sábado, outubro 11, 2003

Talvez o último romântico...



A RTP transmitiu ontem um resumo do Festival Galp Energia, o último concerto no Estádio de Alvalade. Só mesmo a música portuguesa de qualidade para me levar a esse estádio que jurei, aos 13 anos entre amigos, nunca lá por os pés. Clubismos bacocos à parte, a verdade é que aquilo já na era bem um estádio e hoje sempre me arrependerei de não ter assistido à maior vitória do Benfica desde que existo, o mítico 6-3.

Do concerto em si, recordo a companhia, as músicas de Sérgio Godinho cantadas de uma ponta à outra, a boa disposição da Seita dos Cabeças no Ar, o milionésimo concerto de Xutos e Pontapés, as danças ao som dos novos valores, a demagogia em palco de Pedro Abrunhosa, um David Fonseca que não é definitivamente para se ouvir ao vivo (a não ser que sejamos do sexo feminino e tenhamos 15 anos). Mas o dia, ou melhor, a noite trouxe um dos espectáculos mais mágicos que já assisti ao vivo nos últimos tempos. Um Senhor da M.P.B., Caetano Veloso. A RTP apenas transmitiu duas das suas canções. Pouco, mas valeu por todo o resumo.


Temo não saber escrever o que senti ao ouvir todas as canções hipnotizantes daquele homem de cabelo já grisalho, sozinho, apenas iluminado por uma luz branca, com a sua voz e o dedilhar de um único violão, o seu. Uma voz capaz de tocar almas, especialmente por causa da beleza e charme da sua simplicidade. Nesta noite de hoje, que revejo outra e outra vez um dos melhores DVDs de música que tenho e que fiz questão de ser a minha primeira compra, "Noites do Norte", volto àquela noite. Mas não volto só àquela noite. Viajo pelo Carnaval da Bahia, pela Lisboa que amanhece, pelos sons quentes de raiz africana, pelas areias imaginárias em praias desenhadas à nossa medida e onde encontramos aqueles que sempre amamos ou sonhamos. Cruzo, num ápice, as 4 estações e sinto-me sozinho e feliz por falar uma língua que é sem dúvida a mais bela inventada pelo Homem. Mas para ouvir Caetano nem precisamos de perceber Português. A sua voz e guitarra transcendem a Babilónia e soltam sorrisos, libertam a nossa pura estupefacção humana. Talvez seja ele, um dos “últimos românticos" que nos escreve Lulu Santos…Obrigado Caetano. G.F.C.



«Faltava abandonar a velha escola
Tomar o mundo feito Coca-Cola
Fazer da minha vida
Sempre o meu passeio público
E ao mesmo tempo fazer dele
O meu caminho só, único

Talvez eu seja o último romântico
Dos litorais desse Oceano Atlântico
Só falta reunir a Zona Norte à Zona Sul
Iluminar a vida
Já que a morte cai do azul

Só falta te querer
Te ganhar e te perder
Falta eu acordar
Ser gente grande pra poder chorar

Me dá um beijo, então
Aperta a minha mão
Tolice é viver a vida assim
Sem aventura
Deixa ser pelo coração
Se é loucura, então melhor não ter razão»

(Lulu Santos - Antônio Cícero - S. Souza)

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