Chamavam-lhe Boca de Rosa. Colocava o amor sobre todas as coisas. Mal tinha descido no apeadeiro de Santo Hilário, vieram todos observa-la e logo ali descobriram que não se tratava de um missionário. Existem aqueles que fazem o amor por aborrecimento, outros que fazem o amor por profissão. Boca de Rosa não, fazia-o por paixão. Mas a paixão frequentemente conduz à satisfação da própria vontade e Boca de Rosa não se perguntava se o outro tinha o coração livre ou mulher. De um dia para o outro atiraram-se a si as cadelas a quem lhes tinha tirado o osso.
Sabe-se que as gentes dão bons conselhos, sentindo-se como Jesus no templo. Dão bons conselhos se não podem dar um mau exemplo. Assim, uma velha que nunca foi mulher, nunca teve filhos, sem ter mais desejo, começou a dar conselhos a toda a gente. Dirigindo-se às cornudas, apostrofou com palavras agudas: «O furto de amor será punido». E aquelas mulheres foram ao comissário e disseram sem parafrasear: «Aquela nojenta tem mais clientes que uma mercearia». Chegaram quatro polícias com penáculos e com armas. Um coração terno não é um dote da polícia, mas naquela vez, quando acompanharam Boca de Rosa ao apeadeiro, iam de má vontade.
Na estação estavam todos, desde o comissário ao sacristão, com os olhos vermelhos e chapéu na mão. Vieram saudar aquela que por pouco tempo trouxe o amor à sua aldeia. Havia um cartaz amarelo que dizia assim «Adeus Boca de Rosa, contigo parte a Primavera».
Mas uma notícia um pouco original não tem necessidade de nenhum jornal. Como uma flecha disparada de um arco andou veloz de boca em boca. Na estação sucessiva estava ainda mais gente do que naquela donde tinha partido. Havia aqueles que mandavam beijos, outros flores, outros que reservavam espaço por duas horas. O Pároco abençoou e foram todos em procissão. A Virgem na primeira fila, Boca de Rosa um pouco afastada. E assim foram pela aldeia. O amor sacro e o amor profano. trad.G.F.
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