…respostas, críticas, crónicas, verdades infundadas, teorias, encontros, paródias, conspirações, chalaças, ramboiadas, lágrimas, venenos, gentes, vícios, valores, palavras, perguntas, solidões, comunhões, fobias, frenias, neopatologias, actualidades, mundialidades, portugalidades. Ou só insignificâncias…
terça-feira, abril 25, 2006
post-it pos-love
Enquanto dura o amor, as reles canções tornam-se óptimas. Quando o amor termina, as boas canções tornam-se geniais. G.F.
segunda-feira, abril 24, 2006
não esquecer Abril.
Poema pouco original do medo
O medo vai ter tudo
pernas
ambulâncias
e o luxo blindado
de alguns automóveis
Vai ter olhos onde ninguém o veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão
no teto
no murmúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus ouvidos
O medo vai ter tudo
fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
óptimos empregos
poemas originais
e poemas como este
projectos altamente porcos
heróis
(o medo vai ter heróis!)
costureiras reais e irreais
operários
(assim assim)
escriturários
(muitos)
intelectuais
(o que se sabe)
a tua voz talvez
talvez a minha
com certeza a deles
Vai ter capitais
países
suspeitas como toda a gente
muitíssimos amigos
beijos
namorados esverdeados
amantes silenciosos
ardentes
e angustiados
Ah o medo vai ter tudo
tudo
(penso no que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer)
O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos
Sim
ratos
Alexandre O'Neil
O medo vai ter tudo
pernas
ambulâncias
e o luxo blindado
de alguns automóveis
Vai ter olhos onde ninguém o veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão
no teto
no murmúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus ouvidos
O medo vai ter tudo
fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
óptimos empregos
poemas originais
e poemas como este
projectos altamente porcos
heróis
(o medo vai ter heróis!)
costureiras reais e irreais
operários
(assim assim)
escriturários
(muitos)
intelectuais
(o que se sabe)
a tua voz talvez
talvez a minha
com certeza a deles
Vai ter capitais
países
suspeitas como toda a gente
muitíssimos amigos
beijos
namorados esverdeados
amantes silenciosos
ardentes
e angustiados
Ah o medo vai ter tudo
tudo
(penso no que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer)
O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos
Sim
ratos
Alexandre O'Neil
quarta-feira, abril 19, 2006
homens, tangos e fados
«Te mato cabron se dices a alguien». Eu além de o dizer a alguém, escrevo-o aqui. Para que, na possibilidade remota de me esquecer desse momento, possa um dia ler isto e relembrar-me. Ele também não me iria matar por tão pouco. Chamar-me umas quantas vezes cabron, sim.
Aconteceu quando já vivia naquela Via Aosta há quase 5 meses. Vivia com mais dois rapazes que conheci no dia em que fui ver a primeira casa que encontrei livre., Lawrence, belga e Miguel, argentino. Quando se tem vinte e dois anos e se parte para um país diferente para se fazer “Erasmus” é como se estivéssemos a desancorar para uma guerra. Só que não vamos ter que matar ninguém, não temos quaisquer ordens de generais. Somos almirantes de um combate pessoal pelo ser forçado a crescer com outros. Outros que não falam a nossa língua, que não sabem quem sempre fomos nós. Não temos de cavar trincheiras mas estreitamos sim o fosso fronteiriço entre as diferentes nacionalidades. Não temos marmitas mas sim cantinas melhores que as do quartel-general. Não precisamos de putas porque surgem sempre algumas em cada pista prontas a não querer cobrar nada. Não vencemos pela pátria, porque a pátria tem vários heterónimos boémios ou utópicos. Não temos jipes, nem tanques. Temos bicicletas guiadas sem mãos. Olhos no céu, garrafas de vinho felizes e meio cheias. Não temos rufares autómatos nem trompetas anunciantes: cantamos sem medos. Não somos soldados, somos Homens. Partir assim, solitário, com armas de paz na mochila e fazer verdadeiros amigos que sabemos que passado um ano não partilharão a mesma oportunidade de permanecer nessa guerra fez-me saborear esperança em processo de inversão lenta. Tive saudades do futuro. Melhor, vi-me de volta a Lisboa já sem os meus companheiros de combate, apenas podendo trocar poucas linhas virtuais que tanto de vida deixam fugir ou a encontrarmo-nos casualmente, quais veteranos relembrando o que se foi, por lá longe, vivendo.
Julgo que entre homens se vive melhor que entre mulheres. Acho mesmo difícil que a palavra camarada, ou antes, a camaradagem se aplique entre mulheres. Porque entre mulheres partilha-se tudo, principalmente sentimentos. Que valor têm os sentimentos, se estão sempre a ser reciclados depois do uso, através de conversas milésimamente repetidas? Acho que dois homens que partilham esperanças, sonhos, lavagens de loiça, roubos de bicicleta, rodabotaforas, varreres infindáveis de cozinha, desilusões, arranjos de máquinas de lavar, estórias de mulheres passadas, ida às compras, só pelo facto de o fazerem e de não serem gays, só pelo facto de o fazerem compactuam muito mais entre si No final há uma amizade muito maior que entre duas raparigas que façam exactamente o mesmo, (alguma mulher que me prove aqui o contrário, ficaria feliz). Porque vivemos constantemente calados sobre o que sentimos, nas poucas horas em que abrimos a alma a outros tipos de barba por fazer como nós, conhecemos o que é a fraternidade. E porque fomos educados assim, a ser duros, quando fraquejamos percebemos o que é humanidade. Quando nos abraçamos em silêncio e damos pancadas acompanhadas de caralhadas, compreendemo-nos. Quando choramos, sabemos que não somos os únicos, nem poucos, nem fracos. Vemo-nos homens.
Aconteceu quando já vivia há quase 5 meses naquela Via Aosta. O Miguel, argentino, pegou na minha edição do «Escutismo para Rapazes» e começou a ler. Eu nunca tinha aberto o livro desde que chegara. Comecei a gozar com a sua pronúncia e a forma como lia o português. Depois falei-lhe do escutismo. Não do que era mas a forma como eu o vivia. E então lembrei-me de todas as outras guerras por mim vividas em adolescente, os amigos em Portugal, as noites de guitarras dedilhadas pela fogueira, lembrei-me depois dos meus pais, da minha irmã, das minhas raízes. Foi quando eu já embaciara os olhos que ele começou a ler “a última mensagem de BP”, num português muito mau mas bonito. Comecei a chorar, senti que também ele ou eu seríamos como o chefe dos piratas e nos estaríamos um dia a despedir. Ao mesmo tempo ele ria-se e chamava-me «portoghês páneleiro, cága pa dentro, bambino du caralho, puto maricon». Ri-me e olhei-o nos olhos e vi que também estava emocionado com o que estava escrito. Então parámos a lamechice e fomos beber duas cervejas. Há muito tempo que ele não voltava a Buenos Aires. Estava num continente distante, numa cultura diferente. Queria navegar e ter uma barca para conhecer o mundo «como os portugueses fizeram.» Nesse dia depois de almoço entrou no meu quarto antes de eu sair para comprar um cartão de telefone. Eu estava a ouvir Gotan Project e ele perguntou-me se sabia o que era uma milonga. Falámos de tango, das ruas de Buenos Aires e eu deixei-lhe o c.d. há muito que não sentia aqueles sons. Quando regressei, depois de meia hora, a porta do meu quarto estava semi aberta. Ele estava de olhos fechados, corpo de mulher invisível no ar, ensaiando com ela uns passos de tango. Antes que me gritasse «Te mato cabron se dices a alguien!» vi que dançando chorava. Percebi o quanto mais saudade era o seu Tango que o meu Fado. G.F.
Aconteceu quando já vivia naquela Via Aosta há quase 5 meses. Vivia com mais dois rapazes que conheci no dia em que fui ver a primeira casa que encontrei livre., Lawrence, belga e Miguel, argentino. Quando se tem vinte e dois anos e se parte para um país diferente para se fazer “Erasmus” é como se estivéssemos a desancorar para uma guerra. Só que não vamos ter que matar ninguém, não temos quaisquer ordens de generais. Somos almirantes de um combate pessoal pelo ser forçado a crescer com outros. Outros que não falam a nossa língua, que não sabem quem sempre fomos nós. Não temos de cavar trincheiras mas estreitamos sim o fosso fronteiriço entre as diferentes nacionalidades. Não temos marmitas mas sim cantinas melhores que as do quartel-general. Não precisamos de putas porque surgem sempre algumas em cada pista prontas a não querer cobrar nada. Não vencemos pela pátria, porque a pátria tem vários heterónimos boémios ou utópicos. Não temos jipes, nem tanques. Temos bicicletas guiadas sem mãos. Olhos no céu, garrafas de vinho felizes e meio cheias. Não temos rufares autómatos nem trompetas anunciantes: cantamos sem medos. Não somos soldados, somos Homens. Partir assim, solitário, com armas de paz na mochila e fazer verdadeiros amigos que sabemos que passado um ano não partilharão a mesma oportunidade de permanecer nessa guerra fez-me saborear esperança em processo de inversão lenta. Tive saudades do futuro. Melhor, vi-me de volta a Lisboa já sem os meus companheiros de combate, apenas podendo trocar poucas linhas virtuais que tanto de vida deixam fugir ou a encontrarmo-nos casualmente, quais veteranos relembrando o que se foi, por lá longe, vivendo.
Julgo que entre homens se vive melhor que entre mulheres. Acho mesmo difícil que a palavra camarada, ou antes, a camaradagem se aplique entre mulheres. Porque entre mulheres partilha-se tudo, principalmente sentimentos. Que valor têm os sentimentos, se estão sempre a ser reciclados depois do uso, através de conversas milésimamente repetidas? Acho que dois homens que partilham esperanças, sonhos, lavagens de loiça, roubos de bicicleta, rodabotaforas, varreres infindáveis de cozinha, desilusões, arranjos de máquinas de lavar, estórias de mulheres passadas, ida às compras, só pelo facto de o fazerem e de não serem gays, só pelo facto de o fazerem compactuam muito mais entre si No final há uma amizade muito maior que entre duas raparigas que façam exactamente o mesmo, (alguma mulher que me prove aqui o contrário, ficaria feliz). Porque vivemos constantemente calados sobre o que sentimos, nas poucas horas em que abrimos a alma a outros tipos de barba por fazer como nós, conhecemos o que é a fraternidade. E porque fomos educados assim, a ser duros, quando fraquejamos percebemos o que é humanidade. Quando nos abraçamos em silêncio e damos pancadas acompanhadas de caralhadas, compreendemo-nos. Quando choramos, sabemos que não somos os únicos, nem poucos, nem fracos. Vemo-nos homens.
Aconteceu quando já vivia há quase 5 meses naquela Via Aosta. O Miguel, argentino, pegou na minha edição do «Escutismo para Rapazes» e começou a ler. Eu nunca tinha aberto o livro desde que chegara. Comecei a gozar com a sua pronúncia e a forma como lia o português. Depois falei-lhe do escutismo. Não do que era mas a forma como eu o vivia. E então lembrei-me de todas as outras guerras por mim vividas em adolescente, os amigos em Portugal, as noites de guitarras dedilhadas pela fogueira, lembrei-me depois dos meus pais, da minha irmã, das minhas raízes. Foi quando eu já embaciara os olhos que ele começou a ler “a última mensagem de BP”, num português muito mau mas bonito. Comecei a chorar, senti que também ele ou eu seríamos como o chefe dos piratas e nos estaríamos um dia a despedir. Ao mesmo tempo ele ria-se e chamava-me «portoghês páneleiro, cága pa dentro, bambino du caralho, puto maricon». Ri-me e olhei-o nos olhos e vi que também estava emocionado com o que estava escrito. Então parámos a lamechice e fomos beber duas cervejas. Há muito tempo que ele não voltava a Buenos Aires. Estava num continente distante, numa cultura diferente. Queria navegar e ter uma barca para conhecer o mundo «como os portugueses fizeram.» Nesse dia depois de almoço entrou no meu quarto antes de eu sair para comprar um cartão de telefone. Eu estava a ouvir Gotan Project e ele perguntou-me se sabia o que era uma milonga. Falámos de tango, das ruas de Buenos Aires e eu deixei-lhe o c.d. há muito que não sentia aqueles sons. Quando regressei, depois de meia hora, a porta do meu quarto estava semi aberta. Ele estava de olhos fechados, corpo de mulher invisível no ar, ensaiando com ela uns passos de tango. Antes que me gritasse «Te mato cabron se dices a alguien!» vi que dançando chorava. Percebi o quanto mais saudade era o seu Tango que o meu Fado. G.F.
sábado, abril 15, 2006
doença
Entre palavras e fases experimentais, uma frase dita pela Rosa Cabral, co-encenadora do Grupo de Teatro Ultimacto que gostava de repartir com vós, outros. «O Teatro é como uma doença, só contagia se houver presença.»
obrigado.
Já houve dias em que vim aqui e pensei acabar de vez com os comentários, outros em que vinha de hora em hora ver se mais alguém me tinha vindo ler. Talvez ainda não tenha acabado de vez com a hipótese dos comentários por uma questão de preguiça. Gosto muito mais de receber mails mas a verdade é que não respondo. Talvez porque depois de alguma coisa escrita e publicada ou impressa já não há resposta a dar, foi e é o que está lá até a última pessoa ler, até desaparecer com o tempo. Ou talvez por uma questão de procrastinação. Contudo poderia apenas responder com um obrigado e sei que não o costumo fazer.
Porém, gosto de saber que quem me lê sorri, ou sente qualquer coisa, de orgânico, físico. Me sente as palavras na pele, ou nos músculos faciais ou nas entranhas se não fosse pedir muito. Gosto de pensar que há por aqui alguém que se identifica comigo. Ou que se afasta de mim. Gosto de me imaginar narcisicamente a ser perseguido uma legião de fans espirituosas e em bikinis a gladiarem-se contra uma legião de críticos de laço e cachimbo. Gosto de saber que existem pessoas (com quem me cruzo, com quem eu falo ou que nem da sua existência tenho conhecimento) que me vão conhecendo melhor desta forma. Meio este tantas vezes enganador, mitificador e sempre limitante.
Gratifica-me ler os amigos com as palavra escritas bastantes para dizermos o quanto gostamos uns dos outros. Dizer e contar algumas das coisas é o meu veículo de humanidade privilegiado. Quando escrevo sinto-me vivo, absorvo e por instantes quase que controlo a realidade. Mais que um captar de imagens, de pequenos quadros em forma de ideias a “trebuchet”, com isto eu estou de facto a construir e ao mesmo tempo a brincar. A brincar com ideias, a deitar fora estruturas, a fazer o que bem quero. Talvez isto não seja bem verdade. Porque assino com o meu nome, às vezes não me consigo olvidar de quem são as pessoas que aqui aparecem. Quando isso acontece paro de escrever. O que publico tem sido sempre em função desses vultos estranhos, que englobam em si todos os “tus” que me lêem. Sempre me ensinaram a não responder a estranhos, mas eu sempre gostei de lhes perguntar qualquer coisa. Sentir que um estranho é um amigo que ainda não tivemos a oportunidade de conhecer. Depois partir e prosseguir com a utópica diminuição da estranheza. Talvez através de um blogue quisesse conhecer todo o mundo e augurasse que todo o planeta me conhecesse ou conhecesse o G.F. Pensando bem, talvez tivesse de escrever em chinês e em inglês (e nunca me auto referir na terceira pessoa do singular).
Estes deambulares iniciais porquê? Para agradecer a todos os que já comentaram algum post, aos que já me escreveram mails, e aos 17 mil visitantes que têm vindo ao Oráculo aterrar desde o início, desde o ano passado ou desde hoje. Tenho a certeza que desses 17 mil, apenas 20 são pessoas diferentes. (Se quiserem deixem aqui nos comentários um «passei por aqui». Será mais bonito que qualquer site de estatísticas e poderei abrir um pouco o pano do lado de aí. O lado onde vocês estão sentados. Anónimos ou heterónimos ou pseudónimos ou alcunhas ou apelidos ou nomes próprios, deixem-nos por aqui. Sabe muito melhor que ao vivo, porque quando um gajo que escreve ouve qualquer comentário, primeiro não sabe onde se esconder com a vergonha, como se tivesse sido despido em centésimos de segundo e além disso sente-se que aquilo deveria ser comunicado a outra pessoa, a um outro eu. Isto é, a escrita devia ficar para quem a escreve e para quem a lê. Resumindo, se quiserem comentar qualquer coisa, comentem aqui.)
Enquanto houver algum caminho por onde andar, acho que vou continuar. Vou estando por ali a recolher vidas nas paragens. Obrigado, vemo-nos logo. G.F.
vita
Foi o Rui que a encontrou nas paredes dessa que se tornou cidade de ambos. Deixo-a aqui dedicada aos também outros que fazem parte desse "ambos".
Ode alla vita
Lentamente muore chi diventa schiavo dell'abitudine,
ripetendo ogni giorno gli stessi percorsi,
chi non cambia la marca,
chi non rischia e cambia colore dei vestiti,
chi non parla a chi non conosce.
Muore lentamente chi fa della televisione il suo guru.
Muore lentamente chi evita una passione,
chi preferisce il nero su bianco e i puntini sulle 'i'
piuttosto che un insieme di emozioni,
proprio quelle che fanno brillare gli occhi,
quelle che fanno di uno sbadiglio un sorriso,
quelle che fanno battere il cuore davanti all'errore e ai sentimenti.
Lentamente muore chi non capovolge il tavolo,
chi è infelice sul lavoro,
chi non rischia la certezza per l'incertezza, per inseguire un sogno,
chi non si permette almeno una volta nella vita di fuggire ai consigli sensati.
Lentamente muore chi non viaggia,
chi non legge, chi non ascolta musica,
chi non trova grazia in se stesso.
Muore lentamente chi distrugge l'amor proprio,
chi non si lascia aiutare;
chi passa i giorni a lamentarsi della propria sfortuna o della pioggia incessante.
Lentamente muore chi abbandona un progetto prima di iniziarlo,
chi non fa domande sugli argomenti che non conosce,
chi non risponde quando gli si chiede qualcosa che conosce.
Evitiamo la morte a piccole dosi,
ricordando sempre che essere vivo
richiede uno sforzo di gran lunga maggiore del semplice fatto di respirare.
Soltanto l'ardente pazienza porterà al raggiungimento di una splendida felicità.
Pablo Neruda
Ode alla vita
Lentamente muore chi diventa schiavo dell'abitudine,
ripetendo ogni giorno gli stessi percorsi,
chi non cambia la marca,
chi non rischia e cambia colore dei vestiti,
chi non parla a chi non conosce.
Muore lentamente chi fa della televisione il suo guru.
Muore lentamente chi evita una passione,
chi preferisce il nero su bianco e i puntini sulle 'i'
piuttosto che un insieme di emozioni,
proprio quelle che fanno brillare gli occhi,
quelle che fanno di uno sbadiglio un sorriso,
quelle che fanno battere il cuore davanti all'errore e ai sentimenti.
Lentamente muore chi non capovolge il tavolo,
chi è infelice sul lavoro,
chi non rischia la certezza per l'incertezza, per inseguire un sogno,
chi non si permette almeno una volta nella vita di fuggire ai consigli sensati.
Lentamente muore chi non viaggia,
chi non legge, chi non ascolta musica,
chi non trova grazia in se stesso.
Muore lentamente chi distrugge l'amor proprio,
chi non si lascia aiutare;
chi passa i giorni a lamentarsi della propria sfortuna o della pioggia incessante.
Lentamente muore chi abbandona un progetto prima di iniziarlo,
chi non fa domande sugli argomenti che non conosce,
chi non risponde quando gli si chiede qualcosa che conosce.
Evitiamo la morte a piccole dosi,
ricordando sempre che essere vivo
richiede uno sforzo di gran lunga maggiore del semplice fatto di respirare.
Soltanto l'ardente pazienza porterà al raggiungimento di una splendida felicità.
Pablo Neruda
Sobre a Páscoa, sobre o mundo e sobre mim, entretanto desactualizaram-se alguns factos, outros nomes tornaram-se passado. Contudo a opinião é a mesma e por não ter mais nada para dizer nestes dias, ou tendo mas não achando razão para, deixo aqui um post com duas Páscoas de vida.
Domingo de Aleluia em directo da TVI. Morte e Ressurreição de Cristo, velas a 0,5 euros. O raio do estúpido coelho e a sua distribuição de ovos. Operação Páscoa: 4 mortos nas estradas. Kinder supresa, esta semana no sítio do costume.
A actual Páscoa é – me ridícula. Um pretexto para as marcas de chocolate, amêndoas e os T2 de Albufeira facturem aquilo que não poderão noutras alturas. Uma festa da Igreja que tantos desejam uns aos outros de “feliz”. Mas o que é uma Páscoa feliz? Porque não nos limitamos a dizer boas férias, boa praia, boa viagem? Uns agnósticos, outros apáticos, vamo-nos ressuscitando sim, mas sempre na fuga para a frente, de tanga, trabalhando o bronzeado artificial e rápido, fingindo que somos tropicais invadindo praias, disfarçando-nos de adinheirados em pistas de ski sintéticas. Serve a Páscoa de pretexto para muitos verem as famílias que esquecem durante todo o ano. Para falar das vidas de cada um que tornarão a repetir em estórias no próximo Natal.
Mas há quem se lembre de Jesus. Há quem se lembre do dele e dos seus calvários: um rol de 3 ou 4 Cristos por canal de televisão, sempre de barba bem tratada e olhos claros, trata de fazer esse serviço de memorização. Os que se dizem praticantes mas muitos já sem fé, esses, multiplicam-se pelas procissões cadenciadas ao ritmo obsoleto da tradição, do rito. Repetem-se evangelhos, palavras sagradas. Os coros de velhas cantam estridentemente Aleluia! Aleluia!. «Amarmo-nos uns aos outros como eles nos amou». Como os radicais xiitas amam os sunitas, como Yasser ama Sharon, como Bush ama o Protocolo de Kioto e o desarmamento nuclear americano, como o Bloco de Esquerda ama o Portas, o Partido Comunista a liberdade de expressão, como o Le Pen ama os magrebinos, como a Britney Spears ama a virgindade.
Esta metade, a cínica, vai fazendo as manchetes. Porque a outra metade de gente que ainda aqui vivemos felizes não fazemos notícia. A condição voyeur humana, a masturbação da dor vizinha, o esgravatar o sofrimento dos pares, o hipnotismo pelas fustigações alheias, o deslumbre pela decadência do próximo, qual ritual neodarwiano psicológico de sobrevivência, esses sim fazem as parangonas, headlines, punchlines, highlits e exclusives do nosso bombardeamento informativo quotidiano. A outra metade que apenas se propõe a hiperbolizar a boa acção entre os povos não é falada. Porque dizem os novos sábios que o Homem é naturalmente mau e condenado ao fracasso, que a competição é vantajosa em relação à cooperação. E esta vai sendo cada vez menos noticia. E nós vamos sendo cada vez menos notícia e cada vez menos. Porque somos utópicos e pouco rentáveis. Porque ajudar sem esperar recompensa não nos dá cartões gold. E assim alguns de nós vamos existindo, acreditando mais no Homem, não em Deus pois acho que o seu único e sólido argumento é o de não existir. Ou mesmo acreditando Nele, e já que o inventámos à medida das explicações de quem somos e dos sonhos de quem seremos, pedimos que Ele acredite na nossa redenção, no «escapar da escravidão mental». Usando-o na tentativa de esquecer que estamos abandonados, entregues à procura de algo ou alguém que nos faça sentir pertença. Mesmo sabendo que a Humanidade acaba por tragar aqueles que mais a tentam perceber e amar, vamos existindo assim nesse enigma ao mesmo tempo agonizante e reconfortante: Teremos um dia a Paz , a Liberdade global dos Povos? Se realmente podemos mudar-nos e mudar os outros, só através da acção, através da Arte, da produção de Cultura, do Criar, do poder da reificação humana que nos é inerente, é que realmente poderemos descobrir, no fim, que foi ou não possível construir essa mudança. Voltaire, Ghandi, Luther King entre milhares de nomes famosos e anónimos acreditaram. Jesus acreditou em nós. Morreu por uma causa. Talvez nós possamos, mas também temos de acreditar. Falta-nos, mais que a fé, a vontade de combater a inércia de descobrir que podemos vencer, podemos de facto mudar. Eu hoje poderia ter ganho o totoloto. Sonhei com o que faria com 1 milhão e 400 mil contos, troquei listas de compras imaginárias com uma pessoa que cepticamente me dizia que é mesmo muito remotamente provável acertar o 6. Mas a verdade é que nem eu nem ela alguma vez preenchemos um boletim. G.F.
A actual Páscoa é – me ridícula. Um pretexto para as marcas de chocolate, amêndoas e os T2 de Albufeira facturem aquilo que não poderão noutras alturas. Uma festa da Igreja que tantos desejam uns aos outros de “feliz”. Mas o que é uma Páscoa feliz? Porque não nos limitamos a dizer boas férias, boa praia, boa viagem? Uns agnósticos, outros apáticos, vamo-nos ressuscitando sim, mas sempre na fuga para a frente, de tanga, trabalhando o bronzeado artificial e rápido, fingindo que somos tropicais invadindo praias, disfarçando-nos de adinheirados em pistas de ski sintéticas. Serve a Páscoa de pretexto para muitos verem as famílias que esquecem durante todo o ano. Para falar das vidas de cada um que tornarão a repetir em estórias no próximo Natal.
Mas há quem se lembre de Jesus. Há quem se lembre do dele e dos seus calvários: um rol de 3 ou 4 Cristos por canal de televisão, sempre de barba bem tratada e olhos claros, trata de fazer esse serviço de memorização. Os que se dizem praticantes mas muitos já sem fé, esses, multiplicam-se pelas procissões cadenciadas ao ritmo obsoleto da tradição, do rito. Repetem-se evangelhos, palavras sagradas. Os coros de velhas cantam estridentemente Aleluia! Aleluia!. «Amarmo-nos uns aos outros como eles nos amou». Como os radicais xiitas amam os sunitas, como Yasser ama Sharon, como Bush ama o Protocolo de Kioto e o desarmamento nuclear americano, como o Bloco de Esquerda ama o Portas, o Partido Comunista a liberdade de expressão, como o Le Pen ama os magrebinos, como a Britney Spears ama a virgindade.
Esta metade, a cínica, vai fazendo as manchetes. Porque a outra metade de gente que ainda aqui vivemos felizes não fazemos notícia. A condição voyeur humana, a masturbação da dor vizinha, o esgravatar o sofrimento dos pares, o hipnotismo pelas fustigações alheias, o deslumbre pela decadência do próximo, qual ritual neodarwiano psicológico de sobrevivência, esses sim fazem as parangonas, headlines, punchlines, highlits e exclusives do nosso bombardeamento informativo quotidiano. A outra metade que apenas se propõe a hiperbolizar a boa acção entre os povos não é falada. Porque dizem os novos sábios que o Homem é naturalmente mau e condenado ao fracasso, que a competição é vantajosa em relação à cooperação. E esta vai sendo cada vez menos noticia. E nós vamos sendo cada vez menos notícia e cada vez menos. Porque somos utópicos e pouco rentáveis. Porque ajudar sem esperar recompensa não nos dá cartões gold. E assim alguns de nós vamos existindo, acreditando mais no Homem, não em Deus pois acho que o seu único e sólido argumento é o de não existir. Ou mesmo acreditando Nele, e já que o inventámos à medida das explicações de quem somos e dos sonhos de quem seremos, pedimos que Ele acredite na nossa redenção, no «escapar da escravidão mental». Usando-o na tentativa de esquecer que estamos abandonados, entregues à procura de algo ou alguém que nos faça sentir pertença. Mesmo sabendo que a Humanidade acaba por tragar aqueles que mais a tentam perceber e amar, vamos existindo assim nesse enigma ao mesmo tempo agonizante e reconfortante: Teremos um dia a Paz , a Liberdade global dos Povos? Se realmente podemos mudar-nos e mudar os outros, só através da acção, através da Arte, da produção de Cultura, do Criar, do poder da reificação humana que nos é inerente, é que realmente poderemos descobrir, no fim, que foi ou não possível construir essa mudança. Voltaire, Ghandi, Luther King entre milhares de nomes famosos e anónimos acreditaram. Jesus acreditou em nós. Morreu por uma causa. Talvez nós possamos, mas também temos de acreditar. Falta-nos, mais que a fé, a vontade de combater a inércia de descobrir que podemos vencer, podemos de facto mudar. Eu hoje poderia ter ganho o totoloto. Sonhei com o que faria com 1 milhão e 400 mil contos, troquei listas de compras imaginárias com uma pessoa que cepticamente me dizia que é mesmo muito remotamente provável acertar o 6. Mas a verdade é que nem eu nem ela alguma vez preenchemos um boletim. G.F.
rebenta
Existem pequenas coisas, objectos, lugares ou sons nas e das relações que quando estas findam, adquirem maior importância do que quem nelas se envolveu. Numa tarde de descanso e de zaping, o último diálogo do que eu penso ter sido uma curta metragem do canal Hollywood, fez-me encontrar também algum paralelismo com isso.
« -A minha namorada traiu-me ontem com o meu melhor amigo. Nunca pensei poder um dia encontra-los os dois, naquela ponte, aos beijos e mais alguns apalpões.
- O que estás a pensar fazer em relação a isso?
- Vou rebentar com a ponte.»
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