terça-feira, setembro 28, 2010

Cagada em Três Actos I

Quando éramos putos, antes de termos ganho um hipotético gosto adulto-requintado, éramos bem-dispostos e havia filmes que até não nos importávamos de pagar multa no videoclube só para assistir mais uma vez. Não precisávamos de grandes conceitos. Basicamente queríamos porrada, mistérios e amor em doses “puto-herói-David-mata-Golias-e-beija-na-boca-(sem-língua)-a-mais-bonita-do-liceu”. 

Quando eu via estes filmes o meu pai ria-se, dizendo-me: «Cagada em três actos, sabes o que é isto? Uma cagada em três actos!» Eu sempre me diverti com a expressão. Na verdade, quem teve a sorte de nascer nos anos 80 assistiu a um número infindável de cagadas em três actos. 

Gostaria de rever convosco uma das maiores que se tornaram parte da minha infância… O filme chama-se “Fúria Sangrenta” que como todos sabemos traduzido para inglês é “BloodSport” de 1988. Protagonista: João Cláudio da Dama, um dos melhores artistas bruxelenses nascidos no seio das competições de bodybuilding. Este é o filme que o fez rebentar nos Estados Unidos e pelo lirismo da cena final épica podemos todos perceber porque é que o mundo ocidental e oriental se rendeu à sua arte e engenho. Infelizmente, o nosso herói que fez ballet durante 5 anos e foi Mister Bélgica, não ganhou o Óscar nesse ano. 

A trama não é complicada mas original... Um ringue ilegal numa competição secreta chamada Kumite, lutas até à morte por eliminação, treinos duros durante todo o filme até ao combate final. O que poucos sabem é que este é um filme baseado em factos verídicos, é a biopsia de Frank Dux. A verosimilhança, aliás é um dos principais ingredientes ao longo desta fita. 

Nesta última cena, final dramático, não se vêm a quantidade de tijolos partidos com ajuda de apenas lenços molhados e duras articulações dos membros. Também não surge a ameaça do arquirival de João Cláudio, (o Chinês que abana os peitorais): “Cuidadinho, os tijolos não te batem de volta”! Nem tão pouco uma das cenas mais sangrentas da minha juventude a seguir à lesão em directo sofrida pelo Rui Águas do Benfica contra o Dínamo de Kiev. Essa cena em que o grande amigo de João Cláudio fractura explicitamente a perna em resultado do golpe baixo do chinês que mexe as mamocas, cafageste imensurável que é este mega arqui-rival, um actor asiático chamado… Bolo. Sim, Bolo. Bolo Yeung.

A genialidade deste filme também assenta na diversidade. Para chegarem à finalíssima os nossos homens tiveram de derrotar/matar, entre outros um lutador de sumo, um lutador das polinésias e um mexicano. O nosso amigo João Cláudio fá-lo, aliás, com uma perna às costas, ou duas a fazer espargata em bancos chineses. Aliás chega a bater o recorde de vitórias de Bolo Yeung, facto esse que este chinês, de mamilos com vontade própria recalca em si, até ao derradeiro combate…
Bom estou a dispersar-me nos requintes desta produção. O que interessa mesmo é a cena final. Analisemos apenas recorrendo à imagem e a conceitos soltos. Por ordem cronológica: 

-cabelo polido de João Cláudio, em ringue, o aprumo é importantíssimo.
- mamocas malévolas dançantes.

- FRASE QUE MARCA O FILME: a tal que estava recalcada depois do record batido: «you break my record, now i break you like i did to your friend». (Quando queríamos ser maus nos anos 90 repetíamos isto e toda a gente nos tinha respeito. Especialmente quando imitávamos até a perfeição quer o tom, quer o apontar para o joelho com o lenço harley davidson roubado, quer especialmente a espécie de dobragem que o próprio actor ou o sonoplasta do filme fizeram. Algo que conseguiu maravilhar-me durante anos esta mescla de ventriloquismo exótico e artes marciais)

- vilão que exala ranho como o Cristiano Ronaldo
- pontapé que nitidamente não bate na cara de ninguém e som que é de tudo menos de um pontapé.
- árbitro agarrado e empurrado pelo vilão mas usado como catadupa pelo herói. (Remake/Plágio do Mockumentary “José Pratas VS FCPorto”)
-linguagem gestual de como quem diz, as minhas mamocas não estão a mexer, estou fulo contigo João Cláudio, chiça.
- pontapés de João Cláudio no ar mas com som
- minuto 1.37- "eh pá precisamos aqui de um preto qualquer para actor secundário, escolham aquele que provavelmente nunca ganhará nada na vida o...o Forest Whitaker…
- chinês de óculos à paco bandeira muito ansiosozinho
- publico que grita desconjuntadamente "KUMITE"
- Câmara lenta de João Cláudio. Raiva de João Cláudio.
- chinês parece que acabou de sair do mar e tem água no ouvido direito. Incorpora o demónio e ataca.
- João Cláudio também incorpora o Diabo
- serie de 23 socos e pontapés em que nenhum acerta. Nenhum.

- auge da cena: Bolo tira cocaína da zona testicular dos calções e lança -a nos olhos de João Cláudio. A forma como o nosso bruxelense reage ao cegar é motivo "per se "para um Óscar. Vi isto mais de 10 vezes quando tinha tempo livre, ou seja na época de exames da faculdade.
- 3.45: único murro no ar verosímil.
- saltos panisguinhas de vitória de Bolo Yeung
- o drama, a tragédia, a cegueira e belzebu em João Cláudio
- flashbacks dos treinos (plágio de tsubasa)
- João Cláudio apalpa árbitro reconhecendo-o….suspeito...
- Cego, joão cláudio, acerta mais pontapés que vendo.
- JOÃO CLÁUDIO CEGO VENCE DEPOIS DE TRIPLA PATADA. 
- OS BONS E CEGUINHOS VENCEM OS MAUS QUE MEXEM AS MAMAS.uma, digam-me uma alegoria da vida, do mundo, das relações, melhor que esta? G.F.



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