linha Amarela. Não me lembro em que estação entrou aquela senhora grávida, jovem, muito bonita, com uma barriga enorme. Lembro-me de ter pensado para comigo porque é que teria de viajar de metro, aquela grávida, aquela hora. Um senhor levantou-se para a deixar sentar e saiu na estação seguinte. Enquanto tentava estupidamente descobrir algum sintoma de infelicidade na grávida pelo facto de estar a andar de metro, reparei que sorria com esperança ao olhar o vidro, e reparei noutra pessoa que se dirigia para um lugar deixado à sua frente. Era um homem aparentemente com 30 anos, mongolóide, Síndrome de Down, com o sorriso característico, camisola de lã por baixo de um sobretudo mal apertado e sujo. Nos pés umas sandálias velhas. Com a língua de fora e a cabeça a fazer movimentos repetitivos, caminhou e sentou-se frente a frente com a senhora que sorria a si mesma no espelho em velocidade pelos túneis escuros das entranhas de Lisboa.
Depois, depois aconteceu uma prova do amor, que nós ditos normais, nunca saberemos transmitir com tanta espontaneidade, com tanta natural abertura, com tanta honestidade terna, com tanta doçura como a daquele sorriso e a voz tão terna como a daquele rapaz mongolóide, naquele dia, naquela carruagem. Olhou-a, baixou os olhos em direcção à barriga e sorriu. A senhora sorriu retribuindo a simpatia. Esteve uns momentos pensativo e então, sem receio de estar a falar com uma estranha, sem pensar na reacção do resto dos passageiros, disse arrastando a voz enrolada devido à sua fortuna genética “ Tem muita sorte. Vai nascer na Primavera. Vai ser muito lindo como a mãe”. Levantou-se ao mesmo tempo que a senhora agradecia e saiu na outra estação dizendo “Parabéns”, sempre a sorrir. A senhora disse novamente obrigado e todos os que estávamos naquela carruagem agradecemos, embasbacados, calados, cada um à sua maneira… G.F.C.
Comentários, dúvidas, incertezas, ofertas monetárias, sermões, correcções, propostas irrecusáveis, cabalas, feedbacks, basbaquices quotidianas, tudo isso para: oracludosbasbaks@mail.pt Critica.
Conheço um gay.
O meu dicionário de Word é gay. Só tem a palavra vizinho, pede-me que ignore vizinha. Já que falo de gays, há dias estava a falar com um gajo que conheço, gay. Não tenho amigos gays como muita gente gosta de dizer. Por acaso não tenho amigos gays, nem pretos, nem cegos, nem com qualquer estigma marcante. Nem gostava de ter. Gosto de ter os amigos que me vão surgindo na vida, amigos que se fazem num acaso de um dia, numa conversa perdida. Talvez um dia esse acaso me traga um amigo perneta, uma amiga barbuda. Mas prometo já aqui não os buscar para argumentos a favor ou pró exclusão social. È que hoje, ter um amigo preto, dizer que temos um amigo gay parece que dá um certo status, parece que torna alguns basbaques cosmopolitas. Torna-os ainda mais iguais aos pequenos, julgando-se eles que o facto de ter um amigo gay os faz diferentes e abertos.
Mas a verdade é que hoje em dia quase ninguém tem amigos. O que se tem é uma lista de contactos, de preferência eclética, gente de vários quadrantes, onde vamos buscar amigos para argumentos, para exemplos, para negócios, para desabafos sincronizados, para críticas, para favores. Mas isto não tem nada a ver com o que queria escrever. O último parágrafo é seria apenas o post.
Conheço um gay, que não é meu amigo e dai a generalização que vou fazer ser completamente abusiva. Mas é que o gajo é o gajo mais mesquinho, mais intriguista que conheço. E estes atributos surgem de forma directamente proporcional à sua sensibilidade artística, à visão dos pequenos pormenores. Portanto concluo erroneamente que, segundo a minha amostra, os homens gays têm o melhor que os homens não possuem e ao mesmo tempo o pior que as mulheres julgam não ter. G.F.C.
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Mas a verdade é que hoje em dia quase ninguém tem amigos. O que se tem é uma lista de contactos, de preferência eclética, gente de vários quadrantes, onde vamos buscar amigos para argumentos, para exemplos, para negócios, para desabafos sincronizados, para críticas, para favores. Mas isto não tem nada a ver com o que queria escrever. O último parágrafo é seria apenas o post.
Conheço um gay, que não é meu amigo e dai a generalização que vou fazer ser completamente abusiva. Mas é que o gajo é o gajo mais mesquinho, mais intriguista que conheço. E estes atributos surgem de forma directamente proporcional à sua sensibilidade artística, à visão dos pequenos pormenores. Portanto concluo erroneamente que, segundo a minha amostra, os homens gays têm o melhor que os homens não possuem e ao mesmo tempo o pior que as mulheres julgam não ter. G.F.C.
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IMPROBE BENFICA, QUID NON MORTALIA PECTORA COGIS!
Sinto que o amor a um clube de futebol é definitivamente o sentimento mais estúpido e inexplicável que alguém pode nutrir. E como o que tudo é inexplicável e estúpido na vida há que perder tempo a dissertar sobre isso. Falarmos das nossas paixões mais que exorcizar-nos humedece-nos saudavelmente os olhos, dá-nos alento para nos apaixonarmos outra vez, como a primeira. E a primeira vez que me lembro do Benfica tinha uns 3 ou 4 anos. Lembro-me que ainda não andava na pré primária. Nesse tempo éramos todos do Benfica. A cor preferida de todos os meus amigos era o vermelho. A canção que sabíamos melhor era “Olé olá o Benfica é o melhor que há”. Havia sempre um, e apenas um, do Sporting, que dizia “Que há que havia, mas agora é uma granda porcaria”. Havia sempre um, apenas um. E mesmo esse sabia que o que cantava não era verdade.
Guardo ainda religiosamente o cartão de sócio isento menor. Com a maquete do antigo Estádio da Luz no verso e a fotografia na fronte tirada há uns 14 ou 15 anos. E há 14 ou 15 anos, aquele que agora revejo na impressão, fazia colecções de calendários e cromos com todos jogadores do clube da águia.
Não ia ao Estádio para ver o jogo em si mas para ver, espantado, a forma como os velhotes dos lugares cativos se exaltavam e chamavam nomes ao árbitro. Foi no Estádio da Luz que ouvi pela primeira vez “filho de uma granda puta”. Não sabia ainda o que eram as putas, mas que os velhos gostavam de chama-las gostavam. Também tinha a ligeira impressão de que aqueles senhores não gostavam muito do mais gordo que vestia de preto. Ria-me de toda aquela energia dos mais velhos mas entediava-me porque, a bem da verdade, só gostava do momento em que era golo, o meu pai me pegava ao colo e todo o estádio gritava em uníssono elevando-se com as suas bandeiras rubras.. Isso era o que me dava mais satisfação, fosse no estádio frente ao Penafiel, fosse em casa, no sofá, frente ao Arsenal para a Taça dos Campeões Europeus. O ritual de gritar golo, ser levantado e abraçado pelo meu pai, ouvir a minha mãe gritar assustada, ficar estupidamente feliz a gritar “olé olá”, são momentos únicos que o Benfica me proporcionou.
Esses momentos não se cingiam a casa ou à Catedral. Na escola tornava-me no Vítor Paneira quando centrava a bola para a Cláudia, que era o melhor jogador/a da turma. Quando marcava um golo vestia a pele de Rui Águas, quando o Jepas mandava um “bajardo” a 50 metros da baliza, transformava-o no Isaías.
Houve também desilusões, por exemplo na final europeia em que os jogadores do Benfica perdiam constantemente as chuteiras ou noutra época em que o Rui Águas se mudou para o F.C.P. e eu queimei, às escondidas, todos os cromos que tinha dele. Foi a minha vingança pessoal e desde então que passei a odiar o Porto e os seus esquemas. Influenciado pelo meu pai claro, esse ódio a Pinto da Costa, Reinaldo Teles, Guarda Abel, Paulinho Santos e o resto da Inteligenzia foi crescendo. Não se tratava de o ódio a um clube mas um sentimento de revolta contra as insinuações, a falta de fairplay, os jogos ganhos na secretaria, as falsas suspeições, a ironia a roçar a ordinarice, o compadrio, enfim, uma amálgama de situações que mandaram para a fossa o futebol português. Via o Porto como a equipa ideal dos Maus, nos desenhos animados do Tsubasa, aqueles que não olham a meios para atingir os fins. Nunca me hei de esquecer do melhor exemplo da tacanhez humana, quando num jogo, ao sair de maca, Paulinho Santos, fingindo-se lesionado para ganhar tempo, piscou o olho aos seus capos colegas no banco mafioso azul e branco. Hoje esse Mal continua, foi fielmente transmitido dos mestres para os discípulos. Agridem-se jogadores com maldade atroz, faz-se anti jogo, quebram-se contra ataques desonradamente, pressionam-se fiscais de linha. Um Mal que tornou este campeonato tristíssimo. Um Mal que vai tirando a magia dos encontros nacionais e que faz com que o meu vizinho de 13 anos torça pelo Barcelona. Um Mal que trouxe o pior que existe no nosso portuguesismo de bairro. Pois dizia bem um professor que tive, “o Desporto não forma carácter, revela-o”….
Para mim, então e agora, O Bem e o Mal encontravam dentro das quatro linhas a melhor analogia. Naqueles tempos, ser do Benfica tinha deixado de ser apenas “Ser do Benfica”, mas tornara-se ser de um clube contra os pequenos, os reles, os provincianos bacocos. Um clube do Povo mas com classe e não um clube de elite. Pois o Benfica é o único exemplo de verdadeira democracia existente em Portugal. Quando o João Pinto marcou o 3º golo frente ao Sporting em Alvalade, no célebre 3-6, ao mesmo tempo gritaram golo pedreiros, monárquicos, cabeleiras, escritores, presidiários, advogados, doentes terminais, médicos, repetentes, professores, pretos, brancos, monhés, portugueses de 2ª geração, crianças, mulheres e idosos, cultos, bimbos, gajos que se julgam bimbos, bimbos que se julgam cultos, políticos, gente honesta, putas e padres. Gritaram e gritam homens e mulheres com uma paixão, na sua maioria uma amostra do país real que temos, o país que muitos não querem ver ou não sabem existir. Pessoas que constroem a História de um país mal educado, entregue aos seus traumas de guerra e a anos de acorrentamento. Pessoas da tribo do futebol que infelizmente precisam deste circo moderno. Precisam que o Nuno Gomes se torne Nuno Golos e os faça esquecer por momentos a sabida incerteza quanto ao dia de amanhã. Porque um golo lhes dá essa iludida esperança, porque uma vitória os transforma em heróis que nunca chegarão a ser.
E no Sábado, heróis anónimos se juntaram para um momento histórico. Uniram-se na nova Catedral, onde religião e paixão se confundem. Onde as balizas se transformam em altares, os novos bancos de plástico em confessionários. Onde os Santos dão o pontapé de saída simbólico e os Sacerdotes da bola se encarregam de levar a audiência a comungar do Golo. Nessa noite, 65 mil vozes acompanhadas por outros milhões em casa arrepiaram-se com a Festa. Um sonho imenso envolveu-nos a todos e a Luz iluminou-se. Limpa, imponente, soberba, moderna. Cascata de luzes, constelações, uma águia a cruzar os céus, lágrimas, assobios aos promíscuos que sempre se aproveitaram da “religião” para ganhar os próprios fiéis aos seus credos, fogo de artifício. Paixão e emoção. Porque a vida não se faz só de orçamentos, porque por vezes também precisamos de parar e amar perdidamente uma causa, uma mulher, um ideal, um clube. E é feliz a vida nesses momentos em que muitos amamos o mesmo. Em que muitos demonstramos o nosso fervor, nos resignamos aos Deuses da Bola e nos sentimos pequenos face ao gigante, à instituição, à História que nos ultrapassa.
No Sábado, dia 25 de Outubro de 2003, renovou-se o sonho, lançaram-se novas redes à esperança. E quando o Benfica ganha, ganhamos nós, ganha o País. As manhãs lusas tornam-se mais simpáticas, o trabalho árduo e mal pago faz-se com uma motivação renovada. Passa-se nas ruas e sorri-se ao ouvir “e o nosso Benfica?”. Pois hoje o nosso Benfica, ainda não vai bem, há apenas intenções. Dez anos já é muito tempo mas até ao dia em que a resposta ao “E o nosso Benfica?” se traduzir nas ruas ao grito de “Campeões”, corações baterão mais acelerados, argumentos irracionais serão esgrimidos nas mesas de café. Haverão mais dias como os de Sábado. A História de um clube desportivo faz-se destes dias. Dos dias em que vamos para o estádio expectantes, ansiosos, confiantes na vitória. Dos dias em que esquecemos o passado recente e acreditamos que é a partir daquele momento que tudo se reconstruirá. Dos dias em que o cachecol ao pescoço transporta os nossos traumas, os nossos receios, as nossas raivas e ódios, as nossas crenças e atitudes.
A História do Benfica e a minha, e a nossa, foram-se construindo juntas. Dias como os de Sábado são como festas de anos a que íamos quando éramos putos, não sabíamos como iam ser mas tínhamos quase a certeza que alguma coisa maravilhosa podia acontecer. No Sábado a Magia aconteceu. Acredito que há mais Sábados e Domingos assim. Obrigado também por isso Glorioso Sport Lisboa e Benfica. G.F.C.
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Guardo ainda religiosamente o cartão de sócio isento menor. Com a maquete do antigo Estádio da Luz no verso e a fotografia na fronte tirada há uns 14 ou 15 anos. E há 14 ou 15 anos, aquele que agora revejo na impressão, fazia colecções de calendários e cromos com todos jogadores do clube da águia.
Não ia ao Estádio para ver o jogo em si mas para ver, espantado, a forma como os velhotes dos lugares cativos se exaltavam e chamavam nomes ao árbitro. Foi no Estádio da Luz que ouvi pela primeira vez “filho de uma granda puta”. Não sabia ainda o que eram as putas, mas que os velhos gostavam de chama-las gostavam. Também tinha a ligeira impressão de que aqueles senhores não gostavam muito do mais gordo que vestia de preto. Ria-me de toda aquela energia dos mais velhos mas entediava-me porque, a bem da verdade, só gostava do momento em que era golo, o meu pai me pegava ao colo e todo o estádio gritava em uníssono elevando-se com as suas bandeiras rubras.. Isso era o que me dava mais satisfação, fosse no estádio frente ao Penafiel, fosse em casa, no sofá, frente ao Arsenal para a Taça dos Campeões Europeus. O ritual de gritar golo, ser levantado e abraçado pelo meu pai, ouvir a minha mãe gritar assustada, ficar estupidamente feliz a gritar “olé olá”, são momentos únicos que o Benfica me proporcionou.
Esses momentos não se cingiam a casa ou à Catedral. Na escola tornava-me no Vítor Paneira quando centrava a bola para a Cláudia, que era o melhor jogador/a da turma. Quando marcava um golo vestia a pele de Rui Águas, quando o Jepas mandava um “bajardo” a 50 metros da baliza, transformava-o no Isaías.
Houve também desilusões, por exemplo na final europeia em que os jogadores do Benfica perdiam constantemente as chuteiras ou noutra época em que o Rui Águas se mudou para o F.C.P. e eu queimei, às escondidas, todos os cromos que tinha dele. Foi a minha vingança pessoal e desde então que passei a odiar o Porto e os seus esquemas. Influenciado pelo meu pai claro, esse ódio a Pinto da Costa, Reinaldo Teles, Guarda Abel, Paulinho Santos e o resto da Inteligenzia foi crescendo. Não se tratava de o ódio a um clube mas um sentimento de revolta contra as insinuações, a falta de fairplay, os jogos ganhos na secretaria, as falsas suspeições, a ironia a roçar a ordinarice, o compadrio, enfim, uma amálgama de situações que mandaram para a fossa o futebol português. Via o Porto como a equipa ideal dos Maus, nos desenhos animados do Tsubasa, aqueles que não olham a meios para atingir os fins. Nunca me hei de esquecer do melhor exemplo da tacanhez humana, quando num jogo, ao sair de maca, Paulinho Santos, fingindo-se lesionado para ganhar tempo, piscou o olho aos seus capos colegas no banco mafioso azul e branco. Hoje esse Mal continua, foi fielmente transmitido dos mestres para os discípulos. Agridem-se jogadores com maldade atroz, faz-se anti jogo, quebram-se contra ataques desonradamente, pressionam-se fiscais de linha. Um Mal que tornou este campeonato tristíssimo. Um Mal que vai tirando a magia dos encontros nacionais e que faz com que o meu vizinho de 13 anos torça pelo Barcelona. Um Mal que trouxe o pior que existe no nosso portuguesismo de bairro. Pois dizia bem um professor que tive, “o Desporto não forma carácter, revela-o”….
Para mim, então e agora, O Bem e o Mal encontravam dentro das quatro linhas a melhor analogia. Naqueles tempos, ser do Benfica tinha deixado de ser apenas “Ser do Benfica”, mas tornara-se ser de um clube contra os pequenos, os reles, os provincianos bacocos. Um clube do Povo mas com classe e não um clube de elite. Pois o Benfica é o único exemplo de verdadeira democracia existente em Portugal. Quando o João Pinto marcou o 3º golo frente ao Sporting em Alvalade, no célebre 3-6, ao mesmo tempo gritaram golo pedreiros, monárquicos, cabeleiras, escritores, presidiários, advogados, doentes terminais, médicos, repetentes, professores, pretos, brancos, monhés, portugueses de 2ª geração, crianças, mulheres e idosos, cultos, bimbos, gajos que se julgam bimbos, bimbos que se julgam cultos, políticos, gente honesta, putas e padres. Gritaram e gritam homens e mulheres com uma paixão, na sua maioria uma amostra do país real que temos, o país que muitos não querem ver ou não sabem existir. Pessoas que constroem a História de um país mal educado, entregue aos seus traumas de guerra e a anos de acorrentamento. Pessoas da tribo do futebol que infelizmente precisam deste circo moderno. Precisam que o Nuno Gomes se torne Nuno Golos e os faça esquecer por momentos a sabida incerteza quanto ao dia de amanhã. Porque um golo lhes dá essa iludida esperança, porque uma vitória os transforma em heróis que nunca chegarão a ser.
E no Sábado, heróis anónimos se juntaram para um momento histórico. Uniram-se na nova Catedral, onde religião e paixão se confundem. Onde as balizas se transformam em altares, os novos bancos de plástico em confessionários. Onde os Santos dão o pontapé de saída simbólico e os Sacerdotes da bola se encarregam de levar a audiência a comungar do Golo. Nessa noite, 65 mil vozes acompanhadas por outros milhões em casa arrepiaram-se com a Festa. Um sonho imenso envolveu-nos a todos e a Luz iluminou-se. Limpa, imponente, soberba, moderna. Cascata de luzes, constelações, uma águia a cruzar os céus, lágrimas, assobios aos promíscuos que sempre se aproveitaram da “religião” para ganhar os próprios fiéis aos seus credos, fogo de artifício. Paixão e emoção. Porque a vida não se faz só de orçamentos, porque por vezes também precisamos de parar e amar perdidamente uma causa, uma mulher, um ideal, um clube. E é feliz a vida nesses momentos em que muitos amamos o mesmo. Em que muitos demonstramos o nosso fervor, nos resignamos aos Deuses da Bola e nos sentimos pequenos face ao gigante, à instituição, à História que nos ultrapassa.
No Sábado, dia 25 de Outubro de 2003, renovou-se o sonho, lançaram-se novas redes à esperança. E quando o Benfica ganha, ganhamos nós, ganha o País. As manhãs lusas tornam-se mais simpáticas, o trabalho árduo e mal pago faz-se com uma motivação renovada. Passa-se nas ruas e sorri-se ao ouvir “e o nosso Benfica?”. Pois hoje o nosso Benfica, ainda não vai bem, há apenas intenções. Dez anos já é muito tempo mas até ao dia em que a resposta ao “E o nosso Benfica?” se traduzir nas ruas ao grito de “Campeões”, corações baterão mais acelerados, argumentos irracionais serão esgrimidos nas mesas de café. Haverão mais dias como os de Sábado. A História de um clube desportivo faz-se destes dias. Dos dias em que vamos para o estádio expectantes, ansiosos, confiantes na vitória. Dos dias em que esquecemos o passado recente e acreditamos que é a partir daquele momento que tudo se reconstruirá. Dos dias em que o cachecol ao pescoço transporta os nossos traumas, os nossos receios, as nossas raivas e ódios, as nossas crenças e atitudes.
A História do Benfica e a minha, e a nossa, foram-se construindo juntas. Dias como os de Sábado são como festas de anos a que íamos quando éramos putos, não sabíamos como iam ser mas tínhamos quase a certeza que alguma coisa maravilhosa podia acontecer. No Sábado a Magia aconteceu. Acredito que há mais Sábados e Domingos assim. Obrigado também por isso Glorioso Sport Lisboa e Benfica. G.F.C.
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domingo, outubro 12, 2003
Ofereço-vos, putos do meu tempo.
Depois de muita pesquisa, em holandês e em japonês, encontrei estes fragmentos de um passado muito saboroso. Com todos os que foram crianças, naqueles tempos, os reparto.
"agora escolham"...
G.F.C.
"agora escolham"...
G.F.C.
sábado, outubro 11, 2003
Talvez o último romântico...
A RTP transmitiu ontem um resumo do Festival Galp Energia, o último concerto no Estádio de Alvalade. Só mesmo a música portuguesa de qualidade para me levar a esse estádio que jurei, aos 13 anos entre amigos, nunca lá por os pés. Clubismos bacocos à parte, a verdade é que aquilo já na era bem um estádio e hoje sempre me arrependerei de não ter assistido à maior vitória do Benfica desde que existo, o mítico 6-3.
Do concerto em si, recordo a companhia, as músicas de Sérgio Godinho cantadas de uma ponta à outra, a boa disposição da Seita dos Cabeças no Ar, o milionésimo concerto de Xutos e Pontapés, as danças ao som dos novos valores, a demagogia em palco de Pedro Abrunhosa, um David Fonseca que não é definitivamente para se ouvir ao vivo (a não ser que sejamos do sexo feminino e tenhamos 15 anos). Mas o dia, ou melhor, a noite trouxe um dos espectáculos mais mágicos que já assisti ao vivo nos últimos tempos. Um Senhor da M.P.B., Caetano Veloso. A RTP apenas transmitiu duas das suas canções. Pouco, mas valeu por todo o resumo.
Temo não saber escrever o que senti ao ouvir todas as canções hipnotizantes daquele homem de cabelo já grisalho, sozinho, apenas iluminado por uma luz branca, com a sua voz e o dedilhar de um único violão, o seu. Uma voz capaz de tocar almas, especialmente por causa da beleza e charme da sua simplicidade. Nesta noite de hoje, que revejo outra e outra vez um dos melhores DVDs de música que tenho e que fiz questão de ser a minha primeira compra, "Noites do Norte", volto àquela noite. Mas não volto só àquela noite. Viajo pelo Carnaval da Bahia, pela Lisboa que amanhece, pelos sons quentes de raiz africana, pelas areias imaginárias em praias desenhadas à nossa medida e onde encontramos aqueles que sempre amamos ou sonhamos. Cruzo, num ápice, as 4 estações e sinto-me sozinho e feliz por falar uma língua que é sem dúvida a mais bela inventada pelo Homem. Mas para ouvir Caetano nem precisamos de perceber Português. A sua voz e guitarra transcendem a Babilónia e soltam sorrisos, libertam a nossa pura estupefacção humana. Talvez seja ele, um dos “últimos românticos" que nos escreve Lulu Santos…Obrigado Caetano. G.F.C.
«Faltava abandonar a velha escola
Tomar o mundo feito Coca-Cola
Fazer da minha vida
Sempre o meu passeio público
E ao mesmo tempo fazer dele
O meu caminho só, único
Talvez eu seja o último romântico
Dos litorais desse Oceano Atlântico
Só falta reunir a Zona Norte à Zona Sul
Iluminar a vida
Já que a morte cai do azul
Só falta te querer
Te ganhar e te perder
Falta eu acordar
Ser gente grande pra poder chorar
Me dá um beijo, então
Aperta a minha mão
Tolice é viver a vida assim
Sem aventura
Deixa ser pelo coração
Se é loucura, então melhor não ter razão»
(Lulu Santos - Antônio Cícero - S. Souza)
No final daqueles dias em que falei muito e ouvi menos do que gostaria arrependo-me sempre. De todas as vezes que escrevo, arrependo-me ainda mais e sempre. È durante esse arrependimento que me surgem as palavras sensatas de Calvin Coolidge: «É melhor permanecer em silêncio e pensarem que somos parvos, que abrirmos a boca e acabarmos com todas as dúvidas».
G.F.C.
G.F.C.
doi-me tudo, doi-me o joelho, ai que fadiga o que é que eu faço?
Realmente estou muito cansado, trabalhámos que nem mulas, estamos cheios de maleitas. E o pior é que descubro que gostamos disso, que nos gabamos disso, dos nossos males, por mais ínfimos que sejam. Com tanta “fita”, pergunto-me porque será que nós homens, nos vangloriamos das nossas cicatrizes de guerra e hiperbolizamos qualquer pequena dor como se fosse uma tortura estalinista ou uma chaga dolorosa de Cristo?
G.F.C.
G.F.C.
«Quero ficar sempre estudante»
Acabo de acordar de três semanas extenuantes. Sento-me nesta cadeira para escrever essencialmente sobre a revolta de querer ser para sempre estudante. Para falar sobretudo do que senti nestes dias que acabam da melhor maneira: na gratificação de um cansaço puramente físico. Foram dias de praxes, de jogos, de comunhões, de adaptações, de trocas, de muitas gargalhadas. Foram dias de festa e de fraternidade que vai faltando nas faculdades desta capital imensa mas fechada, que se isola em cada um dos seus estudantes. Hoje, que acordo cansado mas feliz, escrevo sobre união. Hoje, com uma canela de nódoas negras, uma escoliose a rir-se de mim e agradecer-me por mais uns dias de más posturas e desengonçados esforços, os olhos mal abertos como se estivesse constantemente a acordar mesmo sem nunca adormecer, uma voz que nunca chegaria ao Tivoli, os pés com necessidade de 5 tipos diferentes de massagem oriental, escrevo sobre o espírito académico.
Recuo à faculdade, aos preparativos, ao “antes de”. Revejo os guias do caloiro num monitor à espera de se tornarem matéria. Às discussões empolgadas sobre a praxe, ao golo da vitória, o 6 a 5 que eu e o Roque marcámos, tornando-nos nos primeiros portugueses campeões intergalácticos de matrecos. Retrocedo a toda a preparação da recepção ao caloiro, que abraça pela primeira vez o Ensino Superior.
E o depois, o primeiro dia (mais um) do resto da vida deles. As matrículas, os seus primeiros olhares que viajaram por nós e pelos edifícios estranhos e que daqui a 6 meses já serão parte do seu quotidiano, seu segundo lar, sua casa, a da sua família. Os seus olhos que espelhavam medos, expectativas, dúvidas, muitas incertezas, poucas garantias. No momento em que entraram na faculdade e a sua vida, que tantas voltas dá, mudou, num segundo. E assim mudou o seu mundo. Um mundo que começou com aula fantasma de um professor que sentimos um dos nossos, diria mesmo um colega; um mundo que se iniciou com músicas repetidas até à exaustão, gincanas, orgasmos fingidos, figuras tristes nas ruas alfacinhas, aleluias libertadoras, tribunais com “tareões de pila” e por fim baptismos com as águas límpidas do lago académico.
Estamos, os que preparámos, cansados, é verdade, mas o nosso esforço por uma maior unidade entre todos, pela criação de um bom ambiente académico, importantíssimo para um bom trabalho, para um estudo feliz e com sucesso, foi recompensado. Isso é feito simplesmente quando ouvimos e vemos a forma como os próprios caloiros agradecem, dão eles o exemplo de boa disposição, de incentivo e inovação. Quando sorriem e já se conhecem minimamente entre si. Estamos cansados porque largámos a refrescante t-shirt e o conforto dos nossos ténis para nos trajarmos a preto em plenos dias de calor, calçando sapatos amigos da bola e do calo. Aturámos numa só noite de festa, uns 700 bêbados, limpamos milhares de copos de cerveja, varremos vários metros quadrados de todo o tipo de lixo. Exaustos, com lucro mais que monetário, um lucro de satisfação.
Tudo isto num ritmo arrebatador de 4 dias intensos em que veteranos e caloiros estão por descobrir quem se divertiu mais. Em que veteranos voltaram a ser por momentos caloiros como todos já fomos, pelo menos em alguma altura das nossas vidas. Já todos tivemos perdidos no meio de uma multidão de estranhos cuja a única certeza é que a maioria deles viverá connosco pelo menos 5 anos da nossa vida. Alias, essa minoria que o destino recolherá do aglomerado de caras novas será mesmo parte substancial da nossa vida. Crescerá connosco; ensinar-nos-á; rir-se à das nossas piadas; estará connosco a dançar na primeira bebedeira; confidenciará sobre íntimas afinidades; será o primeiro a saber que tirámos a carta; copiará por nós no exame do cadeirão lixado; estará 4 dias seguidos de plantão a fazer trabalhos de grupo onde de trabalho só se podem contar as últimas 12 horas antes da entrega; comerá na cantina o mesmo bitoque desenxabido que nós; passará bilhetes satíricos sobre os professores em pleno anfiteatro; gritará connosco até à exaustão os gritos académicos; cantará arrepiado, ao trinar de uma guitarra, uma serenata; erguerá copos de sangria nos ares perfumados por tabacos e brindará a tudo e a todos, aos muitos e pequenos nadas, à vida e aos seus amores de estudante, aos tempos dos verdes anos em que ainda sorrimos sem o travo de amargura nos corações e ainda nas vozes trazemos o doce sabor do sonho de ainda podermos ser tudo o que quisermos.
Essa pequena minoria, o nosso grupo de colegas, de amigos, quererá ser para sempre estudante e eternizar a tal ilusão. Quererá que o tempo estagne e que o amanhã incerto (a altura em que estaremos por nossa conta, o momento em que as nossas capas negras se definitivamente arrumarem, os trajes deixarem de servir, os corredores que percorremos todos os dias desaparecerem, as vozes de fundo familiares do bar se calarem) seja o resultado das relações e pontes que se foram construindo ao longo destes anos. Porque esses companheiros e amigos perceberão que, como acabou de cantar Caetano Veloso no primeiro canal, «embora o tempo não pare, no entanto nunca envelhece.». G.F.C.
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Recuo à faculdade, aos preparativos, ao “antes de”. Revejo os guias do caloiro num monitor à espera de se tornarem matéria. Às discussões empolgadas sobre a praxe, ao golo da vitória, o 6 a 5 que eu e o Roque marcámos, tornando-nos nos primeiros portugueses campeões intergalácticos de matrecos. Retrocedo a toda a preparação da recepção ao caloiro, que abraça pela primeira vez o Ensino Superior.
E o depois, o primeiro dia (mais um) do resto da vida deles. As matrículas, os seus primeiros olhares que viajaram por nós e pelos edifícios estranhos e que daqui a 6 meses já serão parte do seu quotidiano, seu segundo lar, sua casa, a da sua família. Os seus olhos que espelhavam medos, expectativas, dúvidas, muitas incertezas, poucas garantias. No momento em que entraram na faculdade e a sua vida, que tantas voltas dá, mudou, num segundo. E assim mudou o seu mundo. Um mundo que começou com aula fantasma de um professor que sentimos um dos nossos, diria mesmo um colega; um mundo que se iniciou com músicas repetidas até à exaustão, gincanas, orgasmos fingidos, figuras tristes nas ruas alfacinhas, aleluias libertadoras, tribunais com “tareões de pila” e por fim baptismos com as águas límpidas do lago académico.
Estamos, os que preparámos, cansados, é verdade, mas o nosso esforço por uma maior unidade entre todos, pela criação de um bom ambiente académico, importantíssimo para um bom trabalho, para um estudo feliz e com sucesso, foi recompensado. Isso é feito simplesmente quando ouvimos e vemos a forma como os próprios caloiros agradecem, dão eles o exemplo de boa disposição, de incentivo e inovação. Quando sorriem e já se conhecem minimamente entre si. Estamos cansados porque largámos a refrescante t-shirt e o conforto dos nossos ténis para nos trajarmos a preto em plenos dias de calor, calçando sapatos amigos da bola e do calo. Aturámos numa só noite de festa, uns 700 bêbados, limpamos milhares de copos de cerveja, varremos vários metros quadrados de todo o tipo de lixo. Exaustos, com lucro mais que monetário, um lucro de satisfação.
Tudo isto num ritmo arrebatador de 4 dias intensos em que veteranos e caloiros estão por descobrir quem se divertiu mais. Em que veteranos voltaram a ser por momentos caloiros como todos já fomos, pelo menos em alguma altura das nossas vidas. Já todos tivemos perdidos no meio de uma multidão de estranhos cuja a única certeza é que a maioria deles viverá connosco pelo menos 5 anos da nossa vida. Alias, essa minoria que o destino recolherá do aglomerado de caras novas será mesmo parte substancial da nossa vida. Crescerá connosco; ensinar-nos-á; rir-se à das nossas piadas; estará connosco a dançar na primeira bebedeira; confidenciará sobre íntimas afinidades; será o primeiro a saber que tirámos a carta; copiará por nós no exame do cadeirão lixado; estará 4 dias seguidos de plantão a fazer trabalhos de grupo onde de trabalho só se podem contar as últimas 12 horas antes da entrega; comerá na cantina o mesmo bitoque desenxabido que nós; passará bilhetes satíricos sobre os professores em pleno anfiteatro; gritará connosco até à exaustão os gritos académicos; cantará arrepiado, ao trinar de uma guitarra, uma serenata; erguerá copos de sangria nos ares perfumados por tabacos e brindará a tudo e a todos, aos muitos e pequenos nadas, à vida e aos seus amores de estudante, aos tempos dos verdes anos em que ainda sorrimos sem o travo de amargura nos corações e ainda nas vozes trazemos o doce sabor do sonho de ainda podermos ser tudo o que quisermos.
Essa pequena minoria, o nosso grupo de colegas, de amigos, quererá ser para sempre estudante e eternizar a tal ilusão. Quererá que o tempo estagne e que o amanhã incerto (a altura em que estaremos por nossa conta, o momento em que as nossas capas negras se definitivamente arrumarem, os trajes deixarem de servir, os corredores que percorremos todos os dias desaparecerem, as vozes de fundo familiares do bar se calarem) seja o resultado das relações e pontes que se foram construindo ao longo destes anos. Porque esses companheiros e amigos perceberão que, como acabou de cantar Caetano Veloso no primeiro canal, «embora o tempo não pare, no entanto nunca envelhece.». G.F.C.
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quinta-feira, setembro 25, 2003
também nos fazem perguntas, os pcs.
…Há pouco tentava escrever um post. Ia a meio mas desisti de o publicar. Talvez o volte a pensar noutra altura. Liguei a televisão, vi um filme. Voltei depois despreocupadamente ao computador. Conversas trocadas, desliguei o monitor para ouvir música em paz. Voltei ao oráculo. Talvez Picasso não tivesse completamente certo quando disse que os computadores eram as máquinas mais inúteis inventadas pelo homem uma vez que apenas nos davam respostas. Hoje pensei que o melhor dos computadores é podermo-nos entregar a eles, criarmos empatias e intimidades e depois, de um momento para o outro, trocá-los, abandoná-los, sem ter de encontrar explicações, sem sofrermos com a sua ou a nossa partida. É talvez o único poder das Máquinas em relação às Pessoas. Até amanhã pc, hoje, como sempre não vou precisar de pensar em ti. G.F.C.
domingo, setembro 14, 2003
O meu tempo
Há uns largos anos a minha Professora da primária ensinou-me que o ponteiro maior indicava os minutos e o menor as horas. Também havia um, mais fininho, que indicava os segundos e rodava mais rapidamente que os outros. Então o tempo começou para mim a exercer um fascínio e a existir. O meu colega de carteira, o Jepas, tinha naquela altura um “flik flak” e encontrávamo-nos volta e meia a ver as horas. Era um relógio soberbo pensava eu. Nesse tempo em que gostamos do tempo, passava tudo devagar. Sabíamos que as aulas acabavam às 18h30, fazíamos a contagem decrescente para o toque mas não havia nenhuma vontade de ir embora. A campainha tocava porque tinha de tocar aquela hora. Tínhamos relógio mas os dias começavam quando nos iam acordar para levar ao colégio, almoçávamos quando nos chamavam, deitávamo-nos quando acabava o Roque Santeiro. Lembro-me da primeira directa que fiz, com os meus pais e um grupo dos seus amigos, tinha 8 ou 9 anos. Perguntava de 15 em 15 minutos “Já é directa? Já é directa?”Queria insistentemente que o tempo passasse. Fazia nesses tempos contas, tentava ver quantos minutos faltavam para o ano 2000, quantas horas faltariam até fazer 16 anos, quantos segundos até ser um “grande” com 18. Hoje gostava que esse ponteiro mais fininho rodasse mais devagarinho. Hoje sinto-me crescer e ainda não tive tempo para descobrir se gosto.
No 6º ano fui a Ceuta e os meus pais compraram-me o meu primeiro relógio digital. Um CASIO, com luzinha amarela ao canto. Já podia ver as horas de noite, já podia descobrir a que velocidade corria os 100 metros. Aprendi então que havia ainda unidades mais pequenas que os segundos. Estraguei a luz, emperrei o cronómetro mas o relógio durou-me 4 anos. Está hoje abandonado, sem pilha, numa gaveta de memórias. Depois de um G-shock acebolado desisti de usar relógio.
Faz hoje um ano que voltei a adornar o pulso. Um swatch. Está constantemente a atrasar-se. Devo dizer que gosto. Não me dita as suas leis e engana os que me querem responsabilizado, servo do tempo. Não é uma “algema” como disse uma vez em entrevista o pai do primeiro satélite português. E foi depois de ouvir essa entrevista de um Físico “humano” e de ler Alan Lightman, que me juntei ao mundo dos que não se fanatizam pelo tempo maquinal, físico, mecânico. Foi então que percebi a existência de dois mundos mais antagónicos que a Esquerda ou Direita, mais subtis que o Benfiquismo ou do Sportinguismo. Mais conflituosos que ser crente ou ateu.
Alguns de nós vivemos num mundo onde o tempo é rígido, escrupuloso, calculador. Muitos de vocês levantam-se todos os dias às 7h30 da manhã, dizem olá ao vizinho às 8h, bebem um café às 9horas, vão à casa de banho às 11h, almoçam às 13h30. Jantam às 19h30, assistem ao telejornal das 20h, fazem amor entre as 23h e as 23h15. Poe o “on” do despertador às 23h30, adormecem às 23h32. Trabalham 40 horas por semana, fazem jogging à segunda, quarta e sexta, compram o jornal todos os domingos. Fustigam-se quando chegam atrasados 3 minutos a algum compromisso.
Eu tal como também muitos de vocês preferimos o ritmo dos nossos corações, ouvimos os sinos das Igrejas pensando na música que toca e não que horas serão nesse preciso momento. Comemos quando temos fome, acaba-nos o dia quando adormecemos, fazemos amor quando desejamos. Sabemos que o tempo é necessário à organização e disciplina, para que sejam entregues projectos no prazo certo. Para que a rotina necessária exista. Mas mais que isso, para nós o tempo apenas são impulsos, pulsões. Para nós o tempo carregado de stress avança ainda com mais dificuldade. Para nós quando o nosso clube perde a 10 minutos do fim, o tempo passa num ápice, quando ganha apenas por um e é pressionado, o tempo torna-se lento, agoniante. Para nós, quando um amigo teve um acidente e está no hospital e não sabemos notícias, quando esperamos o nascimento de um filho, um minuto veste-se de século. Para nós quando o Benfica marca um golo, quando nos elogiam, quando festejamos, quando nos sentimos completos nos braços de um amor, o tempo forma-se flecha. Para nós o tempo não nos dita as leias biológicas. A nossa tristeza não se faz de substâncias transportadas ao micro - segundo para cerebelo. A nossa existência, faz-se, sabendo essas regras mecânicas, mas iludindo-as, esquecendo-as, transformando-as em magia solta. Para nós as roldanas e alavancas químicas, físicas, biológicas, existem mas tornam-se coloridas, partem-se, desmontam-se, aceleram sem explicação. Chiam, explodem, derretem, encravam, fazem com que o mesmo beijo possa ser ao mesmo tempo eternamente efémero.
Hoje volto a por um relógio, são 16h32 minutos, na realidade 17h44 em Lisboa, 16h44 em São Miguel, menos umas quantas horas no Pantanal, mais umas quantas em Dili. Saio para compromissos à hora marcada e perguntando de quando a quando, resituando-me no outro mundo instituído, que horas são ? G.F.C.
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No 6º ano fui a Ceuta e os meus pais compraram-me o meu primeiro relógio digital. Um CASIO, com luzinha amarela ao canto. Já podia ver as horas de noite, já podia descobrir a que velocidade corria os 100 metros. Aprendi então que havia ainda unidades mais pequenas que os segundos. Estraguei a luz, emperrei o cronómetro mas o relógio durou-me 4 anos. Está hoje abandonado, sem pilha, numa gaveta de memórias. Depois de um G-shock acebolado desisti de usar relógio.
Faz hoje um ano que voltei a adornar o pulso. Um swatch. Está constantemente a atrasar-se. Devo dizer que gosto. Não me dita as suas leis e engana os que me querem responsabilizado, servo do tempo. Não é uma “algema” como disse uma vez em entrevista o pai do primeiro satélite português. E foi depois de ouvir essa entrevista de um Físico “humano” e de ler Alan Lightman, que me juntei ao mundo dos que não se fanatizam pelo tempo maquinal, físico, mecânico. Foi então que percebi a existência de dois mundos mais antagónicos que a Esquerda ou Direita, mais subtis que o Benfiquismo ou do Sportinguismo. Mais conflituosos que ser crente ou ateu.
Alguns de nós vivemos num mundo onde o tempo é rígido, escrupuloso, calculador. Muitos de vocês levantam-se todos os dias às 7h30 da manhã, dizem olá ao vizinho às 8h, bebem um café às 9horas, vão à casa de banho às 11h, almoçam às 13h30. Jantam às 19h30, assistem ao telejornal das 20h, fazem amor entre as 23h e as 23h15. Poe o “on” do despertador às 23h30, adormecem às 23h32. Trabalham 40 horas por semana, fazem jogging à segunda, quarta e sexta, compram o jornal todos os domingos. Fustigam-se quando chegam atrasados 3 minutos a algum compromisso.
Eu tal como também muitos de vocês preferimos o ritmo dos nossos corações, ouvimos os sinos das Igrejas pensando na música que toca e não que horas serão nesse preciso momento. Comemos quando temos fome, acaba-nos o dia quando adormecemos, fazemos amor quando desejamos. Sabemos que o tempo é necessário à organização e disciplina, para que sejam entregues projectos no prazo certo. Para que a rotina necessária exista. Mas mais que isso, para nós o tempo apenas são impulsos, pulsões. Para nós o tempo carregado de stress avança ainda com mais dificuldade. Para nós quando o nosso clube perde a 10 minutos do fim, o tempo passa num ápice, quando ganha apenas por um e é pressionado, o tempo torna-se lento, agoniante. Para nós, quando um amigo teve um acidente e está no hospital e não sabemos notícias, quando esperamos o nascimento de um filho, um minuto veste-se de século. Para nós quando o Benfica marca um golo, quando nos elogiam, quando festejamos, quando nos sentimos completos nos braços de um amor, o tempo forma-se flecha. Para nós o tempo não nos dita as leias biológicas. A nossa tristeza não se faz de substâncias transportadas ao micro - segundo para cerebelo. A nossa existência, faz-se, sabendo essas regras mecânicas, mas iludindo-as, esquecendo-as, transformando-as em magia solta. Para nós as roldanas e alavancas químicas, físicas, biológicas, existem mas tornam-se coloridas, partem-se, desmontam-se, aceleram sem explicação. Chiam, explodem, derretem, encravam, fazem com que o mesmo beijo possa ser ao mesmo tempo eternamente efémero.
Hoje volto a por um relógio, são 16h32 minutos, na realidade 17h44 em Lisboa, 16h44 em São Miguel, menos umas quantas horas no Pantanal, mais umas quantas em Dili. Saio para compromissos à hora marcada e perguntando de quando a quando, resituando-me no outro mundo instituído, que horas são ? G.F.C.
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sábado, setembro 13, 2003
"O jogo das perguntas" de Peter Handke
«Velho: (…)Será que já superaram o espanto da primeira vez, e agora só contam anedotas e jogam às cartas? Não acredito. A nossa terra é conhecida por as pessoas não saberem nem anedotas nem jogos! E quanto mais velhas mais espantadas ficam. Até pasmam colectivamente, em uníssono, em coro e o nome que mais se vê nas casas é “O pasmado”, “pasmaceira”. Até o dialecto da terra é conhecido pela “fala dos pasmados”, e a nossa entoação exprime um espanto permanente. (…)
(…) Actor: Se existe hoje em mim alguma força é a do principiante. (…) Se alguma coisa eu sei desde criança, sem necessidade de professores, é esta: que não podemos ter nada neste mundo, nem tu nem ninguém. Eu sou um Zé Ninguém fanático. E venho também da terra dos que pasmam, para quem nunca nada há de ser evidente e que se deixam dominar pela saudade quando não têm nada que os faça pasmar. E a minha nostalgia vai para qualquer coisa ainda mais forte que o simples pasmo: a estupefacção sem limites.»
(…) Actor: Se existe hoje em mim alguma força é a do principiante. (…) Se alguma coisa eu sei desde criança, sem necessidade de professores, é esta: que não podemos ter nada neste mundo, nem tu nem ninguém. Eu sou um Zé Ninguém fanático. E venho também da terra dos que pasmam, para quem nunca nada há de ser evidente e que se deixam dominar pela saudade quando não têm nada que os faça pasmar. E a minha nostalgia vai para qualquer coisa ainda mais forte que o simples pasmo: a estupefacção sem limites.»
Vai bem Guilherme, vai muito bem.
Balu é uma personagem de “Livro da Selva”, de Rudyard Kipling. É um simples urso que se torna numa espécie de tutor de Mogli, um bebé humano encontrado na mata indiana e adoptado por uma alcateia. Na obra de Kipling, onde metáfora da selva, sociedade moderna, é trazida genialmente, Balu é um urso simpático, bonacheirão, encarregue da educação de Mogli. Encarregue da sua sobrevivência no meio dos selvagens animais.
Está a fazer um ano que vesti a pele de Balu, na Alcateia do agrupamento de escuteiros a que pertenço. Encontrei não um bebé abandonado no meio de um matagal mas sim 20 crianças de quem fui animador, confidente, educador, amigo, pai, mãe, irmão mais velho, guarda-redes, trocador de calças borradas, companheiro de brincadeiras. A minha tarefa, a de difundir o escutismo nestas crianças. Tentar mostrar-lhes um dos muitos caminhos para a felicidade, demonstrar-lhes esta forma especial de se ser pessoa. A expectativa do pesado fardo da responsabilidade e a inabilidade de dar um exemplo de uma coisa que ainda não sei ser, adulto, eram os meus principais medos.
Contudo, darem-me as peles deste urso revelou-se uma experiência única e, sem qualquer incerteza, gratificante. Fins-de-semana em que dei o meu testemunho de vida, acampamentos em que retransmiti o que os mais velhos me haviam ensinado, férias que perdi com amigos para poder ter um papel principal numa das coisas mais mágicas da vida de cada um e nós outros. A nossa infância. A que ainda não é assim tão velha e a quem fui buscar, força, imaginação, lembranças cristalinas, sorrisos inocentes para poder ser apenas um deles (um pouco mais alto, com mais pelos e que não pode monstrar que também se porta mal, também diz asneiras, também as comete). Como todos cometemos.
Descobri então que o André gosta da Sara, que é maria rapaz e já gostou do João, que já deu uma vez um beijinho na boca de uma menina mas não “gostou por causa que tinha cuspo”, que é amigo do Diogo, calmo e sereno, que não gosta de ninguém e que se chateia também com o mongo do Eduardo, que foi o meu super guru ajudante e que também irrita a Sofia que tem uns óculos de massa castiços e salvou o violino, prima do Michael que inventou uma música para quando alguém diz uma calinada e todos “o barram”, que se porta ainda pior que o Bernardo, saído de uma Britcom, loiro, “cromo 101 numa caderneta de 100” de quem a Barriguitas, “panhonha” tem um fraquinho. Perdoe-me a exposição de algumas confidências mas parto do princípio que nenhum dos lesados lê blogs.
Foi um ano a descobri-los e a descobrir-me. A pensar no tempo em que não pensava. Em que não precisava de blogs. Bastava-me uns quantos playmobils. Foi um ano em que percebi realmente porque é que um pai ou uma mãe, embora ame um filho, sinta de quando a quando a vontade de lhe dar umas traulitadas. E quando a paciência se soltava saia o sopapo acompanhado de um sermão. Talvez não tenha surtido efeito, talvez nunca chegarei a ver resultados práticos do trabalho que realizei com eles. Talvez nunca saberei de que forma influenciei as suas vidas, se se lembrarão de mim, das gargalhadas que trocámos, do medo que tiveram quando o ladrão de violinos lhes roubou o violino de brincar transformado em Stradivarius. Talvez se esquecerão de mim e dos outros animadores e chefes meus colegas que lhes ensinaram os nós, a utilizar um machado para fazer estacas, um serrão sem se cortarem, a montar um abrigo ou uma mesa para todos, a ser leal, a honrar a palavra, a ser disciplinado, a ser útil, a ser único, a ser alguém. Ou talvez este sentir a vida e esta felicidade esteja subtilmente a formar-se e a faze-los, aos poucos, amar uma vida no meio da Natureza. Amar as canções despidas de adornos, cantadas à volta de um fogo sereno, sob um céu estrelado que serve de rumo à descoberta de um passado feliz que um dia também eles terão.
E, sem esperar, recebi uma recompensa melhor do que poderia imaginar. Deu-ma o Guilherme, de 8 anos no acampamento de Verão de finais de Agosto. Apenas consegui responder com um sorriso emocionado. As suas palavras resumiriam todo este post e são elas um momento de beleza que valeu pelo ano todo. Estava sentado, a cuidar das feridas, cansado, a pensar sobre o facto de estar ali, do ano estar a acabar, da alegria de ter estado com eles, quando o Guilherme se sentou junto a mim, tentou por o braço à volta dos meus ombros mais altos que ele e, meio pendurado olhou tal como eu o horizonte perguntando-me com a sua voz roufenha e castiça. - «Então amigo urso, como é que vai essa vida?» G.F.C.
Está a fazer um ano que vesti a pele de Balu, na Alcateia do agrupamento de escuteiros a que pertenço. Encontrei não um bebé abandonado no meio de um matagal mas sim 20 crianças de quem fui animador, confidente, educador, amigo, pai, mãe, irmão mais velho, guarda-redes, trocador de calças borradas, companheiro de brincadeiras. A minha tarefa, a de difundir o escutismo nestas crianças. Tentar mostrar-lhes um dos muitos caminhos para a felicidade, demonstrar-lhes esta forma especial de se ser pessoa. A expectativa do pesado fardo da responsabilidade e a inabilidade de dar um exemplo de uma coisa que ainda não sei ser, adulto, eram os meus principais medos.
Contudo, darem-me as peles deste urso revelou-se uma experiência única e, sem qualquer incerteza, gratificante. Fins-de-semana em que dei o meu testemunho de vida, acampamentos em que retransmiti o que os mais velhos me haviam ensinado, férias que perdi com amigos para poder ter um papel principal numa das coisas mais mágicas da vida de cada um e nós outros. A nossa infância. A que ainda não é assim tão velha e a quem fui buscar, força, imaginação, lembranças cristalinas, sorrisos inocentes para poder ser apenas um deles (um pouco mais alto, com mais pelos e que não pode monstrar que também se porta mal, também diz asneiras, também as comete). Como todos cometemos.
Descobri então que o André gosta da Sara, que é maria rapaz e já gostou do João, que já deu uma vez um beijinho na boca de uma menina mas não “gostou por causa que tinha cuspo”, que é amigo do Diogo, calmo e sereno, que não gosta de ninguém e que se chateia também com o mongo do Eduardo, que foi o meu super guru ajudante e que também irrita a Sofia que tem uns óculos de massa castiços e salvou o violino, prima do Michael que inventou uma música para quando alguém diz uma calinada e todos “o barram”, que se porta ainda pior que o Bernardo, saído de uma Britcom, loiro, “cromo 101 numa caderneta de 100” de quem a Barriguitas, “panhonha” tem um fraquinho. Perdoe-me a exposição de algumas confidências mas parto do princípio que nenhum dos lesados lê blogs.
Foi um ano a descobri-los e a descobrir-me. A pensar no tempo em que não pensava. Em que não precisava de blogs. Bastava-me uns quantos playmobils. Foi um ano em que percebi realmente porque é que um pai ou uma mãe, embora ame um filho, sinta de quando a quando a vontade de lhe dar umas traulitadas. E quando a paciência se soltava saia o sopapo acompanhado de um sermão. Talvez não tenha surtido efeito, talvez nunca chegarei a ver resultados práticos do trabalho que realizei com eles. Talvez nunca saberei de que forma influenciei as suas vidas, se se lembrarão de mim, das gargalhadas que trocámos, do medo que tiveram quando o ladrão de violinos lhes roubou o violino de brincar transformado em Stradivarius. Talvez se esquecerão de mim e dos outros animadores e chefes meus colegas que lhes ensinaram os nós, a utilizar um machado para fazer estacas, um serrão sem se cortarem, a montar um abrigo ou uma mesa para todos, a ser leal, a honrar a palavra, a ser disciplinado, a ser útil, a ser único, a ser alguém. Ou talvez este sentir a vida e esta felicidade esteja subtilmente a formar-se e a faze-los, aos poucos, amar uma vida no meio da Natureza. Amar as canções despidas de adornos, cantadas à volta de um fogo sereno, sob um céu estrelado que serve de rumo à descoberta de um passado feliz que um dia também eles terão.
E, sem esperar, recebi uma recompensa melhor do que poderia imaginar. Deu-ma o Guilherme, de 8 anos no acampamento de Verão de finais de Agosto. Apenas consegui responder com um sorriso emocionado. As suas palavras resumiriam todo este post e são elas um momento de beleza que valeu pelo ano todo. Estava sentado, a cuidar das feridas, cansado, a pensar sobre o facto de estar ali, do ano estar a acabar, da alegria de ter estado com eles, quando o Guilherme se sentou junto a mim, tentou por o braço à volta dos meus ombros mais altos que ele e, meio pendurado olhou tal como eu o horizonte perguntando-me com a sua voz roufenha e castiça. - «Então amigo urso, como é que vai essa vida?» G.F.C.
quinta-feira, setembro 11, 2003
falsa partida
Adio esta noite as palavras, estou com preguiça. Não quero repartir a noite e pensamentos com ninguem. Não tenho vontade. Blog, hoje não, doi-me a cabeça. Boa noite aos que me quiseram ler. Talvez esteja mais generoso amanhã, menos seco, mais basbaque.
Regressos
Passou quase um mês desde o último post. Foi tempo de recolher ideias, de encontrar atalhos, de definir projectos, remeditar em sonhos antigos. Tempo essencialmente de limpezas. Do quarto, do computador, das mochilas, dos livros, das más memórias, dos maus presságios. Tempo de fascina e de balanço. Tempo para regressar. Tempo de voltar a estar só e de juntar todo um Verão em algumas palavras. Umas quase perdidas nos recantos cognitivos, outras gravadas a tinta de esferográficas anónimas, escrevinhadas por ali e por aqui num pequeno bloco de notas. Bloco este meu amigo fiel, copista pessoal, meu fotógrafo de momentos. Antes que a nova era comece que fiquem esclarecidos então desabafos por contar. G.F.C.
terça-feira, agosto 19, 2003
da pintura nacional, um génio, um sublime basbaque.
"uma tela dá-me sempre vontade de fazer com que deixe de ser branca. Uma tela não me intimida, já o papel... não me pergunte porquê, não sei, mas o papel é diferente, ter de atacar um desenho é qualquer coisa... Sinto-me a correr um risco, acho que fico com aquela cara espantosa, igual à da toureira, pasmada, no momento em que enfrenta o touro naquele filme do Almodóvar.»
Júlio Pomar, em entrevista à Grande Reportagem, Agosto de 2003
Júlio Pomar, em entrevista à Grande Reportagem, Agosto de 2003
Erros nossos, as mesmas fortunas, Portugal ardente
Regresso a um país queimado onde as cinzas ainda não tiveram tempo de assentar. Regresso ao lugar que deixei já o rastilho da irresponsabilidade tinha sido aceso e já o tédio de um estio sem factos detonava as primeiras piromanias. Ligo o rádio do carro fronteiriço tentando ouvir o português pela primeira vez. Como se voltasse a perguntar ao vento, que não passava, notícias do meu país. A maquinaria não me calou a desgraça trouxe-me apenas a primeira frase em português (que não dos meus ) ouvida em 19 dias: “Perdi tudo”. Regresso a estas minhas gentes que se consomem, que se combustam lentamente, serenamente, sem pressas e “perdendo tudo”. Sós, como sempre somos quando, mesmo que rodeados, contemplamos as ternas chamas de 5 velas de aniversário apagadas pela inocência de uma criança. Sós quando mergulhamos no laranja rubro das tochas, cravadas na areia, depois de um beijo abençoado de alguém que nos quer. Sós como existimos quando nos diminuímos perante o hipnotismo das gigantescas labaredas, exército natural, sem preconceitos, sem hesitações, destruidor, dizimador dos nossos pequenos orgulhos humanos.
Cantam-me que é preciso morrer e nascer de novo, semear no pó e colher de novo. Mas estaremos condenados a este ressuscitar constante? O que temos sempre colhido? Sonhos que nos alimentam, talvez. Regresso a um Povo que tem colhido pouco, semeado ainda menos. A uma nação que se vai tornando deserto. A uma Terra erudida onde saudades morrem a cada minuto que nascem novas esperanças. Regresso a uma pátria onde os erros nossos se repetem, onde as fortunas são as mesmas, apenas são herdadas mais uma vez pelos ex -vindouros. Regresso a este luso lugar onde os corações são espelho dos horizontes em Oleiros, Guarda, Sines, Aljezur: ardentes. Regresso ao único lugar do mundo onde a Lua se mascara de Sol, de faces brancas cora, e por leves instantes ilumina pinhais (des)habitados por rostos engelhados pela solidão das posses. E nesses mesmos instantes uma lua que se forma candeeiro à primeira vez de outros, que, por momentos, também ardem à sua maneira e ainda não sabem o que é o gosto amargo das cinzas. Acho que regresso feliz. Regresso ao país que deixei. G.F.C.
Cantam-me que é preciso morrer e nascer de novo, semear no pó e colher de novo. Mas estaremos condenados a este ressuscitar constante? O que temos sempre colhido? Sonhos que nos alimentam, talvez. Regresso a um Povo que tem colhido pouco, semeado ainda menos. A uma nação que se vai tornando deserto. A uma Terra erudida onde saudades morrem a cada minuto que nascem novas esperanças. Regresso a uma pátria onde os erros nossos se repetem, onde as fortunas são as mesmas, apenas são herdadas mais uma vez pelos ex -vindouros. Regresso a este luso lugar onde os corações são espelho dos horizontes em Oleiros, Guarda, Sines, Aljezur: ardentes. Regresso ao único lugar do mundo onde a Lua se mascara de Sol, de faces brancas cora, e por leves instantes ilumina pinhais (des)habitados por rostos engelhados pela solidão das posses. E nesses mesmos instantes uma lua que se forma candeeiro à primeira vez de outros, que, por momentos, também ardem à sua maneira e ainda não sabem o que é o gosto amargo das cinzas. Acho que regresso feliz. Regresso ao país que deixei. G.F.C.
quinta-feira, julho 24, 2003
despeço-me com amizade
Vale a pena ver
castelos no mar alto
Vale a pena dar o salto
pra dentro do barco
rumo à maravilha
e pé ante pé desembarcar na ilha
Pássaros com cores que nunca vi
que o arco-íris queria para si
eu vi o que quis ver afinal
É tão bom uma amizade assiiiiiiiim
Ai, faz tão bem saber com quem contaaaaaaaaaaar
Eu quero ir ver quem me quer assiiiiim
É bom para mim e é bom pra quem tão bem me queeeeeer
Vale a pena ver
o mundo aqui do alto
vale a pena dar o salto
Daqui vê-se tudo
às mil maravilhas
na terra as montanhas e no mar as ilhas
Queremos ir à lua mas voltar
convém dar a curva
sem se derrapar
na avenida do luar
Todos:
É tão bom uma amizade assiiiiiiiim
Ai, faz tão bem saber com quem contaaaaaaaaaaar
Eu quero ir ver quem me quer assiiiiim
É bom para mim e é bom pra quem tão bem me queeeeeer
mal fechado para férias
Num último esforço herculiano, aqui escrevo um penúltimo post antes de partir daqui a precisamente uma 2 horas para outras terras de gentes francófonas.
Terminados os exames - findas as preocupações académicas - recalcado o mau estudo de véspera - abençoadas as miraculosas boas notas - digerido o último jantar com amigos -gargalhado o último excesso de álcool na praia - remexido e analisado o passado recente num banco de uma boleia fraterna - feita, desfeita e feita a mala com a sensação repetitiva de que falta algo: ENFIM DESCANSO, ENFIM DE FÉRIAS. (Enfim ainda igual, porquê?)
Carga pronta metida nos contentadores, adeus aos leitores que se está de partida. Não sem antes expressar a minha felicidade ao descobrir que, existem muitos "alguéns" leitores do Oráculo dos Basbaques. São apenas máscaras com nomes de servidores, é certo, mas não deixo de me sentir feliz por constatar o número de visitas e mais que isso por as haver, algumas, regulares! A essas pessoas sem rosto, o meu profundo obrigado. Mesmo que sejam apenas 3 ou 4, mesmo que não tenham uma identidade, mesmo que eu não saiba o que sentem ou que não sinta o que sabem, mesmo sendo apenas hipoteticamente uma só pessoa a utilizar vários pcs, mesmo que seja um vírus bloguista de alma pequena: valeu a pena.
Parto com a promessa a mim mesmo de tentar escrever semanalmente. Ao mesmo tempo que me pergunto porque raio hei de fazer isso também me questiono se esta não foi mais uma paixão de verão e se serei fiel a este oráculo, arrefecido o estio? Apenas Setembro trará consigo a resposta… Até lá vou tentar arranjar, meios, assunto, vontade, inspiração e tempo para escrever para mim e, consequência de mim, para aqueles que ao longo deste mês entraram neste pequeno antro de basbaques e ficaram. E simplesmente ficaram.
Não me quero demorar nem repetir portanto despeço-me.« Na próxima semana falaremos do bicho da cereja do Fundão e fiquem já de seguida com os desenhos animados porque tanto esperavam. Então, despeço-me com amizade» Saboreemos Agosto. G.F.C.
- Comentários, dúvidas, incertezas, ofertas monetárias, sermões, correcções, propostas irrecusáveis, cabalas, feedbacks, basbaquices quotidianas, tudo isso para: oracludosbasbaks@mail.pt Critica.
Terminados os exames - findas as preocupações académicas - recalcado o mau estudo de véspera - abençoadas as miraculosas boas notas - digerido o último jantar com amigos -gargalhado o último excesso de álcool na praia - remexido e analisado o passado recente num banco de uma boleia fraterna - feita, desfeita e feita a mala com a sensação repetitiva de que falta algo: ENFIM DESCANSO, ENFIM DE FÉRIAS. (Enfim ainda igual, porquê?)
Carga pronta metida nos contentadores, adeus aos leitores que se está de partida. Não sem antes expressar a minha felicidade ao descobrir que, existem muitos "alguéns" leitores do Oráculo dos Basbaques. São apenas máscaras com nomes de servidores, é certo, mas não deixo de me sentir feliz por constatar o número de visitas e mais que isso por as haver, algumas, regulares! A essas pessoas sem rosto, o meu profundo obrigado. Mesmo que sejam apenas 3 ou 4, mesmo que não tenham uma identidade, mesmo que eu não saiba o que sentem ou que não sinta o que sabem, mesmo sendo apenas hipoteticamente uma só pessoa a utilizar vários pcs, mesmo que seja um vírus bloguista de alma pequena: valeu a pena.
Parto com a promessa a mim mesmo de tentar escrever semanalmente. Ao mesmo tempo que me pergunto porque raio hei de fazer isso também me questiono se esta não foi mais uma paixão de verão e se serei fiel a este oráculo, arrefecido o estio? Apenas Setembro trará consigo a resposta… Até lá vou tentar arranjar, meios, assunto, vontade, inspiração e tempo para escrever para mim e, consequência de mim, para aqueles que ao longo deste mês entraram neste pequeno antro de basbaques e ficaram. E simplesmente ficaram.
Não me quero demorar nem repetir portanto despeço-me.« Na próxima semana falaremos do bicho da cereja do Fundão e fiquem já de seguida com os desenhos animados porque tanto esperavam. Então, despeço-me com amizade» Saboreemos Agosto. G.F.C.
- Comentários, dúvidas, incertezas, ofertas monetárias, sermões, correcções, propostas irrecusáveis, cabalas, feedbacks, basbaquices quotidianas, tudo isso para: oracludosbasbaks@mail.pt Critica.
terça-feira, julho 22, 2003
"temporada ridícula"
É demasiado revoltante estar ainda em exames em plena "temporada ridícula". O manancial de “silly facts” é impossível de inventariar. Vejamos: Campanhas por uma nova dentição para o emplastro; problemas conjugais entre Pintos e Costas em pleno horário nobre; férias dos famosos nos Tomates (que melhor local de veraneio para seres tão chatos?); "embushtes" mais que provados; fios-dental em rabos sexagenários; os mesmos fogos de sempre que teimam em não queimar os irresponsáveis; as entrevistas da tvi, na praia, onde se pergunta com extrema perspicácia "bebeu muita água hoje?"; festivais de Verão que no mesmo cardápio conseguem juntar a voz alienígena, genial de Rufus Wainwright com os mais que terrestres, usados, reutilizados e reciclados Guano Apes; trocas e baldrocas dejas vou nos meandros do futebol português (bons frangos, Ricardo Coração de Cifrão); canais de MTV nacionais que abrem com o imprevisível "Semana da Música"; orgias entre saltimbancos italianos e suecas olímpicas em plena Gimnestrada; a estreia de banhadas solarengas como Hulk e Anjos de Charlie - Potência Máxima. E eu aqui, metido em casa, de potência mínima, a tentar que o tempo corra para que depois seja a adrenalina da pressão a lançar as redes da motivação. Pronto para fazer também parte desta época estupidificante e vazia mas que dá mais sentido aos tempos em que se torna cheia e interessante. Pronto para dormir despreocupadamente, afastado deste país por um mês, acomulando saudade para voltar e reamar este que é, penso eu, o mais belo e castiço canto do Mundo.
Dizem, os que estão de férias, tentando invejar-me, que este ano a taxa de luso silicone aumentou significativamente. As discotecas passam remixes dos anos 80, lançam-se colectâneas dos primórdios do rock nacional e das mamalhudas DOCE. Como quase sempre, aderirmos às modas no exacto momento em que nos outros países de onde se importaram tendências se acaba de provar que estão obsoletas. E eu aqui, numa palidez unfashion, estudando ironicamente os processos neurofisiológicos da motivação para a oral de amanhã, dentro de algumas horas. E não vejo a hora de vestir a tanga, fazendo jus ao país que tenho. Não vejo a hora de abraçar o estrangeiro e perceber que afinal somos iguais a eles, embora tenhamos qualidades. Não vejo a hora de guardar o relógio.
Não arranjando um computadorzeco gaulês onde actualizar minhas pulsões bloguistas, resta-me desejar umas boas e relaxantes férias às 4 ou 5 pessoas que tiverem o mau hábito de me ler. A vocês, um óptimo descanso, ponderadas moratórias psicossociais, excelentes leituras, quentes paixões. Tomemos Agosto e que não fiquemos: «só aqui, esperando mais um Verão...». G.F.C
Dizem, os que estão de férias, tentando invejar-me, que este ano a taxa de luso silicone aumentou significativamente. As discotecas passam remixes dos anos 80, lançam-se colectâneas dos primórdios do rock nacional e das mamalhudas DOCE. Como quase sempre, aderirmos às modas no exacto momento em que nos outros países de onde se importaram tendências se acaba de provar que estão obsoletas. E eu aqui, numa palidez unfashion, estudando ironicamente os processos neurofisiológicos da motivação para a oral de amanhã, dentro de algumas horas. E não vejo a hora de vestir a tanga, fazendo jus ao país que tenho. Não vejo a hora de abraçar o estrangeiro e perceber que afinal somos iguais a eles, embora tenhamos qualidades. Não vejo a hora de guardar o relógio.
Não arranjando um computadorzeco gaulês onde actualizar minhas pulsões bloguistas, resta-me desejar umas boas e relaxantes férias às 4 ou 5 pessoas que tiverem o mau hábito de me ler. A vocês, um óptimo descanso, ponderadas moratórias psicossociais, excelentes leituras, quentes paixões. Tomemos Agosto e que não fiquemos: «só aqui, esperando mais um Verão...». G.F.C
domingo, julho 20, 2003
Porque blogo?
Escrevo, antes de mais para aqueles que tiveram a amabilidade de me enviar e-mails. Embora tivesse curioso em receber um feedback não tinha, sinceramente, esperanças que alguém se desse ao trabalho de o fazer da forma que como vocês o fizeram. Com claridade, simplicidade, belas palavras, simpatia e acima de tudo curiosidade em saber o porquê do Oráculo dos Basbaques e, abarcando essa dúvida, o porquê de ter feito um blog. Talvez tenha de concordar convosco que o “porque sim” não basta.
Então, faço aqui uma introspecção e tento responder dando algumas explicações que amanhã poderão ser completamente diferentes. Ou não. Como escrevi, no primeiro post, a ideia de fazer um blog surgiu-me do acaso, da conversa com um colega de faculdade, que me disse tratar-se de uma forma bastante acessível de ter uma home page. Naquelas conversas passageiras que se têm circunstancialmente, disse ainda tratar-se de um local de discussão, de troca de diálogos “estimulantes”. Cheguei a casa e quando me preparava para tentar estudar, surgiu-me a ideia de ir ver se seria assim tão fácil. Lembrei-me que já há dois anos, tinha conhecido uma amiga que me apresentou ao mundo das páginas pessoais de posts. Lia frequentemente algumas, verdadeiros diários on line onde o bom gosto, a cultura e uma forma de escrever solta e intimista me deliciaram e me fizeram descobrir novos mundos deste mundo. Deixei, com os tempos, de os frequentar, fruto das vicissitudes da vida e nesse dia, em meados de Julho, relembrando-me dessas doces leituras, perguntei num canal de conversação de gentes do teatro, se sabiam do fenómeno dos blogs. O Henrique, com o seu Olhar Crítico, deu-me as indicações para entrada neste mundo e a ele agradeço “bloguicamente” o facto de ter lido o meu e de o ter colocado generosamente nos seus links. Tinha lido apenas o blog dele e desde logo me pareceu familiar a necessidade de fazer o que se faz na blogosfera. Tal como ele, não sou jornalista. Também não sou eurodeputado, não sou frequentador dos locais in de discussão politica, cultural. Tento escrever apenas com sinceridade.
Porquê Oráculo dos Basbaques? Achei que esta espécie de revista de opinião pessoal devia ter no seu título Oráculo. Local das minhas respostas e não dos Deuses. E sabemos que um oráculo, segundo a mitologia grega, era um local onde se davam repostas cabais, infalíveis. Porque não tornar paradoxal o conceito e por alguém sem a mínima autoridade, à partida, a ser o frequentador desse Oráculo? Nada melhor do que um parvo, alguém ignorante mas que ao mesmo tempo vai rindo e castigando nas entrelinhas as morais. Lembrei-me das conversas que tenho com deficientes mentais e da genialidade com que, mesmo tendo alguns atrasos ditos cognitivos, conseguem surpreender e dizer frases verdadeiramente Sábias. Lembrei-me das crianças com que trabalho. As crianças que muitos subestimam, mas que dizem o que pensam, embora cruéis, verdadeiras, sem as máscaras e com a inocência ainda por perder. Oráculo dos Parvos soaria mal e então depois de alguns 20 minutos a pensar numa expressão que o meu pai, da Beira Alta, utiliza muitas vezes lembrei-me. Basbaque. Basbaque,pateta, alguém que pasma. Confesso que me apatetizo muitas vezes lá fora, pareço meio desligado, perto de Plutão mas atento. Confesso que me sinto muitas vezes basbaque. E não, não tomo ácidos, não inalo drogas boémias, não tive nenhum acidente em criança. Pelo menos que eu tenha conhecimento. Gostei da palavra basbaque, sempre gostei de ouvir o meu pai dizer mesmo quando era dirigida a mim. Portanto assim ficou, surgiu como poderia ter surgido outra coisa qualquer. Estas coisas surgem como os nomes das Bandas, lembrei-me das duas palavras e das associar. Pronto foi isso. Talvez não venda (risos) quero lá saber. Sinto-me bem a escrever num Oráculo dos Basbaques e quero também dizer que este blog não tem qualquer linha editorial, qualquer temática. Não fala só de basbaques embora todos os textos revelem a minha admiração a minha pasmação em relação ao que observo nessas viagens da mente pelas terras dos pequenos nadas e dos momentos de beleza simples. Também não tenta só dar resposta, tenta que se façam mais perguntas. Quanto ao título, penso que a descrição por baixo dele (e que tenho de copiar todos os dias devido aos acentos) diz isto tudo mais resumidamente e escuso de perder tempo a falar do mesmo. Passo então a explicar a razão de ter um blog, de o dizer que tenho a algumas pessoas, enfim a razão da sua exposição pública.
Sinto, tenho a necessidade de escrever, de pensar sobre o que me rodeia. De me rir dos exteriores e de ironizar com os interiores. È a minha arma. Contra mim principalmente, ou a favor da minha vontade de me espelhar em grafemas. É assim que vou percepcionando este mundo, com o qual me embasbaco todos os dias. Positiva e negativamente. Assim, este blog é talvez um prolongar publicado daquilo que faço quando arranjo tempos para me viciar nas salas de conversação: teclar sobre a vida, as questões filosóficas fulcrais remisturadas com as maiores banalidades. Há muito que deixei de falar privadamente salvo raras e belas excepções. Há muito também que sinto ter uma vontade de comunicar e que muitas vezes é o meu monólogo a minha droga. Droga mental, droga produzida por mim, que me atenua numa noite mais melancólica e que me extasia em dias felizes. Há muito que sinto esta necessidade de esconder quem sou, de ser o fingidor pessoano. Há muito que necessito de um palco onde o fluxo de ideias que me vem de dentro e a vontade de produzir acção sobre os outros me faz libertar neste processo de escrita. Escrevo isolado, mas tento não falar sobre esse isolamento, apenas o uso para condensar as memórias do tempo em que estive acompanhado por gentes ou ideias, pelas acções. Confesso que em tempos usei pouco a escrita. Nem comigo a conseguia partilhar. Por exemplo poesia, recuso-me a partilhar num blog.
Achei, motivado por amigos, que não deveria cair na inércia de deixar apenas em cinzas as páginas do meus escritos mentais, dos meus devaneios cognitivos, das folhas da minha alma lidas relidas mentalmente vezes e vezes sem conta. Achei que estaria a desperdiçar memórias. Talvez isto me servia como um báu, onde nostalgicamente amanhã sentirei que todos estes posts, visto à luz de uma maior vivência e maior serenidade, são uma tremenda porcaria.
Como dizia, é um verdadeiro log, um monólogo que escrevo aqui como poderia estar a escrever numa janela já gasta de tanto clicar. E como escrevo no IRC assim escrevo aqui. Mas aqui estou mesmo isolado, não tenho a sensação de estar a escrever para uma plateia de users vendados.. Aqui os textos que produzo são tão grandes que tenho a certeza que os que estiverem a ler agora esta frase com atenção são aqueles que me interessa ouvir, comunicar, fazer nós de união. Também através deste blog, estou escondido atrás da melhor cortina, da palavra. No palco mais sublime, o da escrita. Fora deste palco, continuo eu mesmo reservado a vocês de mim mesmo. Continuo apenas um lado de mim sem mostrar a ponte que vai para o outro. Mas aqui, aqui tenho espaço para me recriar, para inventar, para satirizar, aqui posso sonhar alto, aqui posso me mostrar a vocês. Disse, no primeiro post, exibicionismo implícito. Talvez sim, seja exibição, talvez me queira demonstrar. Talvez isto seja uma versão big brotheriana da escrita. Mas não queremos todos que se interessem por nós? Não precisamos todos dessa atenção, mesmo que alguns de nós sejamos felizes e precisemos da solidão de tempos a tempos? Penso que se as coisas que digo têm algum valor ou estão certas, hão de se espalhar por si mesmas um dia e não tenho de me preocupar muito com isso. Descobri também que para se escrever é preciso ter-se uma quantidade q.b. de vaidade interior. É antes de mais preciso gostar do que o que escrevemos para o podermos mostrar aos outros e esperar não que gostem mas que leiam atentos. Porém, ainda estou a descobrir porque é imensa a quantidade de folhas que apago, de documentos que acabam na reciclagem.
São esses, outros problemas. Como dizia, talvez seja exibição, mas não é explícita, exibo-me mesmo assim mascarado pela leitura de alguém que modifica logo à partida o que sai de mim. Esse alguém és tu que lês. Aqui, a minha exibição é a minha estreia para com um pequeno grupo de pessoas a quem digo que tenho isto, ou para com viajantes perdidos nos trilos da cibyerlândia que por acaso descubram este “refúgio da escrita”. Aqui, a minha exposição virtual penso que não passa de um exorcismo da solidão. Aqui, a minha escrita é um ansiolítico e ao mesmo tempo uma tentativa provavelmente utópica de encontrar alguém que me compreenda. Através disto, não tenho qualquer tipo de pretensão a não ser a de encontrar gente que goste de mim e que me elogie com sinceridade porque preciso. Porque preciso mesmo porque também nos alimentamos disso eu nesse campo não me consigo auto medicar. Ainda mais importante que isto preciso de discutir, necessito, mais que gostem de mim, que me critiquem e que me ajudem a perceber. Essencialmente que me ajudem a aprender e a crescer como cidadão tolerante e crítico em relação aos outros e a mim mesmo.
Através deste site com um nome estranhíssimo, não há qualquer missão, qualquer tentativa de profetização, de encontrar novos paradigmas, de criar cultura. Haverá tempo ou coragem para embarcar nessas naus da ilusão do endeusamento próprio. Termino dizendo que sinto que melhor forma de vos responder (repito, hoje, porque amanha encontro certamente novas respostas) é citando simplesmente Pessoa ou Campos: «escrever não é a minha missão, é a minha forma de estar sozinho». Talvez seja mesmo só e apenas isso. G.F.C.
Então, faço aqui uma introspecção e tento responder dando algumas explicações que amanhã poderão ser completamente diferentes. Ou não. Como escrevi, no primeiro post, a ideia de fazer um blog surgiu-me do acaso, da conversa com um colega de faculdade, que me disse tratar-se de uma forma bastante acessível de ter uma home page. Naquelas conversas passageiras que se têm circunstancialmente, disse ainda tratar-se de um local de discussão, de troca de diálogos “estimulantes”. Cheguei a casa e quando me preparava para tentar estudar, surgiu-me a ideia de ir ver se seria assim tão fácil. Lembrei-me que já há dois anos, tinha conhecido uma amiga que me apresentou ao mundo das páginas pessoais de posts. Lia frequentemente algumas, verdadeiros diários on line onde o bom gosto, a cultura e uma forma de escrever solta e intimista me deliciaram e me fizeram descobrir novos mundos deste mundo. Deixei, com os tempos, de os frequentar, fruto das vicissitudes da vida e nesse dia, em meados de Julho, relembrando-me dessas doces leituras, perguntei num canal de conversação de gentes do teatro, se sabiam do fenómeno dos blogs. O Henrique, com o seu Olhar Crítico, deu-me as indicações para entrada neste mundo e a ele agradeço “bloguicamente” o facto de ter lido o meu e de o ter colocado generosamente nos seus links. Tinha lido apenas o blog dele e desde logo me pareceu familiar a necessidade de fazer o que se faz na blogosfera. Tal como ele, não sou jornalista. Também não sou eurodeputado, não sou frequentador dos locais in de discussão politica, cultural. Tento escrever apenas com sinceridade.
Porquê Oráculo dos Basbaques? Achei que esta espécie de revista de opinião pessoal devia ter no seu título Oráculo. Local das minhas respostas e não dos Deuses. E sabemos que um oráculo, segundo a mitologia grega, era um local onde se davam repostas cabais, infalíveis. Porque não tornar paradoxal o conceito e por alguém sem a mínima autoridade, à partida, a ser o frequentador desse Oráculo? Nada melhor do que um parvo, alguém ignorante mas que ao mesmo tempo vai rindo e castigando nas entrelinhas as morais. Lembrei-me das conversas que tenho com deficientes mentais e da genialidade com que, mesmo tendo alguns atrasos ditos cognitivos, conseguem surpreender e dizer frases verdadeiramente Sábias. Lembrei-me das crianças com que trabalho. As crianças que muitos subestimam, mas que dizem o que pensam, embora cruéis, verdadeiras, sem as máscaras e com a inocência ainda por perder. Oráculo dos Parvos soaria mal e então depois de alguns 20 minutos a pensar numa expressão que o meu pai, da Beira Alta, utiliza muitas vezes lembrei-me. Basbaque. Basbaque,pateta, alguém que pasma. Confesso que me apatetizo muitas vezes lá fora, pareço meio desligado, perto de Plutão mas atento. Confesso que me sinto muitas vezes basbaque. E não, não tomo ácidos, não inalo drogas boémias, não tive nenhum acidente em criança. Pelo menos que eu tenha conhecimento. Gostei da palavra basbaque, sempre gostei de ouvir o meu pai dizer mesmo quando era dirigida a mim. Portanto assim ficou, surgiu como poderia ter surgido outra coisa qualquer. Estas coisas surgem como os nomes das Bandas, lembrei-me das duas palavras e das associar. Pronto foi isso. Talvez não venda (risos) quero lá saber. Sinto-me bem a escrever num Oráculo dos Basbaques e quero também dizer que este blog não tem qualquer linha editorial, qualquer temática. Não fala só de basbaques embora todos os textos revelem a minha admiração a minha pasmação em relação ao que observo nessas viagens da mente pelas terras dos pequenos nadas e dos momentos de beleza simples. Também não tenta só dar resposta, tenta que se façam mais perguntas. Quanto ao título, penso que a descrição por baixo dele (e que tenho de copiar todos os dias devido aos acentos) diz isto tudo mais resumidamente e escuso de perder tempo a falar do mesmo. Passo então a explicar a razão de ter um blog, de o dizer que tenho a algumas pessoas, enfim a razão da sua exposição pública.
Sinto, tenho a necessidade de escrever, de pensar sobre o que me rodeia. De me rir dos exteriores e de ironizar com os interiores. È a minha arma. Contra mim principalmente, ou a favor da minha vontade de me espelhar em grafemas. É assim que vou percepcionando este mundo, com o qual me embasbaco todos os dias. Positiva e negativamente. Assim, este blog é talvez um prolongar publicado daquilo que faço quando arranjo tempos para me viciar nas salas de conversação: teclar sobre a vida, as questões filosóficas fulcrais remisturadas com as maiores banalidades. Há muito que deixei de falar privadamente salvo raras e belas excepções. Há muito também que sinto ter uma vontade de comunicar e que muitas vezes é o meu monólogo a minha droga. Droga mental, droga produzida por mim, que me atenua numa noite mais melancólica e que me extasia em dias felizes. Há muito que sinto esta necessidade de esconder quem sou, de ser o fingidor pessoano. Há muito que necessito de um palco onde o fluxo de ideias que me vem de dentro e a vontade de produzir acção sobre os outros me faz libertar neste processo de escrita. Escrevo isolado, mas tento não falar sobre esse isolamento, apenas o uso para condensar as memórias do tempo em que estive acompanhado por gentes ou ideias, pelas acções. Confesso que em tempos usei pouco a escrita. Nem comigo a conseguia partilhar. Por exemplo poesia, recuso-me a partilhar num blog.
Achei, motivado por amigos, que não deveria cair na inércia de deixar apenas em cinzas as páginas do meus escritos mentais, dos meus devaneios cognitivos, das folhas da minha alma lidas relidas mentalmente vezes e vezes sem conta. Achei que estaria a desperdiçar memórias. Talvez isto me servia como um báu, onde nostalgicamente amanhã sentirei que todos estes posts, visto à luz de uma maior vivência e maior serenidade, são uma tremenda porcaria.
Como dizia, é um verdadeiro log, um monólogo que escrevo aqui como poderia estar a escrever numa janela já gasta de tanto clicar. E como escrevo no IRC assim escrevo aqui. Mas aqui estou mesmo isolado, não tenho a sensação de estar a escrever para uma plateia de users vendados.. Aqui os textos que produzo são tão grandes que tenho a certeza que os que estiverem a ler agora esta frase com atenção são aqueles que me interessa ouvir, comunicar, fazer nós de união. Também através deste blog, estou escondido atrás da melhor cortina, da palavra. No palco mais sublime, o da escrita. Fora deste palco, continuo eu mesmo reservado a vocês de mim mesmo. Continuo apenas um lado de mim sem mostrar a ponte que vai para o outro. Mas aqui, aqui tenho espaço para me recriar, para inventar, para satirizar, aqui posso sonhar alto, aqui posso me mostrar a vocês. Disse, no primeiro post, exibicionismo implícito. Talvez sim, seja exibição, talvez me queira demonstrar. Talvez isto seja uma versão big brotheriana da escrita. Mas não queremos todos que se interessem por nós? Não precisamos todos dessa atenção, mesmo que alguns de nós sejamos felizes e precisemos da solidão de tempos a tempos? Penso que se as coisas que digo têm algum valor ou estão certas, hão de se espalhar por si mesmas um dia e não tenho de me preocupar muito com isso. Descobri também que para se escrever é preciso ter-se uma quantidade q.b. de vaidade interior. É antes de mais preciso gostar do que o que escrevemos para o podermos mostrar aos outros e esperar não que gostem mas que leiam atentos. Porém, ainda estou a descobrir porque é imensa a quantidade de folhas que apago, de documentos que acabam na reciclagem.
São esses, outros problemas. Como dizia, talvez seja exibição, mas não é explícita, exibo-me mesmo assim mascarado pela leitura de alguém que modifica logo à partida o que sai de mim. Esse alguém és tu que lês. Aqui, a minha exibição é a minha estreia para com um pequeno grupo de pessoas a quem digo que tenho isto, ou para com viajantes perdidos nos trilos da cibyerlândia que por acaso descubram este “refúgio da escrita”. Aqui, a minha exposição virtual penso que não passa de um exorcismo da solidão. Aqui, a minha escrita é um ansiolítico e ao mesmo tempo uma tentativa provavelmente utópica de encontrar alguém que me compreenda. Através disto, não tenho qualquer tipo de pretensão a não ser a de encontrar gente que goste de mim e que me elogie com sinceridade porque preciso. Porque preciso mesmo porque também nos alimentamos disso eu nesse campo não me consigo auto medicar. Ainda mais importante que isto preciso de discutir, necessito, mais que gostem de mim, que me critiquem e que me ajudem a perceber. Essencialmente que me ajudem a aprender e a crescer como cidadão tolerante e crítico em relação aos outros e a mim mesmo.
Através deste site com um nome estranhíssimo, não há qualquer missão, qualquer tentativa de profetização, de encontrar novos paradigmas, de criar cultura. Haverá tempo ou coragem para embarcar nessas naus da ilusão do endeusamento próprio. Termino dizendo que sinto que melhor forma de vos responder (repito, hoje, porque amanha encontro certamente novas respostas) é citando simplesmente Pessoa ou Campos: «escrever não é a minha missão, é a minha forma de estar sozinho». Talvez seja mesmo só e apenas isso. G.F.C.
sexta-feira, julho 18, 2003
Anita a cavalo (cuidado a baixar a página)
Tenho algo para mostrar que subitamente encontrei perdido algures no segundo andar da garagem, onde estão todos os livros, todos os documentos escolares ou simplesmente lúdicos da minha quase velha infância. Não é uma reportagem central da revista Gina, não é nenhuma bd porca dos anos 80, não é a biografia de uma qualquer stripper citadina com os saudosos peitos naturais . Anita a cavalo também não conta a história de uma heroinómana adolescente que se vê envolvida numa teia de vício com banda sonora de Sex Pistols. É simplesmente um marco literário, oferecido pela Verbo, a toda uma geração. Obrigado Anita por todas as horas que passámos juntos. G.F.C.
quinta-feira, julho 17, 2003
regresso de Lisboa
Não ter ainda carta de condução pode revelar-se um problema em algumas situações mas noutros casos faz com que o comboio se torne um óptimo local para parar andando e pensar nos últimos tempos. Foi então, há tempos, que escrevi estas linhas e mostro-as agora porque seriam o conteúdo de um e-mail a mandar para uma pessoa mais a norte, que gostei de conhecer. Se não fosse ela, tudo o que agora existe em palavras teriam sido apenas pensamentos empacotados a um canto dos armazéns da memória a longo prazo. Um obrigado especial.
Perdi o comboio. Por apenas 12 segundos. São 23h46 minutos e 18 segundos. O cais da estação estaria vazio, não fosse a minha existência ali e a de uma senhora de meia-idade. Observo-a discretamente: telemóvel vestido por um padrão de vaca leiteira, cabelo pintado de um laranja ténue, t-shirt com uma dama de copas. Vou ao meu bornal, tiro um baralho que costumo levar, procuro pelo que vi estampado. Observo a dama que olha de esguelha, reviro a carta: 2 siamesas de copas. Enquanto me lembro de ligações passadas, lembro-me de ti e relembro-me do Porto. Volto a olhar o relógio, só depois de meia hora viria o próximo comboio. Por apenas 12 segundos perdi o último. Segundos que ditam a vida nas urbes. Constato que o homem corre cada vez mais velozmente e que todos corremos contra ou por algo. Porém, felizmente ou não, em Portugal ninguém leva muito a sério a responsabilidade temporal. Tento leva-la embora sinta que esta algema suiça que trago apertada ao pulso não me aprisiona assim tanto. Paro de escrever, chegam 2 pretos com o ar simpático de quem me vai tentar roubar. Aproximam-se e olham para o caderno que trago. Afastam-se. Talvez tivessem reparado na cara de parvo de faço quando estou a escrever. Pelo menos imagino-a ridícula uma vez que ponho a língua de fora e vou sorrindo de quando a quando. Talvez a satisfação nos dê um rosto demente. Não sei, só sei que não fui assaltado. Sou um sobrevivente portanto. Bem, perdi o comboio por 12 segundos, ganhei 30 minutos do tédio de pensar e do contra ataque de escrever.
Estou junto à feira popular, o cheiro assado das sardinhas penetra-me as narinas. Olho por trás do ombro e vejo o néon dos vários carrosséis. Do looping, partem gritos femininos que competem pela maior onda acústica produzida. Gritos que se misturam com as sereias das ambulâncias que cruzam a Avenida da República. Passam o sinal vermelho. Dentro delas, vai talvez alguém para quem um segundo pode ser decisivo. Chega um velhote que se senta ao pé de mim. Ucraniano. Não percebo o título do livro em 5ª mão que lê, mas parece-me ser de cowboys. Ou de ìndios. E eu à espera do Cavalo de Ferro.
È meia-noite e está tudo vivo ainda. Tudo marcha para voltar a casa, tudo corre para sair nessa Lisboa que anoitece. Maquinalmente tudo se move e tudo espera ao mesmo tempo. È esta a Lisboa que percepciono, a Lisboa onde estudo, a Lisboa onde estou quando não durmo. A cidade onde os cotovelos se poisam no Castelo. Estive nele, também pousado, nessa manhã. Avistei as velhas casarias, passei pelas tascas onde me senti no país dos matraquilhos. Passei pelas ruas contraditórias onde executivos engomados se cruzavam com freaks coloridos e turistas de “Nikon” em punho. Velhos que escarram no chão, mulheres bonitas em cafés de vanguarda, o eléctrico velhinho, eu, os amigos, uma canção mal trauteada. Uma serenata académica, “Ondas do Douro”. Viajei a norte por momentos e regressei ao Tejo, avistado no término de umas escadinhas alfacinhas. Uma fragata da Marinha cruza o esverdeado fluvial enquanto um veleiro calmamente se passeia em mais um dia de mediterrânico Sol. A força imponente do navio e a fagilidade da embarcação empurrada pelo vento. O Rio tantas vezes cantado. A lembrança de um provérbio quiçá chinês que diz “nunca tomarás banho duas vezes no mesmo Rio”.
Já estou no comboio, olho lá fora e o movimento aparente das casas que ladeiam a linha parece-me hoje mais lento. Diferente todos os dias, como o rio, mas hoje mais lento. Aconchego-me no banco e inibo-me na escrita. Alguém se sentou ao meu lado. Sinto o meu território físico invadido, contraio-me. Tento esconder a escrita e contínuo. Entram e partem pessoas em cada estação. Incontáveis as raças, os credos, as vidas que já se cruzaram naquelas portas automáticas. Recordo-me novamente da Lisboa desse dia, a antiga que se confunde com a moderna. Da luzes naturais e dos perfumes fabricados. E torno, conformado, aos subúrbios. Reconforta-me apenas a Serra da Lua, com a Pena que surge como a cereja em cima do bolo. Mostro o passe ao revisor que surge no meio dessas imagens mentais. Começa então um musical suburbano. À minha frente alguém ressona, e o inexplicável é que ressona sintonizado com o picar dos bilhetes. Eis que para colmatar esta sinfonia, entra um cego com a sua bengala tradutora do espaço físico. 3 ritmos, 3 sons, 3 simples melodias. Banda sonora simples de um regresso a casa. De uma viagem num comboio descendente que trás toda a uma cidade nas suas entranhas. Uma máquina que nos trás de Lisboa e que nos faz sonhar com Sintra. Das sombras da cidade branca para o aclarado betão no meio da serra densa escurecida e perdida na bruma.
Revejo a publicidade ao centro cultural Olga Cadaval e a placa para o Palácio Nacional de Queluz. As artes e as rainhas no mesmo intervalo de tempo. Penso qual será a Arte Rainha e se haverá alguma Rainha das Artes. Volto ao baralho na procura da dama de copas entretanto baralhada. Sai de vez, à terceira, depois de um Joker e de um Ás de Ouros. Como não acredito agora em sortes nem destinos, tento não associar as três cartas e deixo a ligação mística a quem gostar de o fazer. Volto a baralhar e paro.
Última paragem. Esse alguém que ressonava, acorda sobressaltado. Lisboa já anoiteceu e todos os subúbrios começam a pensar em amanhecer. Afinal o tempo que se quis que passasse rápido, já foi. Demorou apenas algumas palavras perdidas, teve a velocidade de um sussurro. Regressei agora e regresso amanhã. Talvez sejamos feitos de regressos, de sequelas, ou talvez tenhamos de partir todos os dias, mesmo que de manhã não nos apeteça. Amanhã não sei, mas neste momento só me apetece pousar as palavras.G.F.C.
domingo, julho 13, 2003
Quando entenderão este mundo, os "Padrinhos"?
Depois de Berlusconi ter chamado "Kapo" ao eurodeputado alemão Schultz, chega uma notícia que revela uma vez mais a brilhante veia diplomática italiana. Num artigo de jornal, Stefano Stefani escreveu que os alemães são «louros uniformes e super-nacionalistas, que não perdem uma oportunidade de serem desavergonhados e de invadir com grande alarido as praias italianas». Embasbaquei-me. Stefani não é um comediante italiano, Stefani não é caricaturista, Stefano Stefani não é o Vicktor Vicktor transalpino. Stefani é simplesmente o Secretário de estado do turismo italiano. Podemos admitir que os alemães provocam alarido, podemos dizer que as alemãs são desavergonhadas. (pelo menos algumas das que passam cá férias) Mas a diferença é essa, nós podemos, porque somos meros anónimos envoltos na enorme diversidade de povos que habitam este planeta. Nós podemos, porque não temos responsabilidades, a não ser a de perceber que as generalizações conduzem às certezas que conduzem: nenhumas.
Todos os povos têm as suas particularidades e o estériótipo, penso eu, é inerente à condição humana. Muitos de nós brinca com tal facto e mais que isso, brinca também com os nossos maneirismos, as nossas típicas catalogações do "Tuga". Nós podemos ofender q.b., gozar, generalizar, mas um S.E. do Turismo não pode. Ainda por cima pertencente a um partido xenófobo da coligação Forza Italia. Isto sim torna as coisas preocupantes. Não falo de repercussões turísticas, mas sim do mau estar gerado entre os dois povos. Tudo graças a algumas palavras de pessoas que, percebendo a importância que têm, as utilizam mesmo com esse sentido: o de criar quezílias. Pelo menos eu não acredito em irresponsabilidades a este nível de diálogo.
Triste. Demasiado triste para se acreditar. Chegar ao século XXI e haver assim hOMENS. Com h minúsculo, bem minúsculo, que teimam em regredir. Numa Europa que se quer unida, num mundo que se quer global, de cidadãos à escala planetária, num mundo em que se descobriu que somos todos uma só raça, mesmo genoma, mesma génese. È triste chegar a 2003 e pensar nessa Máfia, nessa gentalha que povoa alguns dos corredores do poder político, se pauta pela ambição e conceptualiza a palavra tolerância dependentemente das negociações favoráveis ou não.
Resta-me entristecer e arranjar boas lembranças nas várias comunidades de estudantes de “Erasmus” espalhadas pelo Velho Continente, em que Italianos e Alemães se abraçam, choram, se confiam, se amam. Resta-me parar para pensar nesta Humanidade e relembrar as palavras de Juca Sabão, através de Mia Couto. Talvez quem sabe, os "Padrinhos", um dia, entenderão as palavras vindas desse sábio e paradisíaco Moçambique: «ergam nos céus as bandeiras, plantem na terra as fronteiras, mas no mundo só existem duas Nações, a dos Vivos e a dos Mortos». G.F.C.
basbaquices da FPCEUL - MAMAFA
(a leitura deste post destina-se ao pessoal da FPCEUL ou a qualquer outra pessoa que tivesse lido o Manifesto do MAFA. Aos outros peço desde já as minhas desculpas por não ter pachorra para aqui copiar tão ignóbeis palavras, se é a primeira vez que aqui vêm movam a página para baixo e vejam outros posts)
Talvez a melhor coisa que possa acontecer a quem só consiga estudar efectivamente perto da data do exame seja aparecer-lhe alguma acção de alguém ou de “alguéns” que suscite em si uma irreprimível vontade de contra atacar, responder, criticar ou tão somente perder tempo a pensar nela. Assim, pretende este post, responder directamente ao manifesto publicado na Faculdade de Psicologia e de Ciências de Educação da Universidade de Lisboa. Movimento esse auto intitulado de Movimento Anti Futilidade Académica. Ressalva-se a não publicação desse mesmo manifesto. Quem quiser lê-lo que procure as publicações em folhas cor de rosa rançoso, espalhadas inesteticamente por todo o edifício académico.
Movimento Anti Movimento Anti Futilidade Académica
E surge um novo movimento, que pretende desmistificar, ridicularizar e deitar abaixo as teses apoiadas no MAFA (falamos em linguagem corrente porque os manifestos servem para ser lidos e percebidos pelos outros. Procurar a palavra mais requintada, mais arcaica, além de uma perda de tempo é sem dúvida, neste caso, um exibicionismo literário).
Também nos insurgimos contra a frivolidade. A vossa. E também registamos todo o tipo de comportamentos académicos da amostra de alunas de psicologia por vocês analisada. A diferença é que além de as observarmos, também conversamos com elas, também as tentamos perceber. Olhamos a conteúdos, não nos contentamos com as formas.
É verdade que existem estigmas, mas neste caso resolvemos pegar nos que vossas excelências apontaram, repetimos, com uma falta de conhecimento impressionante, uma escassez de verdade e uma porrada de calúnias que merecem ser aqui, desde já, apontadas:
- As alunas riem voluptuosamente. Falso, aos vossos olhos distantes talvez, pois basta um sorriso delas para que a vossa produção hormonal atinja níveis de limite. As alunas riem naturalmente ( com um sorriso sensual algumas, com graça timidamente transparecida outras). Riem do humor refinado, das piadas com inteligência de idiotas que se estão marimbando para as suas qualidades capilares ou para outros idiotas que estejam importados com estas. As alunas riem de situações diárias, porque o humor se faz, absorvendo e satirizando o quotidiano, não se faz só da discussão intelectual de tertúlias fora de horas. A vida é feita de pequenos nadas. A confusão entre os “nadas” e a futilidade terá de ser por vós revista.
- Deslocam-se de nariz empolado. Com toda a certeza, pois não andam curvadas de olhos no chão uma vez que não passam dias e noites ao computador em actos onanistas, criando fantasias virtuais e contribuindo para a escoliose precoce. Ao contrário de vocês, elas caminham de olhos no futuro, conscientes do que querem, confiantes no seu poder feminino, deixando homens como vocês desesperados.
- “Vão para o bar da faculdade” Verdadeiro, porque o bar é um local familiar, onde colegas se juntam, se alicerçam amizades, onde se disserta sobre a vida académica, as futilidades próprias femininas, as relações humanas, o último livro do Damásio, as amarguras da quase presente entrada no mercado laboral, o período, a guerra, porque não? Acham a vida divertida porque afinal de contas ninguém sai dela vivo, Não são ignorantes como vossas sapiências as rotulam. De facto elas procuram a felicidade. Talvez não a encontrem, mas não procurar o seu trilho talvez seja sim a pior forma de ignorância.
-“Usam cuecas fio dental”?!. Em que século vivem vocês? Queriam que usassem a bela da cuecas de cetim, XXL, gola alta, período pré Victoriano? Corrijo, talvez isso mostrasse algo libidinoso: queriam a bela da ciroila usada pelas governantas do Estado Novo? Usar fio dental, mostrar o corpo, seja ele tosco ou esbelto conforme os padrões actuais, é mais uma forma de demonstrarem a sua sensualidade. A hierarquia está nas vossas cabeças adulteradas por horas e horas de pornografia. A hierarquia vai existir é quando quiserem um emprego e forem trocados por um fio dental desses. Trata-se simplesmente de jogar contra as vossas próprias fraquezas. É poder e não subjugo em relação ao homem.
- “Namorado fantasmagórico?” Um namorado tem obrigatoriamente de estar no local onde a namorada estuda? Ir busca-la todos os dias, andar colado a ela? Porque é que tem de aparecer? E quantos de vocês também não mentem em relação às vossas conquistas, aos vossos pseudo engates que, na maior parte das vezes, são estórias abusivamente inflacionadas resumindo-se na realidade a três frases (sendo geralmente a última: Que parte do NÂO é que não percebes, o til?).
- “Necessitam de formar um grupinho” tal como vocês necessitam de formar um movimento, tal como os presidiários necessitam de se juntar nos balneários a apanhar sabonetes, tal como os velhos necessitam de jogar suecadas nas tardes solarengas, tal como todos necessitamos de encontrar alguém com as mesmas afinidades. Os elementos gay não são cobiçados. Eles existem sim, pela faculdade, naturalmente. Mais do que imaginamos. Se calhar há um gay em cada grupo de raparigas, mas se calhar é um gay que as percebe melhor, que vê os dois lados, que tem a sensibilidade dos dois mundos. Se calhar é o gay que está mais a par da moda, dos movimentos culturais, se calhar é o gay que torna o mundo delas e o nosso menos deprimente.
- Os outros pontos do manifesto são considerados por este MAMAFA verdadeiras pérolas da calúnia esteriotipada, criticas infundadas a raparigas que nunca foram ouvidas noutros ambientes. Concordamos que existam mentes assim, tacanhas, básicas, o que quiserem chamar, mas são uma minoria no nosso meio académico. Ou a minha amostra é completamente desprovida de verdade estatística ou então vivemos em duas faculdades diferentes. Estava na altura de começarem a conhecer essas raparigas, talvez o “ritual de acasalamento” que apregoam, vos faça mais falta que a elas. Seria boa ideia escutarem o que elas têm para dizer em vez de simplesmente ouvirem. Talvez as vossas hipóteses de sucesso deixassem de ser nulas.
Qualquer alusão a termos explicítos de cariz sexual é por este contra- movimento dispensada. Antes de terminar, saliente-se o facto de vos termos em grande consideração, sem qualquer tipo de ironia sublinhe-se. Conseguiram fazer com que se falasse de alguma coisa durante uma semana e a existência de um movimento é desde já salutar. Mesmo que isso não se traduza num debate científico, político, social, verdadeiramente académico. Pensamos também que com tanta imaginação e espírito crítico, as vossas potencialidades criativas estão em completo desperdício e muitíssimo mal canalizadas. Se esse poder retórico e de perspicácia fosse utilizado em prol do curso e das matérias aprendidas, decerto que proeminentes carreiras académicas poderiam auspiciar. Acabam por desenvolver um debate que, não sendo totalmente estéril, dará azo a conversas que estarão impregnadas, nada mais nada menos, do que aquilo que, à partida, o vosso movimento se diz “anti”: a futilidade.
Aos interessados em fazer parte deste MAMAFA o nosso mail mamafa@mail.pt
Agradecendo desde já a leitura de todos estes parágrafos e esperando que não haja mesmo gente a mandar mails, visto ser época de exames, assino num “modo não cobarde” por baixo e convido a todos os que se não se reviram no MAFA, a não levar nada disto a sério, a rirem-se, a serem fúteis de quando a quando e a assinarem também este manifesto.
Gonçalo Fontes da Costa
Talvez a melhor coisa que possa acontecer a quem só consiga estudar efectivamente perto da data do exame seja aparecer-lhe alguma acção de alguém ou de “alguéns” que suscite em si uma irreprimível vontade de contra atacar, responder, criticar ou tão somente perder tempo a pensar nela. Assim, pretende este post, responder directamente ao manifesto publicado na Faculdade de Psicologia e de Ciências de Educação da Universidade de Lisboa. Movimento esse auto intitulado de Movimento Anti Futilidade Académica. Ressalva-se a não publicação desse mesmo manifesto. Quem quiser lê-lo que procure as publicações em folhas cor de rosa rançoso, espalhadas inesteticamente por todo o edifício académico.
Movimento Anti Movimento Anti Futilidade Académica
E surge um novo movimento, que pretende desmistificar, ridicularizar e deitar abaixo as teses apoiadas no MAFA (falamos em linguagem corrente porque os manifestos servem para ser lidos e percebidos pelos outros. Procurar a palavra mais requintada, mais arcaica, além de uma perda de tempo é sem dúvida, neste caso, um exibicionismo literário).
Também nos insurgimos contra a frivolidade. A vossa. E também registamos todo o tipo de comportamentos académicos da amostra de alunas de psicologia por vocês analisada. A diferença é que além de as observarmos, também conversamos com elas, também as tentamos perceber. Olhamos a conteúdos, não nos contentamos com as formas.
É verdade que existem estigmas, mas neste caso resolvemos pegar nos que vossas excelências apontaram, repetimos, com uma falta de conhecimento impressionante, uma escassez de verdade e uma porrada de calúnias que merecem ser aqui, desde já, apontadas:
- As alunas riem voluptuosamente. Falso, aos vossos olhos distantes talvez, pois basta um sorriso delas para que a vossa produção hormonal atinja níveis de limite. As alunas riem naturalmente ( com um sorriso sensual algumas, com graça timidamente transparecida outras). Riem do humor refinado, das piadas com inteligência de idiotas que se estão marimbando para as suas qualidades capilares ou para outros idiotas que estejam importados com estas. As alunas riem de situações diárias, porque o humor se faz, absorvendo e satirizando o quotidiano, não se faz só da discussão intelectual de tertúlias fora de horas. A vida é feita de pequenos nadas. A confusão entre os “nadas” e a futilidade terá de ser por vós revista.
- Deslocam-se de nariz empolado. Com toda a certeza, pois não andam curvadas de olhos no chão uma vez que não passam dias e noites ao computador em actos onanistas, criando fantasias virtuais e contribuindo para a escoliose precoce. Ao contrário de vocês, elas caminham de olhos no futuro, conscientes do que querem, confiantes no seu poder feminino, deixando homens como vocês desesperados.
- “Vão para o bar da faculdade” Verdadeiro, porque o bar é um local familiar, onde colegas se juntam, se alicerçam amizades, onde se disserta sobre a vida académica, as futilidades próprias femininas, as relações humanas, o último livro do Damásio, as amarguras da quase presente entrada no mercado laboral, o período, a guerra, porque não? Acham a vida divertida porque afinal de contas ninguém sai dela vivo, Não são ignorantes como vossas sapiências as rotulam. De facto elas procuram a felicidade. Talvez não a encontrem, mas não procurar o seu trilho talvez seja sim a pior forma de ignorância.
-“Usam cuecas fio dental”?!. Em que século vivem vocês? Queriam que usassem a bela da cuecas de cetim, XXL, gola alta, período pré Victoriano? Corrijo, talvez isso mostrasse algo libidinoso: queriam a bela da ciroila usada pelas governantas do Estado Novo? Usar fio dental, mostrar o corpo, seja ele tosco ou esbelto conforme os padrões actuais, é mais uma forma de demonstrarem a sua sensualidade. A hierarquia está nas vossas cabeças adulteradas por horas e horas de pornografia. A hierarquia vai existir é quando quiserem um emprego e forem trocados por um fio dental desses. Trata-se simplesmente de jogar contra as vossas próprias fraquezas. É poder e não subjugo em relação ao homem.
- “Namorado fantasmagórico?” Um namorado tem obrigatoriamente de estar no local onde a namorada estuda? Ir busca-la todos os dias, andar colado a ela? Porque é que tem de aparecer? E quantos de vocês também não mentem em relação às vossas conquistas, aos vossos pseudo engates que, na maior parte das vezes, são estórias abusivamente inflacionadas resumindo-se na realidade a três frases (sendo geralmente a última: Que parte do NÂO é que não percebes, o til?).
- “Necessitam de formar um grupinho” tal como vocês necessitam de formar um movimento, tal como os presidiários necessitam de se juntar nos balneários a apanhar sabonetes, tal como os velhos necessitam de jogar suecadas nas tardes solarengas, tal como todos necessitamos de encontrar alguém com as mesmas afinidades. Os elementos gay não são cobiçados. Eles existem sim, pela faculdade, naturalmente. Mais do que imaginamos. Se calhar há um gay em cada grupo de raparigas, mas se calhar é um gay que as percebe melhor, que vê os dois lados, que tem a sensibilidade dos dois mundos. Se calhar é o gay que está mais a par da moda, dos movimentos culturais, se calhar é o gay que torna o mundo delas e o nosso menos deprimente.
- Os outros pontos do manifesto são considerados por este MAMAFA verdadeiras pérolas da calúnia esteriotipada, criticas infundadas a raparigas que nunca foram ouvidas noutros ambientes. Concordamos que existam mentes assim, tacanhas, básicas, o que quiserem chamar, mas são uma minoria no nosso meio académico. Ou a minha amostra é completamente desprovida de verdade estatística ou então vivemos em duas faculdades diferentes. Estava na altura de começarem a conhecer essas raparigas, talvez o “ritual de acasalamento” que apregoam, vos faça mais falta que a elas. Seria boa ideia escutarem o que elas têm para dizer em vez de simplesmente ouvirem. Talvez as vossas hipóteses de sucesso deixassem de ser nulas.
Qualquer alusão a termos explicítos de cariz sexual é por este contra- movimento dispensada. Antes de terminar, saliente-se o facto de vos termos em grande consideração, sem qualquer tipo de ironia sublinhe-se. Conseguiram fazer com que se falasse de alguma coisa durante uma semana e a existência de um movimento é desde já salutar. Mesmo que isso não se traduza num debate científico, político, social, verdadeiramente académico. Pensamos também que com tanta imaginação e espírito crítico, as vossas potencialidades criativas estão em completo desperdício e muitíssimo mal canalizadas. Se esse poder retórico e de perspicácia fosse utilizado em prol do curso e das matérias aprendidas, decerto que proeminentes carreiras académicas poderiam auspiciar. Acabam por desenvolver um debate que, não sendo totalmente estéril, dará azo a conversas que estarão impregnadas, nada mais nada menos, do que aquilo que, à partida, o vosso movimento se diz “anti”: a futilidade.
Aos interessados em fazer parte deste MAMAFA o nosso mail mamafa@mail.pt
Agradecendo desde já a leitura de todos estes parágrafos e esperando que não haja mesmo gente a mandar mails, visto ser época de exames, assino num “modo não cobarde” por baixo e convido a todos os que se não se reviram no MAFA, a não levar nada disto a sério, a rirem-se, a serem fúteis de quando a quando e a assinarem também este manifesto.
Gonçalo Fontes da Costa
quinta-feira, julho 10, 2003
gratitude
Enviado por mail, o primeiro recebido, a quem agradeço e peço desculpa por não falar em pvt. A quem não percebe, a mesma resposta... dont worry, you will someday...
«I guess I could be pretty pissed off about what happened to me... but it
s hard to stay mad, when there's so much beauty in the world. Sometimes I
feel like I'm seeing it all at once, and it's too much, my heart fills up
like a balloon that's about to burst and then I remember to relax, and stop
trying to hold on to it, and then it flows through me like rain and I can't
feel anything but gratitude for every single moment of my stupid little life
You have no idea what I'm talking about, I'm sure. But don't worry... you
will someday.» In American Beauty
«I guess I could be pretty pissed off about what happened to me... but it
s hard to stay mad, when there's so much beauty in the world. Sometimes I
feel like I'm seeing it all at once, and it's too much, my heart fills up
like a balloon that's about to burst and then I remember to relax, and stop
trying to hold on to it, and then it flows through me like rain and I can't
feel anything but gratitude for every single moment of my stupid little life
You have no idea what I'm talking about, I'm sure. But don't worry... you
will someday.» In American Beauty
domingo, julho 06, 2003
46 minutos
2h00 da manhã, barba de 12 dias, cabelo desgrenhado, monitor a precisar de ser limpo. 4 dias fechado em casa, horas perdidas em que se estudou tão pouco. Pergunto-me se haveria mesmo necessidade de ter feito um site em tempo de tantos exames. Pergunto-me quando é que vou dizer a alguém o endereço. Pergunto-me se não irei apagar todos os textos da próxima vez que aqui me sentar. Pergunto-me quem me lerá, quem responderá, quem não perceberá. Percebo agora que é quase impossível publicar alguma coisa que não tenha algo íntimo de nós. Tento não me transparecer e pressinto que, depois, vai ser difícil falar do que escrevi. Que se lixe. Que ao menos seja uma espécie de exibicionismo implícito e não um auto voyeurismo virtual. Leio outros blogs pela primeira vez. Geniais, sublimes, maduros, superiores. Paro, para não cair na tentação de plagiar alguma ideia. Agora não sei mesmo se terei a vaidade necessária de mostrar estas merdices que escrevo. Terei. Afinal todos temos esperanças que alguém se interesse pelo que dizemos. (não contando à partida com padres, psicólogos e políticos). Tornou-se nestes dias, a escrita, o contacto com o exterior. Ou não, comigo. Estou conectado ao mundo apenas pela televisão e pela Internet. Desconectado de todos.
È incrível a quantidade de tarefas que não se fazem em mais de 6 meses e que depois, em apenas 5 dias surgem. Uma após outra até que se procrastine até aos últimos dos esforços físicos. Arrumam-se estantes, desarrumam-se memórias, descobrem-se novos sons. Basta uma música, sempre no “repeat” para que a preguiça de cumprir um dever chegue. Como diria o Manelinho dos livros da Malfada:« a preguiça é a mãe de todos os vícios e uma mãe é uma mãe, há que respeita-la». Sorrisos, Bds relidas, retratos caídos, apontamentos em branco. O escuro, a noite. Silenciosa, inerte. A ventoinha do pc, o som que se repete. DVDs alugados, powers da tv infinitamente premidos e despremidos. Políticas educativas, unidade sindical -Trabalho de SEPE - Cabeça voltada ligeiramente à direita, lê-se, memoriza-se, modifica-se, tecla-se. Volta-se novamente a cabeça. Repete-se. Farta-se. Casa de banho, mesmo sem vontade fisiológica. Espelhos. Inspira-se fundo. Arranjam-se motivações de hora em hora, de final de programa em final de jogo de futebol. Será assim a mais alguém? Isolamento. “Estuda”, ouve-se. Sermões, o meu futuro, desenvolvimento sócio moral -Página 69. Sexo. Assembleia da República: Estimulação da oposição. Sexo. Cadências, ritmos, melodias. Tentativas de fuga. Culpabilizações. Mais 5 páginas tecladas, mais 4 exercícios resolvidos, mais 3 folhas lidas. 2horas e meia da manhã. 1 corpo que se estende na cama. Meio copo vazio. Zapping, “mute”, 87.5, interferências, telefonias sem fios, comercialidades, marginalidades, voxx.. 4 dias sem ouvir a minha voz. Rio-me ao mesmo tempo que digo, alto, um impropério. Frigorífico. Dispensa. Regressos. Limpezas. Arrumações, planos. Desejos : que com pressão se trabalhe melhor, que a barba seja feita, que se passe ou que não se chumbe, que cheguem rapidamente as férias, que se saia, que se redescubra o mundo e os amigos. Que essencialmente este estado de pré demência tenha um fim. Amanhã é mais um domingo no mundo. Luzes apagadas. Intervalos. Inquietudes. Saudades. Vazio. Esperanças. Duas horas e 46 minutos, cabelo desgrenhado, barba de 13 dias, jovem a precisar de dormir. G.F.C.
oracludosbasbaks@mail.pt
È incrível a quantidade de tarefas que não se fazem em mais de 6 meses e que depois, em apenas 5 dias surgem. Uma após outra até que se procrastine até aos últimos dos esforços físicos. Arrumam-se estantes, desarrumam-se memórias, descobrem-se novos sons. Basta uma música, sempre no “repeat” para que a preguiça de cumprir um dever chegue. Como diria o Manelinho dos livros da Malfada:« a preguiça é a mãe de todos os vícios e uma mãe é uma mãe, há que respeita-la». Sorrisos, Bds relidas, retratos caídos, apontamentos em branco. O escuro, a noite. Silenciosa, inerte. A ventoinha do pc, o som que se repete. DVDs alugados, powers da tv infinitamente premidos e despremidos. Políticas educativas, unidade sindical -Trabalho de SEPE - Cabeça voltada ligeiramente à direita, lê-se, memoriza-se, modifica-se, tecla-se. Volta-se novamente a cabeça. Repete-se. Farta-se. Casa de banho, mesmo sem vontade fisiológica. Espelhos. Inspira-se fundo. Arranjam-se motivações de hora em hora, de final de programa em final de jogo de futebol. Será assim a mais alguém? Isolamento. “Estuda”, ouve-se. Sermões, o meu futuro, desenvolvimento sócio moral -Página 69. Sexo. Assembleia da República: Estimulação da oposição. Sexo. Cadências, ritmos, melodias. Tentativas de fuga. Culpabilizações. Mais 5 páginas tecladas, mais 4 exercícios resolvidos, mais 3 folhas lidas. 2horas e meia da manhã. 1 corpo que se estende na cama. Meio copo vazio. Zapping, “mute”, 87.5, interferências, telefonias sem fios, comercialidades, marginalidades, voxx.. 4 dias sem ouvir a minha voz. Rio-me ao mesmo tempo que digo, alto, um impropério. Frigorífico. Dispensa. Regressos. Limpezas. Arrumações, planos. Desejos : que com pressão se trabalhe melhor, que a barba seja feita, que se passe ou que não se chumbe, que cheguem rapidamente as férias, que se saia, que se redescubra o mundo e os amigos. Que essencialmente este estado de pré demência tenha um fim. Amanhã é mais um domingo no mundo. Luzes apagadas. Intervalos. Inquietudes. Saudades. Vazio. Esperanças. Duas horas e 46 minutos, cabelo desgrenhado, barba de 13 dias, jovem a precisar de dormir. G.F.C.
oracludosbasbaks@mail.pt
sábado, julho 05, 2003
momentos
«Quando junto a minha mão negra, na tua mão Irmão branco, a sombra que no chão as reflecte é exatamente da mesma cor»
actor negro brasileiro, surgido de um zapping já quase o dia nascido.
actor negro brasileiro, surgido de um zapping já quase o dia nascido.
Morreu o bosquímano mais famoso do mundo
Quem não se lembra com saudade das gargalhadas que deu ao ver essa paródia mítica que marcou as nossas vidas: Os Deuses devem estar loucos. O filme é único, simplesmente genial. Apenas com alguns diálogos e muito humor físico à mistura com os célebres estalidos, conta a estória de um bosquímano que encontrou no deserto sul-africano uma garrafa vazia de Coca Cola atirada pelo piloto de um pequeno avião que sobrevoava a região. A garrafa, um objecto desconhecido pela personagem prinicipal, "Xi"e pela totalidade dos membros da sua aldeia, provocou o caos e confrontos físicos entre os elementos da comunidade. A história prossegue com a obrigação de "Xi" livrar-se da garrafa, deitando-a ao mar junto "ao fim do mundo", na costa sul- africana. Nunca imaginaram os actores deste filme que dariam a conhecer ao mundo a sua simples e descomplexada civilização. Nunca imaginou, "Xi", interpretado pelo actor N!Xau (assim mesmo com um ponto de exclamação que, imagino eu, deverá corresponder a um estalido) que a sua actuação brilhante e despojada corresse os 4 cantos do mundo.
Este filme, ou a triologia, se não estou em erro, traz-me recordações gratas. Foi o primeiro filme que me lembro de ter visto em casa, quando se comprou um video Beta, acho que ainda nem idade tinha para me lembrar bem do que quer que fosse. Além disso, nunca esquecerei uma cena em que dois bosquímanos, na segunda ou terceira sequela, tentam sair de um tanque da água. Nunca esquecerei, também porque esta cena foi "sorrida" e partilhada com o meu pai, na única vez que fui ao cinema com ele. Há momentos que ficam gravados e sem dúvida, o ar de basbaque com que Xi fica ao levar com a garrafa de coca cola na cabeça e toda a sua demanda em se livrar desse objecto dos loucos deuses, irá soltar em mim sempre um sorriso de admiração e saudade.
É pois com tristeza que descobri há momentos, através do 24 horas, na pausa de um estudo entediante, que o actor N!Xau tinha falecido. Segundo a agência lusa :
O mais conhecido "Khoisan" ("bosquímano") do mundo, N!Xau, a estrela do divertido filme sul- africano "Os Deuses Devem Estar Loucos", morreu esta semana em circunstâncias ainda por apurar, noticiou sexta-feira o diário "Beeld".N!Xau, que se acredita que contava 59 anos, foi encontrado morto numa floresta dos arredores de Tsumbwe, na Namíbia, próximo da fronteira com a África do Sul, onde residia. Segundo aquele diário de língua "afrikaans", citado pela agência noticiosa sul-africana, SAPA, N!Xau havia saído de Tsumbwe segunda-feira para ir à floresta apanhar madeira, mas nunca regressou, tendo o seu corpo sido encontrado dias mais tarde.
Poderá dizer-se que morreu o melhor actor bosquímano da história, mas também se poderá afirmar que morreu um homem único na história do cinema. Em 1980, Os Deuses devem estar loucos, rendeu qualquer coisa como 60 milhões de euros e N!xau continuou na sua pacata aldeia, apanhando madeira, vivendo de tanga. N!xau preferiu a sua comunidade, a sua realidade, a sua maneira simples de estar na vida à vida nas grandes cidades, ao mundo dos que se criaram Deuses de si mesmos. Talvez também ele nos julgasse loucos. Gostaria de saber quais as suas reacções a este nosso mundo, quando por exemplo lhe pagaram viagens a França, Estados Unidos e Japão. O que terá pensado sobre a Torre Eifel? A que terá associado os arranha céus de Nova Iorque? Terá saudado com aquele seu sorriso característico milhares de humanos amarelos com olhos rasgados, e máquinas relampagueantes focadas em si? Não sei, mas como será essa experiência de encontrar assim este mundo? Como será ter na campa do cemitério "morreu, acredita-se, com 59 anos"?
Estou quase certo que neste momento as 3 cadeias de televisão nacional estão em pulgas para transmitir o filme em horário nobre, talvez já na próxima semana. Nestas mortes mediáticas acontece sempre isso. Talvez agora, que temos novas gerações mais consumidoras, o filme triplique as suas audiências. Talvez relembremos ou descobramos os bosquímanos, "Xi" e a garrafa de cocacola. Eu marco já o meu lugar. Afinal de contas a minha infância também se fez de "Xi" e a ele o meu obrigado. G.F.C.
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sexta-feira, julho 04, 2003
«Sadam diz estar vivo»
«Sadam diz estar vivo». Não, não é um tema de nenhum programa do outro mundo, não é uma citação da Pomba Gira. É mesmo um cabeçalho do noticiário das 19h do Canal Sic Notícias. Sim, é verídico, estas 4 palavras apenas. Alegadamente, a cadeia de televisão Al Jazeera, noticia a existência de uma gravação onde o sósia do nosso Quim Barreiros afirma estar vivo, preparando uma resistência e apelando à revolta contra o invasor ianque.
Ao que parece, fontes seguras próximas do ditador, afirmam que este se encontra bem de saúde, escondido algures num bunker ainda não detonado pelos americanos, quiçá, mesmo por baixo do quartel general da administração busheriana. Sadam tem aproveitado para escrever ( com o seu próprio sangue, aproveitando as hemorragias dos sósias mortos em combate heróico) novos surpreendentes versículos do Corão, tem utilizado a internet para frequentar sites duvidosos e encomendar champagne francês que emborca por cada boa nova de soldados inimigos abatidos. Além disto a música tem acompanhado os seus tristes e solitários dias. Uma vez que a rádio iraquiana se tornou «livre», as frequências do país berço da civilização só passam música anglosaxónica. Algo que terá irritado Sadam. Porém, num golpe de sublime ironia, Hussein soube tirar proveito desta nova liberdade cultural nesta sua Primeira Aparição. Vejamos. A gravação onde Sadam diz, afirma, certifica o mundo, que não está morto, é acompanhada de êxitos dos Bee Gees Staying Alive e dos Pearl Jam Alive.
Sinceramente não sei se está vivo, se está morto. Que se preocupem os americanos e os ingleses cujos cidadãos do seu país são emboscados e mortos todos os dias. Estes, ao menos que no último suspiro, antes de dizerem "tell her i love her", se sintam felizes por ter dado a vida pela luta de um mundo mais justo e igual. Que ao menos morram iludidos. O que realmente me preocupa ou não, é a forma como são dadas estas notícias. Mesmo sem querer estar a analisar o possível pleonasmo ou a lógica deste cabeçalho da Sic Notícias, é com esgar de felicidade que o leio e que me alegro por se fazer tão bom humor em Portugal. Espontaneamente, assim o espero.
Resta-nos também esperar pela Segunda Aparição, talvez a 4 de Agosto. Esperar pelo merchandising à volta do Santo Sadam - Fénix Renascido, pela venda no Alabama de pelos do seu bigode garantidamente genuínos, pela leilão em Londres da sua úlltima boina, por toda a capitalização à volta de mais um mito moderno. Tenho pena que Sadam nunca tivesse lançado um CD. Foi mal pensado por parte das grandes editoras multinacionais. No dia em que Sadam dissesse "estou morto", para os meios de comunicação de todo o mundo, as vendas planetárias do seu trabalho discográfico iriam disparar.
Pois bem, enquanto a saga não tem mais desenvolvimentos, enquanto o outro Basbaque, Ali o Cómico não tiver um Late Night Whit Ali, na CBS, enquanto não usarmos todos como recuerdos uma T - shirt do Hard Rock Café Bagdad, apreciemos em paz estas coisas insignificantes que nos rodeiam. Que todos saibamos dizer, tal como ele: «estamos vivos». G.F.C.
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