Acabou de pisar uma mina lunar. Estilhaça em câmara lenta. A gravidade não sustenta os pedaços de si própria. Vê-se despedaçar pianamente. Fragmentos da sua identidade relativa, distribuídos aos milhares em avanços milimétricos pelo universo tornado finito. Acabou de pisar uma mina lunar. Rebenta por dentro e por fora numa explosão retardada ao absurdo da demora. Ela acabou de pisar uma mina lunar e agora eclode devagar vendo-se a si própria dividir, desencontrando-se numa dor mais que gerúndia. Ela acabou de pisar uma mina lunar. Calcou-a na curva da emboscada. Agora pulveriza-se morosamente sem qualquer serenidade própria de quem queria adiar mais um pouco. Sem retardo desfaz-se em frames. Não há fogo, não há cheiro a pólvora, não há sangue, não há cinzas e deixa cada vez mais de haver chão. Não há sequer velocidade suficiente para ela não poder ver o seu dissociar. Observa, obrigada, a repartição confusa de si mesma. Tudo teria sido fácil se tivesse pisado uma mina terreste. G.F.
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