domingo, julho 20, 2003

Porque blogo?

Escrevo, antes de mais para aqueles que tiveram a amabilidade de me enviar e-mails. Embora tivesse curioso em receber um feedback não tinha, sinceramente, esperanças que alguém se desse ao trabalho de o fazer da forma que como vocês o fizeram. Com claridade, simplicidade, belas palavras, simpatia e acima de tudo curiosidade em saber o porquê do Oráculo dos Basbaques e, abarcando essa dúvida, o porquê de ter feito um blog. Talvez tenha de concordar convosco que o “porque sim” não basta.

Então, faço aqui uma introspecção e tento responder dando algumas explicações que amanhã poderão ser completamente diferentes. Ou não. Como escrevi, no primeiro post, a ideia de fazer um blog surgiu-me do acaso, da conversa com um colega de faculdade, que me disse tratar-se de uma forma bastante acessível de ter uma home page. Naquelas conversas passageiras que se têm circunstancialmente, disse ainda tratar-se de um local de discussão, de troca de diálogos “estimulantes”. Cheguei a casa e quando me preparava para tentar estudar, surgiu-me a ideia de ir ver se seria assim tão fácil. Lembrei-me que já há dois anos, tinha conhecido uma amiga que me apresentou ao mundo das páginas pessoais de posts. Lia frequentemente algumas, verdadeiros diários on line onde o bom gosto, a cultura e uma forma de escrever solta e intimista me deliciaram e me fizeram descobrir novos mundos deste mundo. Deixei, com os tempos, de os frequentar, fruto das vicissitudes da vida e nesse dia, em meados de Julho, relembrando-me dessas doces leituras, perguntei num canal de conversação de gentes do teatro, se sabiam do fenómeno dos blogs. O Henrique, com o seu Olhar Crítico, deu-me as indicações para entrada neste mundo e a ele agradeço “bloguicamente” o facto de ter lido o meu e de o ter colocado generosamente nos seus links. Tinha lido apenas o blog dele e desde logo me pareceu familiar a necessidade de fazer o que se faz na blogosfera. Tal como ele, não sou jornalista. Também não sou eurodeputado, não sou frequentador dos locais in de discussão politica, cultural. Tento escrever apenas com sinceridade.

Porquê Oráculo dos Basbaques? Achei que esta espécie de revista de opinião pessoal devia ter no seu título Oráculo. Local das minhas respostas e não dos Deuses. E sabemos que um oráculo, segundo a mitologia grega, era um local onde se davam repostas cabais, infalíveis. Porque não tornar paradoxal o conceito e por alguém sem a mínima autoridade, à partida, a ser o frequentador desse Oráculo? Nada melhor do que um parvo, alguém ignorante mas que ao mesmo tempo vai rindo e castigando nas entrelinhas as morais. Lembrei-me das conversas que tenho com deficientes mentais e da genialidade com que, mesmo tendo alguns atrasos ditos cognitivos, conseguem surpreender e dizer frases verdadeiramente Sábias. Lembrei-me das crianças com que trabalho. As crianças que muitos subestimam, mas que dizem o que pensam, embora cruéis, verdadeiras, sem as máscaras e com a inocência ainda por perder. Oráculo dos Parvos soaria mal e então depois de alguns 20 minutos a pensar numa expressão que o meu pai, da Beira Alta, utiliza muitas vezes lembrei-me. Basbaque. Basbaque,pateta, alguém que pasma. Confesso que me apatetizo muitas vezes lá fora, pareço meio desligado, perto de Plutão mas atento. Confesso que me sinto muitas vezes basbaque. E não, não tomo ácidos, não inalo drogas boémias, não tive nenhum acidente em criança. Pelo menos que eu tenha conhecimento. Gostei da palavra basbaque, sempre gostei de ouvir o meu pai dizer mesmo quando era dirigida a mim. Portanto assim ficou, surgiu como poderia ter surgido outra coisa qualquer. Estas coisas surgem como os nomes das Bandas, lembrei-me das duas palavras e das associar. Pronto foi isso. Talvez não venda (risos) quero lá saber. Sinto-me bem a escrever num Oráculo dos Basbaques e quero também dizer que este blog não tem qualquer linha editorial, qualquer temática. Não fala só de basbaques embora todos os textos revelem a minha admiração a minha pasmação em relação ao que observo nessas viagens da mente pelas terras dos pequenos nadas e dos momentos de beleza simples. Também não tenta só dar resposta, tenta que se façam mais perguntas. Quanto ao título, penso que a descrição por baixo dele (e que tenho de copiar todos os dias devido aos acentos) diz isto tudo mais resumidamente e escuso de perder tempo a falar do mesmo. Passo então a explicar a razão de ter um blog, de o dizer que tenho a algumas pessoas, enfim a razão da sua exposição pública.



Sinto, tenho a necessidade de escrever, de pensar sobre o que me rodeia. De me rir dos exteriores e de ironizar com os interiores. È a minha arma. Contra mim principalmente, ou a favor da minha vontade de me espelhar em grafemas. É assim que vou percepcionando este mundo, com o qual me embasbaco todos os dias. Positiva e negativamente. Assim, este blog é talvez um prolongar publicado daquilo que faço quando arranjo tempos para me viciar nas salas de conversação: teclar sobre a vida, as questões filosóficas fulcrais remisturadas com as maiores banalidades. Há muito que deixei de falar privadamente salvo raras e belas excepções. Há muito também que sinto ter uma vontade de comunicar e que muitas vezes é o meu monólogo a minha droga. Droga mental, droga produzida por mim, que me atenua numa noite mais melancólica e que me extasia em dias felizes. Há muito que sinto esta necessidade de esconder quem sou, de ser o fingidor pessoano. Há muito que necessito de um palco onde o fluxo de ideias que me vem de dentro e a vontade de produzir acção sobre os outros me faz libertar neste processo de escrita. Escrevo isolado, mas tento não falar sobre esse isolamento, apenas o uso para condensar as memórias do tempo em que estive acompanhado por gentes ou ideias, pelas acções. Confesso que em tempos usei pouco a escrita. Nem comigo a conseguia partilhar. Por exemplo poesia, recuso-me a partilhar num blog.

Achei, motivado por amigos, que não deveria cair na inércia de deixar apenas em cinzas as páginas do meus escritos mentais, dos meus devaneios cognitivos, das folhas da minha alma lidas relidas mentalmente vezes e vezes sem conta. Achei que estaria a desperdiçar memórias. Talvez isto me servia como um báu, onde nostalgicamente amanhã sentirei que todos estes posts, visto à luz de uma maior vivência e maior serenidade, são uma tremenda porcaria.

Como dizia, é um verdadeiro log, um monólogo que escrevo aqui como poderia estar a escrever numa janela já gasta de tanto clicar. E como escrevo no IRC assim escrevo aqui. Mas aqui estou mesmo isolado, não tenho a sensação de estar a escrever para uma plateia de users vendados.. Aqui os textos que produzo são tão grandes que tenho a certeza que os que estiverem a ler agora esta frase com atenção são aqueles que me interessa ouvir, comunicar, fazer nós de união. Também através deste blog, estou escondido atrás da melhor cortina, da palavra. No palco mais sublime, o da escrita. Fora deste palco, continuo eu mesmo reservado a vocês de mim mesmo. Continuo apenas um lado de mim sem mostrar a ponte que vai para o outro. Mas aqui, aqui tenho espaço para me recriar, para inventar, para satirizar, aqui posso sonhar alto, aqui posso me mostrar a vocês. Disse, no primeiro post, exibicionismo implícito. Talvez sim, seja exibição, talvez me queira demonstrar. Talvez isto seja uma versão big brotheriana da escrita. Mas não queremos todos que se interessem por nós? Não precisamos todos dessa atenção, mesmo que alguns de nós sejamos felizes e precisemos da solidão de tempos a tempos? Penso que se as coisas que digo têm algum valor ou estão certas, hão de se espalhar por si mesmas um dia e não tenho de me preocupar muito com isso. Descobri também que para se escrever é preciso ter-se uma quantidade q.b. de vaidade interior. É antes de mais preciso gostar do que o que escrevemos para o podermos mostrar aos outros e esperar não que gostem mas que leiam atentos. Porém, ainda estou a descobrir porque é imensa a quantidade de folhas que apago, de documentos que acabam na reciclagem.

São esses, outros problemas. Como dizia, talvez seja exibição, mas não é explícita, exibo-me mesmo assim mascarado pela leitura de alguém que modifica logo à partida o que sai de mim. Esse alguém és tu que lês. Aqui, a minha exibição é a minha estreia para com um pequeno grupo de pessoas a quem digo que tenho isto, ou para com viajantes perdidos nos trilos da cibyerlândia que por acaso descubram este “refúgio da escrita”. Aqui, a minha exposição virtual penso que não passa de um exorcismo da solidão. Aqui, a minha escrita é um ansiolítico e ao mesmo tempo uma tentativa provavelmente utópica de encontrar alguém que me compreenda. Através disto, não tenho qualquer tipo de pretensão a não ser a de encontrar gente que goste de mim e que me elogie com sinceridade porque preciso. Porque preciso mesmo porque também nos alimentamos disso eu nesse campo não me consigo auto medicar. Ainda mais importante que isto preciso de discutir, necessito, mais que gostem de mim, que me critiquem e que me ajudem a perceber. Essencialmente que me ajudem a aprender e a crescer como cidadão tolerante e crítico em relação aos outros e a mim mesmo.

Através deste site com um nome estranhíssimo, não há qualquer missão, qualquer tentativa de profetização, de encontrar novos paradigmas, de criar cultura. Haverá tempo ou coragem para embarcar nessas naus da ilusão do endeusamento próprio. Termino dizendo que sinto que melhor forma de vos responder (repito, hoje, porque amanha encontro certamente novas respostas) é citando simplesmente Pessoa ou Campos: «escrever não é a minha missão, é a minha forma de estar sozinho». Talvez seja mesmo só e apenas isso. G.F.C.

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