quarta-feira, setembro 29, 2010

blues do sertão

Tudo em vorta é só beleza
Sol de Abril e a mata em frô
Mas Assum Preto, cego dos óio
Num vendo a luz, ai, canta de dor (bis)


Tarvez por ignorança
Ou mardade das pió
Furaro os óio do Assum Preto
Pra ele assim, ai, cantá de mió (bis)


Assum Preto veve sorto
Mas num pode avuá
Mil vez a sina de uma gaiola
Desde que o céu, ai, pudesse oiá (bis)


Assum Preto, o meu cantar
É tão triste como o teu
Também roubaro o meu amor
Que era a luz, ai, dos óios meus
Também roubaro o meu amor
Que era a luz, ai, dos óios meus.


Luís Gonzaga/Humberto Teixeira , 1950

"Fritz the Cat" days

terça-feira, setembro 28, 2010

Cagada em Três Actos I

Quando éramos putos, antes de termos ganho um hipotético gosto adulto-requintado, éramos bem-dispostos e havia filmes que até não nos importávamos de pagar multa no videoclube só para assistir mais uma vez. Não precisávamos de grandes conceitos. Basicamente queríamos porrada, mistérios e amor em doses “puto-herói-David-mata-Golias-e-beija-na-boca-(sem-língua)-a-mais-bonita-do-liceu”. 

Quando eu via estes filmes o meu pai ria-se, dizendo-me: «Cagada em três actos, sabes o que é isto? Uma cagada em três actos!» Eu sempre me diverti com a expressão. Na verdade, quem teve a sorte de nascer nos anos 80 assistiu a um número infindável de cagadas em três actos. 

Gostaria de rever convosco uma das maiores que se tornaram parte da minha infância… O filme chama-se “Fúria Sangrenta” que como todos sabemos traduzido para inglês é “BloodSport” de 1988. Protagonista: João Cláudio da Dama, um dos melhores artistas bruxelenses nascidos no seio das competições de bodybuilding. Este é o filme que o fez rebentar nos Estados Unidos e pelo lirismo da cena final épica podemos todos perceber porque é que o mundo ocidental e oriental se rendeu à sua arte e engenho. Infelizmente, o nosso herói que fez ballet durante 5 anos e foi Mister Bélgica, não ganhou o Óscar nesse ano. 

A trama não é complicada mas original... Um ringue ilegal numa competição secreta chamada Kumite, lutas até à morte por eliminação, treinos duros durante todo o filme até ao combate final. O que poucos sabem é que este é um filme baseado em factos verídicos, é a biopsia de Frank Dux. A verosimilhança, aliás é um dos principais ingredientes ao longo desta fita. 

Nesta última cena, final dramático, não se vêm a quantidade de tijolos partidos com ajuda de apenas lenços molhados e duras articulações dos membros. Também não surge a ameaça do arquirival de João Cláudio, (o Chinês que abana os peitorais): “Cuidadinho, os tijolos não te batem de volta”! Nem tão pouco uma das cenas mais sangrentas da minha juventude a seguir à lesão em directo sofrida pelo Rui Águas do Benfica contra o Dínamo de Kiev. Essa cena em que o grande amigo de João Cláudio fractura explicitamente a perna em resultado do golpe baixo do chinês que mexe as mamocas, cafageste imensurável que é este mega arqui-rival, um actor asiático chamado… Bolo. Sim, Bolo. Bolo Yeung.

A genialidade deste filme também assenta na diversidade. Para chegarem à finalíssima os nossos homens tiveram de derrotar/matar, entre outros um lutador de sumo, um lutador das polinésias e um mexicano. O nosso amigo João Cláudio fá-lo, aliás, com uma perna às costas, ou duas a fazer espargata em bancos chineses. Aliás chega a bater o recorde de vitórias de Bolo Yeung, facto esse que este chinês, de mamilos com vontade própria recalca em si, até ao derradeiro combate…
Bom estou a dispersar-me nos requintes desta produção. O que interessa mesmo é a cena final. Analisemos apenas recorrendo à imagem e a conceitos soltos. Por ordem cronológica: 

-cabelo polido de João Cláudio, em ringue, o aprumo é importantíssimo.
- mamocas malévolas dançantes.

- FRASE QUE MARCA O FILME: a tal que estava recalcada depois do record batido: «you break my record, now i break you like i did to your friend». (Quando queríamos ser maus nos anos 90 repetíamos isto e toda a gente nos tinha respeito. Especialmente quando imitávamos até a perfeição quer o tom, quer o apontar para o joelho com o lenço harley davidson roubado, quer especialmente a espécie de dobragem que o próprio actor ou o sonoplasta do filme fizeram. Algo que conseguiu maravilhar-me durante anos esta mescla de ventriloquismo exótico e artes marciais)

- vilão que exala ranho como o Cristiano Ronaldo
- pontapé que nitidamente não bate na cara de ninguém e som que é de tudo menos de um pontapé.
- árbitro agarrado e empurrado pelo vilão mas usado como catadupa pelo herói. (Remake/Plágio do Mockumentary “José Pratas VS FCPorto”)
-linguagem gestual de como quem diz, as minhas mamocas não estão a mexer, estou fulo contigo João Cláudio, chiça.
- pontapés de João Cláudio no ar mas com som
- minuto 1.37- "eh pá precisamos aqui de um preto qualquer para actor secundário, escolham aquele que provavelmente nunca ganhará nada na vida o...o Forest Whitaker…
- chinês de óculos à paco bandeira muito ansiosozinho
- publico que grita desconjuntadamente "KUMITE"
- Câmara lenta de João Cláudio. Raiva de João Cláudio.
- chinês parece que acabou de sair do mar e tem água no ouvido direito. Incorpora o demónio e ataca.
- João Cláudio também incorpora o Diabo
- serie de 23 socos e pontapés em que nenhum acerta. Nenhum.

- auge da cena: Bolo tira cocaína da zona testicular dos calções e lança -a nos olhos de João Cláudio. A forma como o nosso bruxelense reage ao cegar é motivo "per se "para um Óscar. Vi isto mais de 10 vezes quando tinha tempo livre, ou seja na época de exames da faculdade.
- 3.45: único murro no ar verosímil.
- saltos panisguinhas de vitória de Bolo Yeung
- o drama, a tragédia, a cegueira e belzebu em João Cláudio
- flashbacks dos treinos (plágio de tsubasa)
- João Cláudio apalpa árbitro reconhecendo-o….suspeito...
- Cego, joão cláudio, acerta mais pontapés que vendo.
- JOÃO CLÁUDIO CEGO VENCE DEPOIS DE TRIPLA PATADA. 
- OS BONS E CEGUINHOS VENCEM OS MAUS QUE MEXEM AS MAMAS.uma, digam-me uma alegoria da vida, do mundo, das relações, melhor que esta? G.F.



É preciso voltares a por o pé no pedal. Subires a rampa. Continuares a pasmar-te. Só se os teus outros mundos  te forem ainda admiráveis, poderás ter, aqui e além, alguma vida. É necessário desenganchares o travão. Desceres a rampa e acreditares que depois do salto e da queda há meia dúzia de colchões, esponjas, sorrisos, almofadas a dar-te amparo. É imprescindível que te embasbaques. Comigo, contigo, com o que ainda restar da imaturidade entre todos. G.F.

À quoi ça sert l'amour

Guerra


Hoje ocupei as minhas mãos contigo. Foi para te sentir a pretensa perigosidade. Sentir que, de certa forma, ainda consigo ser o teu inimigo e que tu continuas a gostar da nossa guerra.  Não, não pecas por gostar de batalhas, nem pecas por ansiar ser vencida mais uma vez. Nunca pecas e isso desmascara-me a santidade. Faz-me nunca ter uma bandeira branca sobresselente. Sem tréguas, nas tuas trevas precisas que te faça nascer um incêndio. Precisas que alguém te adivinhe os rastilhos. Tens vários. Para cada uma de ti soldada nunca haverá um só alquimista, embora cada um de nós ache que encontrou a fórmula secreta da tua paz. Hoje ocupas-te a riscar falsos tratados. A rasgar montes de letras onde irámos o que desdenhávamos um do outro. A guerra é guerra. Nenhum de nós tem fé em convenções. Matámo-nos, morremos em glória derramada nos nossos corpos. Pequenos heróis, grandes covardes. A guerra é a guerra e hoje que te ocupo, não te vais poder exilar. G.F.

Times, they are not changing...

 



Ciganos em Belzec Camp, Polónia Alemã 1942



 
Propaganda Política "Lega Nord", Itália, 2003        Propaganda Política "Forza Nuova", 2004


                                                       França, 2010

ChildPubMantra II

Se depois de 3 dias de festivais ainda fores dançar muximas a um domingo e ainda depois te vires em discotecas manhosas, lembra-te do que as batatas fritas te diziam:
«Até que idade pensas divertir-te?»G.F.

ChildPubMantra I

«Se ao fim do dia te sentes cansado, procura um amigo, que a casa te acompanhará» G.F.

Regresso


 Voltei a este blogue. Não sei bem porquê ou pior, temo saber demasiado bem. Como podem ver os comentários foram todos apagados. Não que eu quisesse. Culpem os fazedores de sites e destas geringonças. Tenho esses antigos comentários todos guardados: se algum de vós, parte destes 7 anos de blogue, os quiser rever, basta dizer. Comentem ou voltem a comentar ou abstenham-se. Eu gosto mais de ler mails. Ler, porque responder, raramente. Perdoem-me por favor por isso. O meu mail continua a ser o mesmo, o mail das escritas digo: basbaque@portugalmail.pt. Manifestem-se, digam que passaram por aqui. Gosto de saber que há alguém ai, a tentar também ler mais um regresso meu, ou a ler palavras de quando ainda tinha menos 7 anos. Gosto especialmente que aqui parem os meus amigos e amigas, e aqueles estranhos anónimos que ainda só não são amigos apenas devido ao desconhecimento mútuo. Gosto sobretudo que isto não seja o Facebook. Boa noite. G.F.