«Velho: (…)Será que já superaram o espanto da primeira vez, e agora só contam anedotas e jogam às cartas? Não acredito. A nossa terra é conhecida por as pessoas não saberem nem anedotas nem jogos! E quanto mais velhas mais espantadas ficam. Até pasmam colectivamente, em uníssono, em coro e o nome que mais se vê nas casas é “O pasmado”, “pasmaceira”. Até o dialecto da terra é conhecido pela “fala dos pasmados”, e a nossa entoação exprime um espanto permanente. (…)
(…) Actor: Se existe hoje em mim alguma força é a do principiante. (…) Se alguma coisa eu sei desde criança, sem necessidade de professores, é esta: que não podemos ter nada neste mundo, nem tu nem ninguém. Eu sou um Zé Ninguém fanático. E venho também da terra dos que pasmam, para quem nunca nada há de ser evidente e que se deixam dominar pela saudade quando não têm nada que os faça pasmar. E a minha nostalgia vai para qualquer coisa ainda mais forte que o simples pasmo: a estupefacção sem limites.»
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