segunda-feira, junho 19, 2006

México 86


Penso que foi numa exposição de Ciência em Valência que vi os relatos de crianças a quem tinham perguntado qual a sua primeira memória. Muitas eram induzidas por aquilo que viram em fotos ou pelo que os pais lhe contaram. Eu lembro-me de ter sete ou oito anos e antes de adormecer tentar fazer um esforço para me lembrar, em retrospectiva, de coisas que tivessem acontecido nos últimos anos. Intrigava-me não me lembrar de quando nasci. Talvez tivesse ido longe se não adormecesse nesses devaneios. Sempre tentei auto controlar cronologicamente a minha identidade e talvez o blogue acabe por ser, também, uma ferramenta para isso.

As minhas recordações mais antigas são as relacionadas com um rádio azul que tinha a que chamava “a minha muca” (era difícil dizer música com dois ou três anos). Às vezes sinto que me lembro perfeitamente de viagens com os meus pais, de brinquedos que tive, de pessoas da ama onde andei antes de entrar para o colégio. Acreditando que a nossa identidade é em grande parte memória, eu sei mesmo que existo desde 1986 e não desde 1982. Porque me lembro de ir buscar a minha irmã à maternidade e de colocar as minhas mãos à frente da cara dela enquanto chorava, para lhe dizer “magia magia magia” até a mana adormecer.

Mas também me lembro do Mundial de 1986. Eu até pensava que me lembrava pouco, talvez de ver um jogo de Portugal na televisão e da mascote de alguém com um sombrero. Só que a minha mãe hoje perguntou-me se eu ainda sabia a música do “unidos por un bálon” que, por essa altura, passava os dias aqui a cantar pelos, naquele tempo infinitos, corredores de casa. «Mexico otenta e seis, méxico otenta e seis uniiiiiiiidos por un báloooooon!!» fez-me sorrir ao canta-la e ao saber que já tenho memórias com duas décadas de idade. G.F.

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