quarta-feira, fevereiro 11, 2004

Algarves

Nunca gostei do Algarve ao sul. Abomino a maioria das suas praias. Pelo contrário, para Oeste, há um outro Algarve, um paraíso ainda felizmente por descobrir. Em Aljezur passei um dos melhores verões da minha vida. Já ao sul descobri multidões de um Portugal genuíno. Hoje estava a passear pela internet e deparei-me com ofertas turísticas para os que visitam Portugal na altura do Euro. Aconselhavam Armação de Pêra.
A última vez que lá fui estávamos em plena era pré expo. Destino: a praia mais portuguesa de Portugal. A banda sonora dessa chegada à praia, a memorável "Macarena", hino de sempre da dança mundial. Enquanto uns se seduziam com o som sexy, ordas de tugas chegavam em plena hora do Cancro. A mãe com a bela da lancheira a pesar 20 kg e guarnecida de toda a espécie de cozidos, enchidos, couratos, saladas e a belas litrosas e um distinto garrafão de tinto. O marido com o jornal desportivo na mão, o telemóvel (modelo tijolo) preso à tanga vermelha, cachucho de ouro, barriga 3 meses, o bonito bigode farfalhudo pro-Sadam e um boné da castrol com a pala apontada aos céus algarvios. Os filhos a gritarem ao mesmo tempo que corriam para o mar, pisando tudo quanto era "biff" tostado. Antes de mergulhar, é claro o belo do salpico na velha que estava desde as 8 da manhã para entrar no oceano. Metros quadrados para a toalha, nem ve-los.

E quando tudo parecia completo de portugalidade, oiço ao meu lado alguém que grita com sotaque minhoto: Oh zé, as sardinhas tão prontas, manda vir os teus filhos. E escondemo-nos do sarcasmo envergonhados quando essas sardinhas também são repartidas por nós e descobrimos que também é Bela, esta nossa gente. Talvez Armação de Pêra não seja um destino tão mau como sempre pensei. Estrangeiros, visitem o Portugal que quiserem, haverá sempre alguma sardinha para repartir. G.F.

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