Uma vez que cobardemente não respondo a e-mails (apesar de ter esperança de o fazer, eventualmente, tarde, um dia) aqui deixo e cedo a uma janela de comentários. Essencialmente para dizer obrigado aos que me lêm.
Talvez torne este antro mais democrático ou de mais fácil acesso aos preguiçosos como eu que visitam milhares de blogs e que depois não se manifestam, a favor ou contra, o património ideológico e sempre autobiográficamente livre de cada um. Talvez conheça outros blogs. Talvez me arrependa disto e tire de vez também o endereço de e-mail.
Como experimentar é instrumento necessário à aprendizagem: manifestem os vossos comentários, dúvidas, incertezas, ofertas monetárias, sermões, correcções, mandatos à merda, propostas irrecusáveis, declarações de ódio, cabalas, feedbacks, basbaquices quotidianas, afinidades, pactos secretos de uma vida plena de felicidade( paixão eterna e Amor transcendental e mágico a fazer filhos para sempre, todos os dias a rir e a ofecermo-nos presentes e quando nos zangarmos curamos as fúrias e as desarmonias com sexo quente e louco junto a uma fogueira na praia de uma ilha perdida). Ou digam só que por aqui passaram. Obrigado. G.F.
…respostas, críticas, crónicas, verdades infundadas, teorias, encontros, paródias, conspirações, chalaças, ramboiadas, lágrimas, venenos, gentes, vícios, valores, palavras, perguntas, solidões, comunhões, fobias, frenias, neopatologias, actualidades, mundialidades, portugalidades. Ou só insignificâncias…
terça-feira, fevereiro 17, 2004
sábado, fevereiro 14, 2004
descupizados
Aos que não passaram o dia a ver dvds de comedias românticas, não ouviram mais o Hugh Grant que o “amante” a seu lado; aos que não perderam a virgindade neste dia; aos que não pensaram hoje pela primeira vez em fazer uma surpresa daquelas mesmo românticas, como enviar um postal via e-mail, oferecer flores e chocolates ou um cd de “romantic love balades volume VII”; aos que não se sentiram na obrigação de dizer a medo “eu amo-te”; aos que não decoraram com antecedência três ou quatro frases célebres de amor; aos que não dedicaram ao amado/a uma música inglesa da qual percebem 4 ou 5 versos; aos que não se sentiram estúpidos por não terem terminado as relações seis ou sete dias antes (sempre se poupava na prenda); aos que se sentiram validamente mais sozinhos mas felizes pois estar encalhado sempre é melhor que navegar de mau para mau porto; as todas as jovens almas por ai censuradas ou pelo destino, ou pela demasiada exigência emocional, ou pelos gélidos corações ou apenas por ai errantes e sós sem perceber até quando; aos que gastam as energias a escrever ou a ler blogs em vez de as canalizarem numa paixão imortal e avassaladora por alguém e algo em que verdadeiramente acreditem; a todos os que viveram um dia 14 de Fevereiro de 2004 que foi apenas dia 14 de Fevereiro de 2004, dedico estas palavras. G.F.
fosse sempre assim inocente...
Perguntaram à Carolina, de 7 anos, qual a melhor idade para uma pessoa se casar. Ela respondeu: «aos 82, porque já não se trabalha e pode-se passar o tempo todo a namorar sem sair do quarto.»
quinta-feira, fevereiro 12, 2004
Namoro
Fausto, o cantor maldito, assombra-me pela sua genialidade musical esquecida. E talvez por ser pouco falado ainda mais me fascine. Quando achamos que os autores são só nossos, ou de apenas algum grupo restrito de pessoas, sentimos que eles escrevem de facto para nós ou que nós seríamos capazes de escrever o mesmo, naquele dia em que partilhámos a mesma experiência. Fausto ainda é raridade. Gosto deste Namoro, deixa-me melancolicamente feliz. Fausto musicou as belas palavras do intelectual angolano Viriato da Cruz. Sempre que ouço esta música, especialmente a versão cantada por Sérgio Godinho, recordo-me das primeiras paixões de miúdo. Em que escrevíamos cartas a caligrafia acabada de aprender. Éramos simples. Bastava-nos escrever "Gostas de mim?" e por baixo desenhar três mal amanhados quadrados precedidos de um "sim", um "não" e um "talvez". Assinava-mos com o primeiro nome, entregávamos secretamente o papel bem dobrado e esperávamos ansiosos que ela dissesse que sim. E de vez em quando ela dizia. Talvez nem tudo tenha mudado muito. G.F.
Namoro
Mandei-lhe uma carta em papel perfumado
e com letra bonita eu disse ela tinha
um sorriso luminoso tão quente e gaiato
como sol de Novembro brincando de artista nas acácias floridas
espalhando diamantes na fímbria do mar
e dando calor ao sumo das mangas
Sua pele macia – era sumaúma...
Sua pele macia, da cor do jambo, cheirando a rosas
sua pele macia guardava as doçuras do corpo rijo
tão rijo e tão doce – como maboque...
Seus seios, laranjas – laranjas do Loge
seus dentes... – marfim...
Mandei-lhe essa carta
e ela disse que não.
Mandei-lhe um cartão
que o amigo Maninho tipografou: «Por ti sofre o meu coração»
Num canto – SIM, noutro canto – NÃO
E ela o canto do Não dobrou.
Mandei-lhe um recado pela Zefa do Sete
pedindo rogando de joelhos no chão
pela Senhora do Cabo, pela Santa Ifigénia,
me desse a ventura do seu namoro...
E ela disse que não.
Levei à avó Chica, quimbanda de fama
a areia da marca que o seu pé deixou
para que nele fizesse um feitiço forte e seguro
que nela nascesse um amor como o meu...
E o feitiço falhou.
Esperei-a de tarde, à porta da fábrica
ofertei-lhe um colar e um anel e um broche,
paguei-lhe doces na calçada da Missão,
ficámos num banco do largo da Estátua,
afaguei-lhe as mãos...
falei-lhe de amor... e ela disse que não.
Andei barbado, sujo e descalço,
como um mona-ngamba.
Procuraram por mim
«-Não viu... (ai, não viu...?) não viu Benjamim!»
E perdido me deram no morro da Samba.
Para me distrair
levaram-me ao baile do sô Januário
mas ela lá estava num canto a rir
contando o meu caso às moças mais lindas do Bairro Operário.
Tocaram uma rumba – dancei com ela
e num passo maluco voámos na sala
qual uma estrela riscando o céu!
E a malta gritou: «Aí, Benjamim!»
Olhei-a nos olhos – sorriu para mim
pedi-lhe um beijo – e ela disse que sim.
Letra de Viriato Cruz
Musicado por Fausto Bordalo Dias.
Gravado em disco por Sérgio Godinho
(«De Pequenino Se Torce o Destino»)
e por Fausto («A Preto e Branco»)
Namoro
Mandei-lhe uma carta em papel perfumado
e com letra bonita eu disse ela tinha
um sorriso luminoso tão quente e gaiato
como sol de Novembro brincando de artista nas acácias floridas
espalhando diamantes na fímbria do mar
e dando calor ao sumo das mangas
Sua pele macia – era sumaúma...
Sua pele macia, da cor do jambo, cheirando a rosas
sua pele macia guardava as doçuras do corpo rijo
tão rijo e tão doce – como maboque...
Seus seios, laranjas – laranjas do Loge
seus dentes... – marfim...
Mandei-lhe essa carta
e ela disse que não.
Mandei-lhe um cartão
que o amigo Maninho tipografou: «Por ti sofre o meu coração»
Num canto – SIM, noutro canto – NÃO
E ela o canto do Não dobrou.
Mandei-lhe um recado pela Zefa do Sete
pedindo rogando de joelhos no chão
pela Senhora do Cabo, pela Santa Ifigénia,
me desse a ventura do seu namoro...
E ela disse que não.
Levei à avó Chica, quimbanda de fama
a areia da marca que o seu pé deixou
para que nele fizesse um feitiço forte e seguro
que nela nascesse um amor como o meu...
E o feitiço falhou.
Esperei-a de tarde, à porta da fábrica
ofertei-lhe um colar e um anel e um broche,
paguei-lhe doces na calçada da Missão,
ficámos num banco do largo da Estátua,
afaguei-lhe as mãos...
falei-lhe de amor... e ela disse que não.
Andei barbado, sujo e descalço,
como um mona-ngamba.
Procuraram por mim
«-Não viu... (ai, não viu...?) não viu Benjamim!»
E perdido me deram no morro da Samba.
Para me distrair
levaram-me ao baile do sô Januário
mas ela lá estava num canto a rir
contando o meu caso às moças mais lindas do Bairro Operário.
Tocaram uma rumba – dancei com ela
e num passo maluco voámos na sala
qual uma estrela riscando o céu!
E a malta gritou: «Aí, Benjamim!»
Olhei-a nos olhos – sorriu para mim
pedi-lhe um beijo – e ela disse que sim.
Letra de Viriato Cruz
Musicado por Fausto Bordalo Dias.
Gravado em disco por Sérgio Godinho
(«De Pequenino Se Torce o Destino»)
e por Fausto («A Preto e Branco»)
quarta-feira, fevereiro 11, 2004
Algarves
Nunca gostei do Algarve ao sul. Abomino a maioria das suas praias. Pelo contrário, para Oeste, há um outro Algarve, um paraíso ainda felizmente por descobrir. Em Aljezur passei um dos melhores verões da minha vida. Já ao sul descobri multidões de um Portugal genuíno. Hoje estava a passear pela internet e deparei-me com ofertas turísticas para os que visitam Portugal na altura do Euro. Aconselhavam Armação de Pêra.
A última vez que lá fui estávamos em plena era pré expo. Destino: a praia mais portuguesa de Portugal. A banda sonora dessa chegada à praia, a memorável "Macarena", hino de sempre da dança mundial. Enquanto uns se seduziam com o som sexy, ordas de tugas chegavam em plena hora do Cancro. A mãe com a bela da lancheira a pesar 20 kg e guarnecida de toda a espécie de cozidos, enchidos, couratos, saladas e a belas litrosas e um distinto garrafão de tinto. O marido com o jornal desportivo na mão, o telemóvel (modelo tijolo) preso à tanga vermelha, cachucho de ouro, barriga 3 meses, o bonito bigode farfalhudo pro-Sadam e um boné da castrol com a pala apontada aos céus algarvios. Os filhos a gritarem ao mesmo tempo que corriam para o mar, pisando tudo quanto era "biff" tostado. Antes de mergulhar, é claro o belo do salpico na velha que estava desde as 8 da manhã para entrar no oceano. Metros quadrados para a toalha, nem ve-los.
E quando tudo parecia completo de portugalidade, oiço ao meu lado alguém que grita com sotaque minhoto: Oh zé, as sardinhas tão prontas, manda vir os teus filhos. E escondemo-nos do sarcasmo envergonhados quando essas sardinhas também são repartidas por nós e descobrimos que também é Bela, esta nossa gente. Talvez Armação de Pêra não seja um destino tão mau como sempre pensei. Estrangeiros, visitem o Portugal que quiserem, haverá sempre alguma sardinha para repartir. G.F.
A última vez que lá fui estávamos em plena era pré expo. Destino: a praia mais portuguesa de Portugal. A banda sonora dessa chegada à praia, a memorável "Macarena", hino de sempre da dança mundial. Enquanto uns se seduziam com o som sexy, ordas de tugas chegavam em plena hora do Cancro. A mãe com a bela da lancheira a pesar 20 kg e guarnecida de toda a espécie de cozidos, enchidos, couratos, saladas e a belas litrosas e um distinto garrafão de tinto. O marido com o jornal desportivo na mão, o telemóvel (modelo tijolo) preso à tanga vermelha, cachucho de ouro, barriga 3 meses, o bonito bigode farfalhudo pro-Sadam e um boné da castrol com a pala apontada aos céus algarvios. Os filhos a gritarem ao mesmo tempo que corriam para o mar, pisando tudo quanto era "biff" tostado. Antes de mergulhar, é claro o belo do salpico na velha que estava desde as 8 da manhã para entrar no oceano. Metros quadrados para a toalha, nem ve-los.
E quando tudo parecia completo de portugalidade, oiço ao meu lado alguém que grita com sotaque minhoto: Oh zé, as sardinhas tão prontas, manda vir os teus filhos. E escondemo-nos do sarcasmo envergonhados quando essas sardinhas também são repartidas por nós e descobrimos que também é Bela, esta nossa gente. Talvez Armação de Pêra não seja um destino tão mau como sempre pensei. Estrangeiros, visitem o Portugal que quiserem, haverá sempre alguma sardinha para repartir. G.F.
Deixem-nos rir
Rir é de facto a melhor forma de abordar esta vida e de a ultrapassar com qualidade. A Biologia, a Neurofisiologia, a Psicologia Social explicam-no. Não gosto desta moda da “Stand Up Comedy” que tem vindo a dominar a televisão portuguesa. Muita quantidade e pouca qualidade. Às vezes penso que entrámos na obrigatoriedade doentia de nos rirmos. Mas rir é como pensar em sexo, surge sem barreiras. Deixem-nos simplesmente rir.
Sempre me ri (mesmo antes de ter começado a pensar em sexo) e sempre me senti agradecido pelos pequenos instantes em que o pude fazer. Neste post não quero portanto criticar os quilogramas de piadas, anedotas, lugares comuns, sketches, imitações que nos invadem os campos atencionais. Quero elogiar o humor.
Não somos obrigados a rir, mas temos. Se desde à partida começamos a chorar, qual a melhor forma de combater o infortúnio dessa certeza que é a morte, senão rirmo-nos? Mas rir de quê? Do rídiculo. Dos absurdos do dia a dia. Porque não, da simples queda de uma velhota na rua...Rimo-nos de tudo e absorvemos o humor numa rotina diária. Rimo-nos dos Tonys, dos Zézés, das Tias, dos Alentejanos, dos Pretos, das Loiras, das Bruxas e dos Professores Mamadus. Palhaços que vivem em cada um dos nossos conhecidos. Rimo-nos dos estigmatizados, dos diferentes e também dos que são mais iguais aos de si mesmos. Rimo-nos dos grupos. Rimo-nos das tribos. Rimo-nos dos velhos e das crianças. Adoptamos preconceitos e vestimo-los de gargalhadas. Se queremos rir temos o trabalho facilitado ouvindo os políticos e penso que até os autores da "Contra Informação" estão agradecidos aos políticos pelo sucesso do seu programa. Os homens que, poderosos dominam este país, são de facto um dos maiores veículos das gargalhadas. Rimo-nos da ignorância de um povo que recebe a Selecção com cartazes com o dístico: "ELEVÀMOS BEM ALTO A FAÌSCA". Rimo-nos então dos inquéritos de rua. Rimo-nos com a genialidade de Homens que mordem cães e Gatos Fedorentos. Rimo-nos de Hermans do século passado, de Ruefes, das guerras dos Solnados, do lado B do Tochas, do Castelo Branco do Bruno, da tourada do Aldo Lima. Rimo-nos das bebedeiras dos amigos, rimo-nos das gafes dos professores. Rimo-nos da nossa mesada. Rimo-nos do desespero próprio e dos outros. Rimo-nos dos que acham que nos estamos a rir deles. Rimo-nos da pessoa que amamos, senão provavelmente nem a amávamos. Muitas vezes fazemos rir os outros quando não encontramos o caminho para o fazermos a nós mesmos. Rimo-nos frente ao medo, mascaramo-nos de sorrisos frente à solidão. Rimo-nos para não chorarmos.
Definitivamente temos de nos rir. Até para nos identificarmos. Ninguém se ri como nós, ao faze-lo assinamos a nossa singular humanidade. Além disto temos a liberdade de nos rirmos quando, como e de quem quisermos. Nessa sinceridade partilhada de uma gargalhada podemos encontrar tanto afinidades como amarguras. Tanto comunhões como fronteiras.
Rimo-nos dos outros e principalmente de nós e da nossa condição humana tecida de fatalidade. É a nossa arma de sobrevivência, a nossa terapia, o nosso escape de um mundo que nos se acaba um minuto desses que ai chegam. Como diria Mordillo «Depois de Deus inventar o Homem e a Mulher, teve de inventar o humor senão o mundo entraria em colapso» Obrigado a todos os que me mantêm afastado desse colapso, sobretudo os que me deixam rir. G.F.
Sempre me ri (mesmo antes de ter começado a pensar em sexo) e sempre me senti agradecido pelos pequenos instantes em que o pude fazer. Neste post não quero portanto criticar os quilogramas de piadas, anedotas, lugares comuns, sketches, imitações que nos invadem os campos atencionais. Quero elogiar o humor.
Não somos obrigados a rir, mas temos. Se desde à partida começamos a chorar, qual a melhor forma de combater o infortúnio dessa certeza que é a morte, senão rirmo-nos? Mas rir de quê? Do rídiculo. Dos absurdos do dia a dia. Porque não, da simples queda de uma velhota na rua...Rimo-nos de tudo e absorvemos o humor numa rotina diária. Rimo-nos dos Tonys, dos Zézés, das Tias, dos Alentejanos, dos Pretos, das Loiras, das Bruxas e dos Professores Mamadus. Palhaços que vivem em cada um dos nossos conhecidos. Rimo-nos dos estigmatizados, dos diferentes e também dos que são mais iguais aos de si mesmos. Rimo-nos dos grupos. Rimo-nos das tribos. Rimo-nos dos velhos e das crianças. Adoptamos preconceitos e vestimo-los de gargalhadas. Se queremos rir temos o trabalho facilitado ouvindo os políticos e penso que até os autores da "Contra Informação" estão agradecidos aos políticos pelo sucesso do seu programa. Os homens que, poderosos dominam este país, são de facto um dos maiores veículos das gargalhadas. Rimo-nos da ignorância de um povo que recebe a Selecção com cartazes com o dístico: "ELEVÀMOS BEM ALTO A FAÌSCA". Rimo-nos então dos inquéritos de rua. Rimo-nos com a genialidade de Homens que mordem cães e Gatos Fedorentos. Rimo-nos de Hermans do século passado, de Ruefes, das guerras dos Solnados, do lado B do Tochas, do Castelo Branco do Bruno, da tourada do Aldo Lima. Rimo-nos das bebedeiras dos amigos, rimo-nos das gafes dos professores. Rimo-nos da nossa mesada. Rimo-nos do desespero próprio e dos outros. Rimo-nos dos que acham que nos estamos a rir deles. Rimo-nos da pessoa que amamos, senão provavelmente nem a amávamos. Muitas vezes fazemos rir os outros quando não encontramos o caminho para o fazermos a nós mesmos. Rimo-nos frente ao medo, mascaramo-nos de sorrisos frente à solidão. Rimo-nos para não chorarmos.
Definitivamente temos de nos rir. Até para nos identificarmos. Ninguém se ri como nós, ao faze-lo assinamos a nossa singular humanidade. Além disto temos a liberdade de nos rirmos quando, como e de quem quisermos. Nessa sinceridade partilhada de uma gargalhada podemos encontrar tanto afinidades como amarguras. Tanto comunhões como fronteiras.
Rimo-nos dos outros e principalmente de nós e da nossa condição humana tecida de fatalidade. É a nossa arma de sobrevivência, a nossa terapia, o nosso escape de um mundo que nos se acaba um minuto desses que ai chegam. Como diria Mordillo «Depois de Deus inventar o Homem e a Mulher, teve de inventar o humor senão o mundo entraria em colapso» Obrigado a todos os que me mantêm afastado desse colapso, sobretudo os que me deixam rir. G.F.
quinta-feira, fevereiro 05, 2004
Être et Avoir
Ser e ter, Être et avoir. Um filme/documentário lindíssimo que vi hoje. Sem actores, sem um enredo suprafantástico. O dia a dia numa escola primária rural francesa. O amor do professor pela sua profissão e pelos alunos e a dádiva recíproca dos pequenos. A educação dos valores, o retrocesso à nossa própria infância. A tabuada, o recreio, as queixinhas.
Não quero, como noutros posts, fazer uma viagem nostálgica ao passado. Gostava de um dia escrever só sobre esses tempos da primária. Só queria dizer que o filme que hoje vi no cinema vale pela naturalidade das crianças e a forma como nos surpreendem ao sorrirmos espontaneamente com elas. Sem efeitos especiais, sem nomeações a galardões, sem lugares-comuns a não ser o da experiência que todos passamos. Um filme obrigatório para quem trabalha com miúdos. E uma lembrança pessoal da minha professora da primária, Maria de Lourdes Brites Manso Catarino, uma das personagens principais da minha infância, Educadora durante quatro importantes anos da minha vida.
Hoje redescobri porque chorou tanto a professora durante aquele mês de Junho, final da quarta-classe. Ela amava-nos mas nós crescemos e tivemos de partir. G.F.
Viagra para o sitemeter
Esta é a forma mais vil, batoteira, de engordar o número de visitas do Oráculo. Ou então é só uma experiência da psicologia social. Aguardemos resultados. Cá vai:
material: google e sitemeter
sujeitos: índivíduos entre os 13 e os 55 anos que tenham computador com acesso à internet em todo o mundo
Grupo experimental:
mamas da janet jackson breasts janet jackson naked live. superbowl final boobies, naked mtv scandall pechos j jackson janet seni janet jackson brüste
e agora a mais reles rasteira ao tão "infalível" sitemeter: janet jackson 乳房
Grupo de Controlo: influence of the citric acid in the aphasias of the marine snail
Enquanto se esperam resultados um pedido de desculpas a todos os voyeurs que vieram aqui por engano. Obrigado pela vossa participação. Se acharem que não foi ético da minha parte. Temos pena.
Nota: Não obedece a qualquer norma da A.P.A., portanto excelsos professores, em vez de andarem na net à procura de mamas, continuem lá com as vossas hipotéticas teses. G.F.
material: google e sitemeter
sujeitos: índivíduos entre os 13 e os 55 anos que tenham computador com acesso à internet em todo o mundo
Grupo experimental:
mamas da janet jackson breasts janet jackson naked live. superbowl final boobies, naked mtv scandall pechos j jackson janet seni janet jackson brüste
e agora a mais reles rasteira ao tão "infalível" sitemeter: janet jackson 乳房
Grupo de Controlo: influence of the citric acid in the aphasias of the marine snail
Enquanto se esperam resultados um pedido de desculpas a todos os voyeurs que vieram aqui por engano. Obrigado pela vossa participação. Se acharem que não foi ético da minha parte. Temos pena.
Nota: Não obedece a qualquer norma da A.P.A., portanto excelsos professores, em vez de andarem na net à procura de mamas, continuem lá com as vossas hipotéticas teses. G.F.
terça-feira, fevereiro 03, 2004
Construção
Retorno aos mp3 depois do disco rígido novo. Flexibilidades à parte, escolho aleatoriamente um cd, um mp3. "Construção" de Chico Buaque. E faço o exercício auto confirmatório que todos fazemos quando ao acaso tomamos decisões. Mais um dia de estudo em que supostamente me vou construindo. Talvez ainda me alicerçando. Largo o blog e pego a procrastinação pelos cornos.
Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acbou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego
Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público
Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado
Chico Burque, 1971
Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acbou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego
Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público
Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado
Chico Burque, 1971
segunda-feira, fevereiro 02, 2004
Fonteireira, nem de pé te deixaram Morrer.
Soube Sexta-Feira passada. Toda a área do Vale Escuro, todo o eucaliptal da Fonteireira desaparecerá para dar lugar a mais um empreendimento do Belas Club de Campo.
Em breve o local onde vivi alguns dos melhores momentos da minha vida desaparecerá. Será um passado quente sepultado sob o presente frio de um parque de estacionamento ou de mais um aglomerado de condomínios privados. Em breve, muito em breve, a Fonteireira será apenas saudade.
Se alguma vez tiver coragem de lá ir e olhar cruamente o progresso talvez chore. Talvez me perca em nostalgia. Talvez reclame pelas labaredas que aprendi a amar, talvez grite de dor abafada para que voltem os sons que me fizeram crescer tão saudável. Os cânticos, o serrar, os entalhes, as ordens, as gargalhadas, o ressonar.
Não sei se conseguirei mais alguma vez visitar o sítio onde se enterrará uma parte de mim, da minha vida e da dos amigos, irmãos, que tive a sorte de conhecer. Não sei se aguentarei a raiva de não poder voltar a descer o Vale Escuro para ir lavar a loiça ao rio. Não sei se perdoarei algumas vezes os homens que em troca de rentabilização e lucros, acabarão por cortar as 3 árvores plantadas com ternura pelos mais pequenos. No alcatrão ou nas paredes luxuosas de algum apartamento verei espelhado, talvez, o dia em que fui investido caminheiro; a noite em que me apontaram uma pistola à cabeça e tive de percorrer o rio vestido com água até ao pescoço; a tarde em que aprendi a fazer um tripé, a madrugada em que acordei sem saber se podia ir fazer chichi, o crepúsculo adornado dos paladares gastronómicos. A bandeira do Agrupamento içada, bailando no mastro em cruz, emoldurada pelos nobres eucaliptos. As praxes, as partidas, os rituais, os baptismos, as calinadas, o caminhar com as mochilas de chumbo, a chegada a campo, o voltar deste tresandando a fumo, as varas mal medidas de eucalipto, os jerricans. A lama, a suja lama. O sangue solto por um machado mal usado. As cicatrizes que trago no corpo, prova na pele de vida que morrerão comigo. Os lenços debruados a branco mas do salgado suor de um dia de trabalho. Os calos que sempre ferirão menos que as máquinas que iniciaram o maldito avançar das coisas. Porque, dizem os homens, tudo tem que avançar. Porque as coisas têm de ter um progresso. As coisas têm de mudar. Sim, eles falam-nos de mudança. Gostava de trocar as voltas a este mudar, como disse o grande poeta. Porém, o dia já não é criança. Envelheceu. De repente, como muitos de nós envelhecemos quando nos ditam o fim. Só que a Natureza não tem fim, não se perde como muitos homens, transforma-se. E nessa revolução biológica a Natureza veste-se de imortal aos olhos de pais e filhos. Assim foi a mata da Fonteireira para os Pinto Bastos, assim poderia ter sido para os meus netos. Simplesmente o verde pintado de liberdade. A liberdade desatada de nós tão sempre urbanos.
Agora, onde adolescente aprendi que não se cortava uma árvore que não estivesse juntamente com mais outras três, avança-se na destruição de 30 de cada vez. E quanto mais avançam mais retrocedo numa viagem polvilhada de caleidoscópios de bons e maus momentos. Instantes que me e que nos fizeram crescer como Homens e Mulheres. Porque perante a plenitude do milagre que é a vida em campo percebemos que somos pequenos e sem querer querendo, crescemos. Neste momento a maquinaria rouba-me um lar onde adormeci mais de cem noites. Ladrões cobardes que nunca saberão o quão pouco dormimos e tanto sonhámos! Capatazes a mando que, em busca de dividendos, asfixiam os passados daqueles que agora novos poderiam passar por outras, as mesmas estórias. Salteadores da verdadeira forma de viver o escutismo, em campo.
E enquanto não acabarem com a última nobreza de uma árvore, a de morrer de pé. Enquanto a desolação não se tornar no último acampamento na Fonteireira, só posso dizer, cantando a música que ela também me ensinou: «Mesmo longe, estarás perto. Ao pé de mim». G.F.
Em breve o local onde vivi alguns dos melhores momentos da minha vida desaparecerá. Será um passado quente sepultado sob o presente frio de um parque de estacionamento ou de mais um aglomerado de condomínios privados. Em breve, muito em breve, a Fonteireira será apenas saudade.
Se alguma vez tiver coragem de lá ir e olhar cruamente o progresso talvez chore. Talvez me perca em nostalgia. Talvez reclame pelas labaredas que aprendi a amar, talvez grite de dor abafada para que voltem os sons que me fizeram crescer tão saudável. Os cânticos, o serrar, os entalhes, as ordens, as gargalhadas, o ressonar.
Não sei se conseguirei mais alguma vez visitar o sítio onde se enterrará uma parte de mim, da minha vida e da dos amigos, irmãos, que tive a sorte de conhecer. Não sei se aguentarei a raiva de não poder voltar a descer o Vale Escuro para ir lavar a loiça ao rio. Não sei se perdoarei algumas vezes os homens que em troca de rentabilização e lucros, acabarão por cortar as 3 árvores plantadas com ternura pelos mais pequenos. No alcatrão ou nas paredes luxuosas de algum apartamento verei espelhado, talvez, o dia em que fui investido caminheiro; a noite em que me apontaram uma pistola à cabeça e tive de percorrer o rio vestido com água até ao pescoço; a tarde em que aprendi a fazer um tripé, a madrugada em que acordei sem saber se podia ir fazer chichi, o crepúsculo adornado dos paladares gastronómicos. A bandeira do Agrupamento içada, bailando no mastro em cruz, emoldurada pelos nobres eucaliptos. As praxes, as partidas, os rituais, os baptismos, as calinadas, o caminhar com as mochilas de chumbo, a chegada a campo, o voltar deste tresandando a fumo, as varas mal medidas de eucalipto, os jerricans. A lama, a suja lama. O sangue solto por um machado mal usado. As cicatrizes que trago no corpo, prova na pele de vida que morrerão comigo. Os lenços debruados a branco mas do salgado suor de um dia de trabalho. Os calos que sempre ferirão menos que as máquinas que iniciaram o maldito avançar das coisas. Porque, dizem os homens, tudo tem que avançar. Porque as coisas têm de ter um progresso. As coisas têm de mudar. Sim, eles falam-nos de mudança. Gostava de trocar as voltas a este mudar, como disse o grande poeta. Porém, o dia já não é criança. Envelheceu. De repente, como muitos de nós envelhecemos quando nos ditam o fim. Só que a Natureza não tem fim, não se perde como muitos homens, transforma-se. E nessa revolução biológica a Natureza veste-se de imortal aos olhos de pais e filhos. Assim foi a mata da Fonteireira para os Pinto Bastos, assim poderia ter sido para os meus netos. Simplesmente o verde pintado de liberdade. A liberdade desatada de nós tão sempre urbanos.
Agora, onde adolescente aprendi que não se cortava uma árvore que não estivesse juntamente com mais outras três, avança-se na destruição de 30 de cada vez. E quanto mais avançam mais retrocedo numa viagem polvilhada de caleidoscópios de bons e maus momentos. Instantes que me e que nos fizeram crescer como Homens e Mulheres. Porque perante a plenitude do milagre que é a vida em campo percebemos que somos pequenos e sem querer querendo, crescemos. Neste momento a maquinaria rouba-me um lar onde adormeci mais de cem noites. Ladrões cobardes que nunca saberão o quão pouco dormimos e tanto sonhámos! Capatazes a mando que, em busca de dividendos, asfixiam os passados daqueles que agora novos poderiam passar por outras, as mesmas estórias. Salteadores da verdadeira forma de viver o escutismo, em campo.
E enquanto não acabarem com a última nobreza de uma árvore, a de morrer de pé. Enquanto a desolação não se tornar no último acampamento na Fonteireira, só posso dizer, cantando a música que ela também me ensinou: «Mesmo longe, estarás perto. Ao pé de mim». G.F.
mais um agradecimento
Os meus putos lobitos apontaram como factor negativo nos relatórios da última actividade em Sintra o facto de «terem de ir embora para casa». Aos talvez menos irónicos, que disseram simplesmente “Gostei de tudo bom no geral e de nada mau em especial”; “Não gostei do atum”, «Queria comer mais bolos» e “Gostei de dormir”, obrigado pelos sorrisos. G.F.
Perco quase tudo no meu quarto. Chaves, telemóvel, roupa, papeis importantes que encontro 2 dias depois de precisar urgentemente deles. Perco bilhetes, recortes, facturas, clips, fotografias, bostic, recibos, fotocópias, cartões, canetas. Nunca sei da caneta quando preciso dela. A tempo, ainda salvo algumas notas. As de grafite. As outras também as perco surgindo meses depois, traídas pela inflação, num bolso de umas calças pouco usadas. Anteontem encontrei uma nota de 500 escudos debaixo do trivial que tenho sob a cama. Ontem não sabia novamente do telemóvel. Hoje as chaves de casa estavam na gaveta da roupa interior. E tenho o quarto completamente arrumado portanto eliminando esta variável resta-me enfrentar a minha própria falta de concentração face a objectos. E muitas vezes face às pessoas.
Partilho assim a minha frustração, o meu desamparo, a minha impotência, a raiva contida através da praça pública pessoal em que este Oráculo também se alicerçou. Porque existem poucas coisas piores que perder alguma coisa. E enquanto não somos mágicos ou não descobrimos como retroceder no tempo, vamos, felizmente tendo uma mãe. È incrível pois quando perco uma coisa demoro em média 20, 30 minutos a encontra-la. A minha mãe demora 2 minutos. Basta que me diga, «Já viste na gaveta de cima?» «Não estará enfiada entre o colchão e os pés da cama?».
Obrigado mãe, por seres, também, o meu “Google”. G.F.
Partilho assim a minha frustração, o meu desamparo, a minha impotência, a raiva contida através da praça pública pessoal em que este Oráculo também se alicerçou. Porque existem poucas coisas piores que perder alguma coisa. E enquanto não somos mágicos ou não descobrimos como retroceder no tempo, vamos, felizmente tendo uma mãe. È incrível pois quando perco uma coisa demoro em média 20, 30 minutos a encontra-la. A minha mãe demora 2 minutos. Basta que me diga, «Já viste na gaveta de cima?» «Não estará enfiada entre o colchão e os pés da cama?».
Obrigado mãe, por seres, também, o meu “Google”. G.F.
Subscrever:
Mensagens (Atom)