domingo, junho 13, 2004

Vivendo o Euro2004 - I

Reduzimos os gregos a ruínas? Não. Felizmente também não fiquei em ruínas. Talvez por ter percebido com os últimos anos de benfiquismo, que não se pode ganhar sempre. Que investir emoções em 90 minutos com grandes hipóteses de os lucros serem frustrações, é estúpido. Mas ainda é bom ser estúpido e fazer desta selecção alavanca do neo-esplendor luso. Somos muitos os que só nos lembramos que temos bandeira e um hino, quando o árbitro apita para mais um jogo. Os políticos de bancada, da lota e das tendas v.i.p. agradecem. E mais agradecidos ficam os publicitários que tão bem jogam com esta falsa crença que somos um país de pouca auto-estima.

Como disse, não reduzimos arrogantemente os gregos a ruínas. Fomos fracos. Mas a força do Euro2004 é feita da união da Europa à volta do desporto rei. O Euro não é a selecção portuguesa. É ter a oportunidade de, em plena noite de Santo António, gritar Tomo Sokota com um grupo de croatas, ter o privilégio de admirar os seios generosos das gregas, ensinar uns ingleses “o glorioso S.L.B.” em troca de cervejas, ouvir uns suecos gritar «Portugal allez», dar os parabéns a uma colega de Erasmus espanhola e ela ter respondido que trocava a vitória da Espanha por uma de Portugal.

A oportunidade de ter a Europa aqui em casa isso sim é motivo de orgulho. Não uma bandeira que em Agosto já estará arrumada.

Ontem vimos a bola, marchámos, recebemos visitantes, comemos sardinhas e dançámos música popular. Fomos, como no resto dos dias, tipicamente portugueses. Bons, ao contrário de quem nos organiza. Penso que o problema reside um pouco numa frase da peça de teatro que fui ver sexta-feira: «Lá fora existe um génio para cada mil medíocres. Aqui temos mais de mil medíocres que pensam que são génios». Os que nem são medíocres nem génios façam a festa pura. As ruas e este sol abençoado são nossos. E este campeonato já está ganho. G.F.

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