…respostas, críticas, crónicas, verdades infundadas, teorias, encontros, paródias, conspirações, chalaças, ramboiadas, lágrimas, venenos, gentes, vícios, valores, palavras, perguntas, solidões, comunhões, fobias, frenias, neopatologias, actualidades, mundialidades, portugalidades. Ou só insignificâncias…
domingo, junho 27, 2004
Vivendo o Euro2004 IV - a minha avó e o Euro
okupas de palmo e meio
- Olá.
- Olá, então o que estão a fazer?
- Olha a subirmos às árvores, vamos construir uma casa.
- Está bem, mas quando fizeram as janelas, não as virem para aqui, senão descobrem que passo as tardes de domingo a ver televisão em vez de fazer os trabalhos de casa.
- Está bem, nós não fazemos. Mas ao domingo não dá nada de jeito, é mais fixe subir às árvores.
Ri-me, fechei a janela, fui tentar estudar. Antes tivesse uma árvore à minha espera que as malditas fotocópias. G.F.
sexta-feira, junho 25, 2004
Vivendo o Euro2004 III - Cumpriu-se Portugal.
Ontem fomos um por todos e todos contra a Inglaterra. Nesta pátria biológica ou adoptada, paquistaneses, alentejanos, ucranianos, minhotos, chineses, trasmontanos, angolanos, tripeiros, timorenses, beirões, brasileiros, ribatejanos, cabo-verdianos, alfacinhas, moçambicanos, algarvios, guineenses, ciganos, são-tomenses, checos, croatas, letões, búlgaros, gregos, holandeses, suíços, espanhóis, italianos, franceses, dinamarqueses, suecos, alemães, russos, todos gritámos no fim: Portugal, Portugal. E ao mesmo tempo que nas “Downing Streets” desse mundo se reiniciavam as discussões acerca de invasões estratégicas e aquartelamentos, minutos depois de rebentar a maior alegria colectiva a que já provavelmente assistimos, um inglês agarrava na minha bandeira, colocava-a aos ombros e a chorar gritava “Por tcho gal”. Pouco depois dizia-me abraçado a mim que nunca tinha aqui estado e que amava este país. E o amor que se espalhou pelos bares, pelas estradas, por todos esses trilhos resplandecentes de portugalidade, pelas ruas e janelas lusas das gentes de todas as idades, gentes da minha e da nossa terra, a gritar, a chorar, a cantar, a saltar, com uma alegria pura, fizeram da noite de ontem uma noite de liberdade. Sem frustrações, sem complexos de inferioridade, cientes das nossas capacidades, como um só Povo. Um pais que se vai esquecendo que é lindo, que é feito de gente de sorrisos fascinantes.
Ontem, acabei a noite como tantos outros. Sentei-me em cima do tejadilho de um “Fiat Tipo” frenético pela marginal, erguendo ao vento a bandeira, tendo à esquerda o Tejo, à direita Alfama, ao fundo o Mar e o Cristo Rei. Entre gentes de todos os catálogos, simples e refinados portugueses. Ora gritando pelo meu país, ora saboreando a brisa fria mas tão quente que me deixava os olhos cada vez mais em lágrimas. Ontem senti que podíamos ser mesmo nobres. Ontem senti-me valente. Ontem senti a voz mátria sussurrar-me ao ouvido. Ontem fui eu que defendi aquele penalty. Ontem fomos nós que o marcámos. Ontem fomos Heróis. Ontem cumpriu-se Portugal. G.F.
Quando
tu me vires no futebol
estarei no campo
cabeça ao sol
a avançar pé ante pé
para uma bola que está
à espera dum pontapé
à espera dum penalty
que eu vou transformar para ti
eu vou
atirar para ganhar
vou rematar
e o golo que eu fizer
ficará sempre na rede
a libertar-nos da sede
não me olhes só da bancada lateral
desce-me essa escada e vem deitar-te na grama
vem falar comigo como gente que se ama
e até não se poder mais
vamos jogar S.Godinho
segunda-feira, junho 21, 2004
Vivendo o Euro2004 II - O povo saiu à rua com a alegria que costumava ter
Os velhos do restelo, os intelectuais desapaixonados, os jornalistas fuínhas, que aproveitem a boleia de nuestros hermanos. Portugal precisa de quem acredite que somos capazes, que quando queremos somos melhores. Acreditámos no mito e foi D.Nuno, o Mestre que deu o verde à alma lusa, o vermelho ao sangue que nas artérias correu veloz num jogo de sofrimento, até ao minuto final da consagração. Nós acreditámos e nós vencemos. O Euro já está ganho há muito, mas ontem a vitória teve um sabor especial. Nas ruas,nas bandeiras, nos cânticos do povo luso aos milhões e do povo inglês, grego, russo, croata, alemão. «España intera esta de borrachera» gritavam os espanhóis. Nas avenidas, nas ruas, nas pracetas, nos bares, de bmw ou de fammel. A festa é nossa. Tinhamos o Euro, agora temos uma equipa. 10 milhões de convocados para consagrar a festa do desporto, se possível, com outras centenas de outros países. Sem fronteiras. Porque um abraço a um estranho não tem preço. Porque o povo pode não ter mais oportunidades de sair à rua com a alegria que teve ontem. G.F.
domingo, junho 20, 2004
coração vagabundo
Era também bonito que eu me agarrasse às já muito pouco quentes fotocópias e não confiasse mais uma vez na extrema sorte que tenho tido ao longo destes anos. Não acredito que precise mesmo de uma derrota para perceber que é preciso lutar para ter glória. Luta-se de alma aberta, acredita-se no triunfo quando definimos o que ele é. Eu ainda não descobri o que significa na minha vida futura o triunfo. Como podemos embarcar numa demanda por algo tão indefinido concreta e abstractamente?
De qualquer maneira, seja qual for o fim, a busca tem de ser feita a dois. Uma viagem sem ter um relato, sem alguém que nos ouça e se delicie com as nossas estórias, a nossa felicidade, é uma viagem híbrida. Sinto que chegar ao final do dia feliz sem ter ninguém para o dizer é chegar ao principio da noite triste. Os futuros pintam-se a dois. A duas cores, como aquelas alturas em criança, quando pegávamos com a mesma mão em dois lápis de cores diferentes e riscávamos duas linhas eternamente paralelas, rodopiando ao sabor do papel, sem arriscar finais.
Pois eu que agora aqui me sento, sei que tenho que ir estudar. Mas mesmo que estude, mesmo que passe, mesmo que tenha 18, não acrescento nenhum lugar ao meu itinerário. Não adiciono barreiras transpostas na minha caminhada. Quando se deriva, regressa-se sempre e ao mesmo tempo não se regressa nunca. Ainda vou a tempo de, neste momento, ser tudo. Mas ás vezes é preciso ser-se tudo para alguém, para não se ser ninguém.
...
Paro. Releio o que escrevi e não sei se fará algum sentido. Aliás já nem sei do que queria falar hoje. Talvez de mulheres, como faço em quase todos os textos. Paro novamente, oiço um novo álbum, Bebo Valdez e Dieguito El Cigala. De Espanha chega-me este lindo vento e um fantástico casamento entre saxofones, piano, violino e o gitano Flamenco. Apaixono-me pelo que oiço. Tento recomeçar a escrever e redescubro que a escrita é um vício como todos os outros que servem para nos apaziguar a mente quando «temos um dever e não o queremos fazer». Um vício perigoso em que a viagem que fazemos não nos impulsiona para o universo social imenso, lá fora. Faz-nos sim mergulhar dentro de nós. E tal como acontece com qualquer outro vício vou tentar agora extingui-lo, não sem antes interiorizar que é algo benéfico, que me dá prazer. Como qualquer outro vício.
Cinjo o meu prazer ao que agora oiço, à canção número 10 “Eu sei que vou te amar”, cantada com sotaque espanhol. Por momentos sou luso-espanhol. Por momentos fico em dúvida se não ficarei triste se a Espanha perder amanhã.
Não vou ficar. Caetano Veloso surge a meio da canção. Apenas falando. Poesia. Na nossa Língua Portuguesa. E tudo faz sentido:
«Meu coração não se cansa de ter esperança de um dia ser tudo o
que quer. Meu coração de criança não és só a lembrança de um
vulto feliz de mulher que passou por meu sonho sem dizer adeus e
fez dos olhos meus um chorar mais sem fim. Meu coração vagabundo
quer guardar o mundo em mim.»
Doce e tocante.
Portugal amanhã vai ganhar, fui eu e seremos nós que continuaremos a descobrir e a guardar este mundo. G.F.
sexta-feira, junho 18, 2004
Forest Gump
quinta-feira, junho 17, 2004
Porque 19 de Junho faz 60 anos, Chico Buarque.
Agora eu era o herói
E o meu cavalo só falava inglês
A noiva do cowboy
Era você
Além das outras três
Eu enfrentava os batalhões
Os alemães e seus canhões
Guardava o meu bodoque
E ensaiava um rock
Para as matinês
Agora eu era o rei
Era o bedel e era também juiz
E pela minha lei
A gente era obrigada a ser feliz
E você era a princesa
Que eu fiz coroar
E era tão linda de se admirar
Que andava nua pelo meu país
Não, não fuja não
Finja que agora eu era o seu brinquedo
Eu era o seu pião
O seu bicho preferido
Sim, me dê a mão
A gente agora já não tinha medo
No tempo da maldade
Acho que a gente nem tinha nascido
Agora era fatal
Que o faz-de-conta terminasse assim
Pra lá deste quintal
Era uma noite que não tem mais fim
Pois você sumiu no mundo
Sem me avisar
E agora eu era um louco a perguntar
O que é que a vida vai fazer de mim
Sivuca - Chico Buarque/1977
velho
Ontem dei por mim a pensar que o Cristiano Ronaldo era um puto bom de bola. Quando aprendia a ler a escrever olhava para alguém com 17 anos e era bem capaz de tratar por "sinhor".
Hoje imaginei-me a passar um fim de semana na terra do meu pai, perto da Guarda. Entre o frio pacífico e granítico do cenário e as personagens calorosas e simples. Quando aprendia a ser adolescente olhava para um fim de semana da terra como um martírio familiar, passado a ver televisão e a cumprimentar rotineiramente toda a família desconhecida que tenho.
Já temos passado, somos velhos. G.F.
domingo, junho 13, 2004
Eleições europeias
Vivendo o Euro2004 - I
Como disse, não reduzimos arrogantemente os gregos a ruínas. Fomos fracos. Mas a força do Euro2004 é feita da união da Europa à volta do desporto rei. O Euro não é a selecção portuguesa. É ter a oportunidade de, em plena noite de Santo António, gritar Tomo Sokota com um grupo de croatas, ter o privilégio de admirar os seios generosos das gregas, ensinar uns ingleses “o glorioso S.L.B.” em troca de cervejas, ouvir uns suecos gritar «Portugal allez», dar os parabéns a uma colega de Erasmus espanhola e ela ter respondido que trocava a vitória da Espanha por uma de Portugal.
A oportunidade de ter a Europa aqui em casa isso sim é motivo de orgulho. Não uma bandeira que em Agosto já estará arrumada.
Ontem vimos a bola, marchámos, recebemos visitantes, comemos sardinhas e dançámos música popular. Fomos, como no resto dos dias, tipicamente portugueses. Bons, ao contrário de quem nos organiza. Penso que o problema reside um pouco numa frase da peça de teatro que fui ver sexta-feira: «Lá fora existe um génio para cada mil medíocres. Aqui temos mais de mil medíocres que pensam que são génios». Os que nem são medíocres nem génios façam a festa pura. As ruas e este sol abençoado são nossos. E este campeonato já está ganho. G.F.
sábado, junho 12, 2004
2 avisos
quinta-feira, junho 10, 2004
gostava
terça-feira, junho 08, 2004
Povoamento
Não é isto nem a vista que eu tenho da minha sala para o Mar e para o Cabo Espichel que me faz ter um imenso orgulho de viver há 22 anos aqui. É viver na mesma terra onde viveu um Poeta que deu nome à Escola Preparatória onde aprendi a crescer durante 5 anos. È saber que por aqui passou um Homem que escreveu, entre muitos outros, um dos mais belos poemas de amor que conheço. Hoje cito Ruy Belo porque amo este Monte.G.F.
Povoamento
No teu amor por mim há uma rua que começa
Nem árvores nem casas existiam
antes que tu tivesses palavras
e todo eu fosse um coração para elas
Invento-te e o céu azula-se sobre esta
triste condição de ter de receber
dos choupos onde cantam
os impossíveis pássaros
a nova primavera
Tocam sinos e levantam voo
todos os cuidados
Ó meu amor nem minha mãe
tinha assim um regaço
como este dia tem
E eu chego e sento-me ao lado
da primavera
Ruy Belo
Aquele Grande Rio Eufrates
Editorial Presença
1996
5ª edição
às vezes
Às vezes escreve-se por tudo, outras escreve-se por nada.
Às vezes temos tudo para contar. Outras vezes as nossas pequenas estórias resumem-se à nossa embrionária e desinteressante história.
Às vezes urge escrever, acalmar a tesão neuronal, explodir em bebedeiras de fábulas, de contos, de discrições calorosas dos santuários momentos que nos tenham tocado. Outras em que não nos toca nada e tudo é gélido, imaculado, desapaixonado e desapaixonante.
Às vezes a pele toca-nos na alma outras vezes somos apenas restos de boas lembranças e moderadas esperanças.
Às vezes descobrimos a vida nas águas revoltas dos nossos dias tão sempre diferentes. Outras em que descobrimos estagnação nos pântanos do nossos dias tão sempre iguais.
Às vezes em equilíbrio, outras procurando-o, vamos tentando perceber. Em todas as vezes, antes de concluirmos, adormecemos. G.F.
vai
quarta-feira, junho 02, 2004
entre tantos
Tudo o que eu queria dizer de bonito e importante lembrei-me nestas noites e esqueci-me segundos antes de adormecer. Fiquei com a leve sensação que eram mesmo coisas geniais, daquelas capazes de fundar novos movimentos ideológicos. Infelizmente os lençois costumam vencer as lutas contra a propagação de novos ismos. Resta-me acordar com a certeza quase absoluta que poderia ser mesmo alguém neste Mundo. Ou se quisesse ou se dormisse menos ou se não existissem por aí umas centenas de tipos bem melhores que eu.
Peço desde já a desculpa à Mulher ( à com quem eu vou adormecer nos últimos dias da minha longa vida depois de saber de cor todas os seus medos e desejos, todas as belas rugas do seu rosto), por nunca lhe poder proporcionar a oportunidade de dedicar um discurso numa cerimónia qualquer de conceituados palanques. De qualquer maneira, a vida daqueles que nunca aparecem não é má de todo, embora cheguemos a metade dos 20 ainda com a escondida ilusão que seremos popstars ou presidentes da república. (ou ambos). G.F.
The Closest Thing To Crazy
How can I think I'm standing strong?
Yet feel the air beneath my feet.
How can happiness feel so wrong?
How can misery feel so sweet?
How can you let me watch you sleep?
Then break my dreams the way you do.
How can I have got in so deep?
Why did i fall in love with you?
[Chorus]
This is the closest thing to crazy
I have ever been.
Feeling twenty-two, acting seventeen.
This is the nearest thing to crazy
I have ever known.
But I was never crazy on my own.
And now I know
That there's a link between the two,
Being close to craziness, and being close to you
How can you let me fall apart?
Then break my fall with lovin lies.
It's so easy to break a heart,
It's so easy to close your eyes.
How can you treat me like a child?
Yet like a child I yearn for you.
How can anyone feel so wild?
How ca anyone feel so blue?
[Chorus]
This is the closest thing to crazy
I have ever been.
Feeling twenty-two, acting seventeen.
This is the nearest thing to crazy
I have ever known.
I was never crazy on my own.
And now I know
That there's a link between the two,
Being close to craziness, and being close to you
And being close to you
And being close to you
Katie Melua, Call off the search, 2003
terça-feira, junho 01, 2004
1 de Junho de 1982
A infância e as minhas brincadeiras não se escondem nos quintais, nas ladeiras, nos recreios, nos sótãos onde me evadia sem noções de lugares e tempos. A infância nasce-me ainda todos os dias, pintando a lápis de cera os pequenos momentos em que posso dizer que sou feliz. Feliz não, livre. Porque para mim a verdadeira Liberdade era e será e estará no acto puro de brincar. Ao faz de conta, aos jogos de bola sem vencedores, aos dedos feitos pistolas ou pistolas transformadas em dedos, às balas feitas de perdigotos, às pistas desenhadas por pés arrastados na areia, ao braço do sofá da sala que era o meu cavalo preferido, aos “desenhos zanimados” do brinca brincando, às tentativas de recordes mundiais de maiores filas de carrinhos pela casa toda, ao cabelo sempre suado e despenteado, camisas e fatos de treino de fecho desfraldados e ténis de velcro, à apanhada e às escondidas.
Nesse passado que se vai afastando ao sereno ritmo das memórias, reencontro-me criança e não é a nostalgia que descubro. Descubro as raízes de ser ainda assim, de ter a bênção de poder divertir-me como nunca, quando brinco com as crianças. De sorrir quando elas me dizem “ei amigo, vamos por ali que os ladrões já fugiram” ou quando descubro que se pode ver Sonho e Maravilha nos olhos pequeninos que brilham ao ouvir-me inventar que tenho dinossauros anões vivos no meu quarto e usam t-shirts brancas e galochas e cantam músicas dos morangos com açúcar.
Redescubro que a Terra do Nunca ainda pode ser habitável, e que embora as ampulhetas biológicas não parem, lá posso voltar, gritar dá cá mais cinco e receber os pequenos dedos que um dia, adultos, guiarão os nossos lemes. Terra de Liberdade perdida em locais ermos das nossas almas já quase completamente sentenciadas culpadas pelos nossos corpos, pelos vícios, frustrações ou luzes ao fundo dos túneis fundidas. Intervalo de tempo onde a magia realmente existe. Além de ser real é transparente, serena, directa, às vezes cruel, sempre leal. Nessa lealdade de palmo e meio que é o betão de pontes onde não são feitas cobranças.
È sem essas cobranças que vou encontrando os amigos, uns de 4 anos outros de 20. È nessas pontes que atravesso de lá para cá e de mim para eles que descubro a humanidade, a frescura de se ser ainda humano neste mundo que apelida sarcasticamente de ingénuos os que querem a paz, o acabar das armas. Os que comemoram hoje o Dia Mundial da Criança, dia 1 de Junho, o dia do meu aniversário, os putos, desarmam categoricamente os Grandes com os seus jogos, as suas corridas, os seus brinquedos. Porque ainda não têm medo do cliché, porque não sabem nem precisam de saber a maioria das palavras difíceis, porque ás vezes está-se bem melhor é a comer a partir da parte de baixo um corneto de morango ou a tirar macacos do nariz sem ninguém ver.
Em 1982 neste mesmo dia, a minha mãe e o meu pai olhavam para mim e eu dormia, tinha algumas horas de vida. È impossível descrever a hipnose das chamas de uma fogueira, tornar linguagem a água que brota de uma nascente. Ver uma criança, um bebé a dormir é uma experiência desarmante em qualquer situação mesmo marcial. Aproximação do divino, dúvida do ateísmo. Embasbacamo-nos. Olhamos directa e serenamente para o rosto de um futuro ainda adormecido.Contemplamos a esperança.
Obrigado pai e mãe pela oportunidade de ter chegado aqui tão feliz. G.F.