terça-feira, setembro 18, 2012

El Derecho al Delirio


Sobre os tempos que passam, não tenho mais nada de importante ou bonito a dizer que citar este poeta:

«VAMOS A DELIRAR UN RATITO.
¿Qué tal si deliramos un ratito..?
¿Qué tal si clavamos los ojos más allá de la infamia..Para adivinar otro mundo posible..?

El aire estará limpio de todo veneno que no provenga de los miedos humanos y de las humanas pasiones.
En las calles, los automóviles serán aplastados por los perros…
La gente no será manejada por el automóvil, ni programada por el ordenador  ni será comprada por el supermercado ni será tampoco mirada por el televisor…El televisor dejará de ser el miembro más importante de la familia y será tratado como la plancha o el lavarropas…
Se incorporará a los códigos penales el Delito de Estupidez, que cometen los que viven por ganar o por tener, en vez de vivir por vivir nomás…Como canta el pájaro sin saber que canta..O como juega  el niño..Sin saber que juega...
En ningún país se irán presos los muchachos que no quieran cumplir el Servicio Militar, sino aquellos que quieran cumplirlo…Nadie vivirá para trabajar..Pero todos trabajaremos para  vivir…
Los economistas no llamaran “Nivel de Vida” al nivel de consumo, ni llamarán “Calidad de Vida” a la cantidad de cosas…
Los cocineros no creerán que a las langostas les encanta que las hiervan vivas..Los historiadores no creerán que a los países les encanta ser invadidos..
Los políticos no creerán que a los pobres les encanta comer promesas…
La Solemnidad:  Se dejará de creer que es una virtud.
Y nadie..Nadie..Tomará en serio a Nadie..Que no sea capaz de tomarse el pelo...
La muerte y el dinero perderán sus mágicos poderes.
Y ni por defunción ni por fortuna se convertirá al canalla en virtuoso caballero.
La comida no será una mercancía ni la comunicación un negocio, porque la comida y la comunicación son derechos humanos. Nadie morirá de hambre porque nadie morirá de indigestión…
Los niños de la calle no serán tratados como si fueran basura..Porque no habrá niños de la calle
Los niños ricos no serán tratados como si fueran dinero, porque no habrá niños ricos..La educación no será el privilegio de quienes puedan pagarla y la policía no será la maldición de quienes no puedan comprarla...
La Justicia y La libertad..Hermanas siamesas..Condenadas a vivir separadas, volverán a juntarse ..Bien pegaditas..Espalda contra espalda
En Argentina..Las madres locas de Plaza de Mayo serán un ejemplo de salud mental, porque ellas se negaron a olvidar en los tiempos de la amnesia obligatoria.
La Santa Madre Iglesia corregirá algunas erratas  de Las Tablas de Moisés y el sexto mandamiento obligará a festejar el cuerpo.
La Iglesia también dictará otro mandamiento que se le había olvidado a Dios : “Amarás a la Naturaleza, De la que formas parte”.
Serán reforestados los desiertos del mundo..y los desiertos del alma.
Los desesperados serán esperados y los perdidos serán encontrados, porque ellos se desesperaron de tanto esperar... y se perdieron de tanto buscar
Seremos compatriotas y contemporáneos de todos los que tengan voluntad de belleza y de todos los que tengan voluntad de justicia…Hayan nacido cuando hayan nacido y hayan vivido adonde hayan vivido, sin que importen ni un poquito las fronteras del mapa y del tiempo…
Seremos Imperfectos..Porque la perfección seguirá siendo el aburrido privilegio de los Dioses…Pero en este mundo...

En este mundo chambón y jodido seremos capaces de vivir cada día como si fuera el primero y de vivir cada noche como si fuera la última...» Eduardo Galeano

segunda-feira, junho 04, 2012

golos limpos


               Estou a vê-los a todos. São sete e não têm mais que 12 anos. Acabaram de assaltar os putos de um bairro rival. Estão em tronco nu, trazem turbantes improvisados do Liverpool , do Barcelona e do Benfica. Estes marajás de palmo e meio soltam gargalhadas. O mais alto vai à frente, esforçado e de olhar perpendicular ao asfalto onde quase deslizam ao marchar vagarosamente com os seus nikes e adidas esburacados nas biqueiras de tantas bujas. Um segundo garoto segura uma beata mal fumada com a mão suja direita. Na esquerda finge suportar, tal como os outros o produto da gatunagem juvenil desta tarde de sol junino. Ao longe, consigo ouvir-lhes os risos, “os foda-se” e as preocupações. O ruivo das favolas diz “que isto ainda vai dar merda”. Trazem o seu  furto aos ombros estes peregrinos adolescentes, gatunos em procissão estival. Cruzam os prédios de subúrbio arruinado e às janelas há aprovações anciãs em sorrisos desdentados. Cheiram a orgulho, o seu andor é mais importante que qualquer taça do mundo. O seu crime o mais desculpável. Não cantam mas um dos telemóveis solta um kuduro chinês. O mais pequeno, que nem chega onde os outros carregam, improvisa uma dança, celebração ao troféu roubado, trocando os olhos à vizinha do quinto andar. O Sr. Albino pergunta se precisam de ajuda. Hoje não querem  nenhuma. Têm tudo o que precisam.
                Estou a vê-los aos sete, ao longe, à esquerda desta avenida sem nome de ninguém famoso. Ainda oiço a sua algazarra, mas já não os distingo. Não sei se são uma massa humana mascarada de formigas ou metamorfose de lagartas locomotivas em crianças de rua. Sete reguilas bons ladrões num final de tarde de bairro, de  “u” em ferro às costas, planando na ladeira dos caixotes vandalizados e dos sofás vagabundos sem dono. Sinto que o ruivo das favolas tem razão mas, por algumas horas, no ringue improvisado do nosso bairro, ninguém vai discutir se a bola bateria no poste ou não. Vão ser apontados golos antológicos, inimputáveis e legais e que o dono da bola não poderá mesquinhamente invalidar. 
              Sim puto, pode haver recargas e represálias da equipa visitada. Prolongamentos - vendeta não desejados. Mas essa baliza roubada e pesada que vocês trazem aos ombros já é uma das vossas histórias de vida comum e essa alegria nestes inícios de noite quente de verão, essa memória de alegria meus putos, já ninguém vos pode ilegalizar. Gonçalo Fontes

segunda-feira, maio 28, 2012

15 mais 15



              Anunciei que voltava em breve e passaram quase dez meses. Nunca quis encerrar este espaço pois sempre achei que numa hora como a hora de hoje, eu ia ter necessidade de voltar a mostrar alguém  algumas  novas imagens escritas. Nestes quase nove anos de blogue escrevi muito pouco. O tempo completamente livre que tinha para o fazer usei-o para dormir mais uns minutos ou especar-me perante este rectángulo em branco sem querer exibir nada a ninguém. Nesses tempos, o Documento1 de word foi apenas página anónima sem salvação. Muitas foram as vezes que, prestes a salvar alguma coisa, decidi apagar tudo.
                Escrever exige disciplina como uma vez me respondeu José Luís Peixoto. E eu só sei ter disciplina para aquilo que devo fazer e não para o que quero fazer. Acreditem, eu quis e quero muitas vezes fazê-lo, todavia, nesses entretantos, as palavras não serviam e as histórias que tinha para relatar não eram para te contar e nem tão pouco tinham qualquer necessidade de serem resgatadas. Em tempo de sequestro e pouca posteridade eu envelheci e envelheci porque os outros à minha volta também não continuámos novos. Porém, em todas as partidas, nunca voltei de mãos vazias. Por vezes voltei com o coração mondado, mas continuei a viajar e a ser, de quando a quando, porque não, feliz. Este blogue foi a minha forma de partilhar a minha saudável solidão. Dizem-me que eu fujo mas eu não concordo. Dizem-me que eu me perco mas eu não posso aceitar completamente. Dizem-me que eu devia crescer e aí sim, só que eu não sei ainda como.
           Na sexta feira faço trinta anos e ainda não os sinto. Entre copos, cidades e mulheres, sinto que vivi 60 anos mas ao mesmo tempo assusta-me aceitar que já não tenho 15. É –me fascinantemente inacreditável saber que sou psicólogo, que assino recibos de ordenado, que oriento estágios, que supostamente sou um cidadão idóneo e ajudo na protecção dos direitos das crianças e que termino e-mails para adultos rotineiramente com “os melhores cumprimentos”. Logo eu, que não tão poucas são as vezes, sonho que recebo uma carta da faculdade a dizer “Gonçalo, afinal você não acabou o curso, apresente-se na secretaria com carácter de urgência”. Eu, que sinto ter em mim cem mil mundos urgentes por mapear, vejo-me ter que responder com confiança sobre as coordenadas da geografia dos outros. Eu, que falo sobre as relações desses outros com laivos empírico-académicos e mais um terço de bitaites testados com casais alheios e, no fim dos cabos, estou solteiro há talvez quatro anos e já não me lembro da maravilha do amor feito entre nós. Eu que pertenço a Ordens e a Comissões, e vou a Formações e transmito opiniões e elaboro Relatórios de Avaliações mas que, noves fora, só queria estar ali com os putos a jogar 5 para 5 entre balizas feitas de mochilas monte-campo.
                Não foi assim há tantas centenas de dias que eu cantava numa banda de rock, vivia de bicicleta a 45 minutos de Veneza e não sabia o que eram categorias profissionais, cronogramas e amortizações. Não foi há mais de uma década em que nos sentávamos na rádio do bar da faculdade a tecer comentários sobre as mamas bonitas de todas elas, seleccionadas do 1º ao 5º ano. 
             No final da semana eu terei trinta anos. Estou mais pesado, ainda vou tendo cabelo. Não posso cultivar barbas de um mês e despentear-me com propósito. Tenho saudades de acampar na Fonteireira. Tenho saudades dessas fogueiras vividas com amigos a descobrir o mundo e saber que estávamos a ganhar super poderes sócio-espirituais. Esse fogo, essas bicicletas, esses gargalhadas, essas caminhadas, essa rotina, essa fúria dos momentos de paz, ecoam nestes tempos mais lentos e saborosos. Esses episódios retinam nestes finais de vinte anos de combates sem guerras de grande violência.
                 Continuo a brincar, a mascarar-me a inventar novas vidas. Faço Teatros. Mora em mim tanta gente fictícia e tanto de vocês que juntos devemos ter mais de dez mil anos. Continuo a apaixonar-me por coisas que me são estrangeiras e continuo a querer só dizer-te uma piada,  fazer-te rir, para que não me tenhas mais fronteiras. Ainda não sei dizer imenso, por isso é bué fixe saber que este meu mundo tem tantos espelhos-fantasmas-benignos de mim mesmo. Ora derivando eles pelas subidas do Monte Abraão, ora desviando-se pelas  arcadas de Pádova, ora fazendo-se sentir nas gargalhadas de Roterdão, na doçura dos olhar de Liubliana, nas despedidas das estações de Varsóvia  ou na multidão ensimesmada dos ferries do Corno de Ouro. Sem esses ecos, eu não teria sexta-feira estes trinta anos. E sem estas palavras ditas eu seria apenas mais um sem história. Sem palavras escritas hoje, quem serei eu daqui a quarenta e cinco vírgula quarenta e nove anos? Além de morto segundo o INE e a sua esperança média, não seria ninguém. Mesmo vivo preciso destas palavras ditas e reescritas... Preciso mais que isso. Preciso que me oiças e leias. Porque não bastam só as palavras escritas. Mesmo que um dia inventem borrachas com a parte azul que realmente apague a tinta de todas as bic sem sequer romper  as folhas dos nossos cadernos pretos com recorte dos Nirvana, tu leste-me e sabes quem fui. Mesmo que todos os hackers malévolos da facção ignorante do mundo se reúna e acabe de vez com os processadores de texto e as bases de dados de blogues, tu lês-te me e sabes quem sou. Mesmo que todos os incêndios da piromania  estival  queimem estas folhas brancas de passado frio, tu leste-me e podes amanhã contar quem eu poderia ter sido. Mesmo que um dia não existam mais registos meus, que não conste do ficheiro de qualquer burocrata ou que os filhos da mãe dos Alzheimers me sodomizem a mente, tu leste-me e eu posso voltar outra vez a ter 15,apaixonantes, anos. Gonçalo Fontes