Já houve dias em que vim aqui e pensei acabar de vez com os comentários, outros em que vinha de hora em hora ver se mais alguém me tinha vindo ler. Talvez ainda não tenha acabado de vez com a hipótese dos comentários por uma questão de preguiça. Gosto muito mais de receber mails mas a verdade é que não respondo. Talvez porque depois de alguma coisa escrita e publicada ou impressa já não há resposta a dar, foi e é o que está lá até a última pessoa ler, até desaparecer com o tempo. Ou talvez por uma questão de procrastinação. Contudo poderia apenas responder com um obrigado e sei que não o costumo fazer.
Porém, gosto de saber que quem me lê sorri, ou sente qualquer coisa, de orgânico, físico. Me sente as palavras na pele, ou nos músculos faciais ou nas entranhas se não fosse pedir muito. Gosto de pensar que há por aqui alguém que se identifica comigo. Ou que se afasta de mim. Gosto de me imaginar narcisicamente a ser perseguido uma legião de fans espirituosas e em bikinis a gladiarem-se contra uma legião de críticos de laço e cachimbo. Gosto de saber que existem pessoas (com quem me cruzo, com quem eu falo ou que nem da sua existência tenho conhecimento) que me vão conhecendo melhor desta forma. Meio este tantas vezes enganador, mitificador e sempre limitante.
Gratifica-me ler os amigos com as palavra escritas bastantes para dizermos o quanto gostamos uns dos outros. Dizer e contar algumas das coisas é o meu veículo de humanidade privilegiado. Quando escrevo sinto-me vivo, absorvo e por instantes quase que controlo a realidade. Mais que um captar de imagens, de pequenos quadros em forma de ideias a “trebuchet”, com isto eu estou de facto a construir e ao mesmo tempo a brincar. A brincar com ideias, a deitar fora estruturas, a fazer o que bem quero. Talvez isto não seja bem verdade. Porque assino com o meu nome, às vezes não me consigo olvidar de quem são as pessoas que aqui aparecem. Quando isso acontece paro de escrever. O que publico tem sido sempre em função desses vultos estranhos, que englobam em si todos os “tus” que me lêem. Sempre me ensinaram a não responder a estranhos, mas eu sempre gostei de lhes perguntar qualquer coisa. Sentir que um estranho é um amigo que ainda não tivemos a oportunidade de conhecer. Depois partir e prosseguir com a utópica diminuição da estranheza. Talvez através de um blogue quisesse conhecer todo o mundo e augurasse que todo o planeta me conhecesse ou conhecesse o G.F. Pensando bem, talvez tivesse de escrever em chinês e em inglês (e nunca me auto referir na terceira pessoa do singular).
Estes deambulares iniciais porquê? Para agradecer a todos os que já comentaram algum post, aos que já me escreveram mails, e aos 17 mil visitantes que têm vindo ao Oráculo aterrar desde o início, desde o ano passado ou desde hoje. Tenho a certeza que desses 17 mil, apenas 20 são pessoas diferentes. (Se quiserem deixem aqui nos comentários um «passei por aqui». Será mais bonito que qualquer site de estatísticas e poderei abrir um pouco o pano do lado de aí. O lado onde vocês estão sentados. Anónimos ou heterónimos ou pseudónimos ou alcunhas ou apelidos ou nomes próprios, deixem-nos por aqui. Sabe muito melhor que ao vivo, porque quando um gajo que escreve ouve qualquer comentário, primeiro não sabe onde se esconder com a vergonha, como se tivesse sido despido em centésimos de segundo e além disso sente-se que aquilo deveria ser comunicado a outra pessoa, a um outro eu. Isto é, a escrita devia ficar para quem a escreve e para quem a lê. Resumindo, se quiserem comentar qualquer coisa, comentem aqui.)
Enquanto houver algum caminho por onde andar, acho que vou continuar. Vou estando por ali a recolher vidas nas paragens. Obrigado, vemo-nos logo. G.F.
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