quarta-feira, março 24, 2004

há 6 anos.

Gosto sempre de falar com o Vicente. Só o conheci durante 15 dias e hoje revê-lo, mesmo que virtualmente, é redescobrir a doçura das amizades dos meus 16 anos. Conversar com ele sobre aquele Verão é voltar às melhores memórias da minha adolescência. Fui procurar um texto sobre o último campo de férias que fiz, que eu e o Jepas escrevemos num Setembro de 98 resfriado de muitas saudades.
Quem nunca fez campos de férias, acampamentos, quem nunca esteve 15 dias e 14 noites, a dormir 4 horas, juntos sempre na mesma camarata, provavelmente não compreenderá o espírito que se cria e o sentimento de irmandade que nos acompanhará para a vida. Não quero hoje falar muito sobre isto. Só deixar aqui uma parte do texto com a qual me ri apaixonadamente. Por aqueles tempos, pela forma como gozávamos com todos e connosco. Ri-me da crueldade púbere com que apontávamos os defeitos uns dos outros. Reler aquele texto é lembrar-me fielmente de quem lá esteve, do seu aspecto, dos seus tiques, do que mais gostavam. É estar de novo com eles. Por isso, deixo aqui esta lembrança para os que lá estiveram comigo. Os que não estiveram, ou passem para outro post, ou se quiserem tentem imaginar uma dessas personagens com quem passei 15 dias fantásticos da minha vida. G.F.

(...)Dentro da camarata natal jazem os irmãos ping-pong, que, à falta de bolas e com a mania de perseguição dormem de olhos arregalados. Principalmente o mais novo, dotado de uma extrema falta de semelhança com os seres humanos, embora tenha saído pelo mesmo sítio que os outros, este possui características alienígenas dignas de efeitos especiais nos macabros episódios de Zé Files:
Começando pelo topo, é notória a falta e cabelo na amostra de crânio, resultado de duvidosas experiências não só biológicas como também mutantes. Esta escova revelava também uma outra complicação clínica: o excesso de quimioterapia à base de vaselina dos 300 para tentar um tumor maligno (embora no seu caso benigno) a partir do recto. Estes factos faziam sobressair as lunetas cor de alface equipadas com lentes regressivas barilux, presumivelmente contrabandeadas ao governo americano, mais propriamente do telescópio Huble. Este famoso acessório tinha ligação directa aos famosos abanos lobulares timpanais dignos de alimentarem as caldeiras nucleares de Chernobil. Há mesmo quem diga que foi desses orifícios que se extraiu toda a cera do Museu de Cera londrino. Lóbulos auditivos capazes de fazer inveja ao Dumbo e às parabólicas da RTP. A sua paixão pela música erudita levou-o a gastar somas astronómicas em phones feitos por encomenda à multinacional Boing. Não ficando atrás da imponência das outras formas de arte faciais da sua tromba expressionista neo-abstracionista e gótica, temos a penca reluzente. Digna de igualar as capacidades de olfacto de um suino, esta mini tromba (mini é eufemismo) conseguia detectar comida nas imediações de Vila do Conde e talvez no Porto. Mas um excelente apêndice aerodinâmico era constituído pelos dentes. Considerado pelos especialistas em enlatados do campismo internacional, como o maior rival dos abre latas modernos. E não só… Quando equipado com rodinhas, faz tournées pelos campos de golf europeus, aparando a relva dos mesmos só com os dentes. E para finalizar notava-se já uma voz de tom macho latino que destoava com o seu andar zombie tipo Homo SemiErectus. E o irmão? O irmão pronto, vindo do mesmo buraco, era irmão. (…)
J. e G.

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