terça-feira, janeiro 13, 2004

Em casa de Ferreiro... é mesmo melhor ter alguma coisa de ferro.

Um vizinho meu é dentista, tens os dentes completamente amarelos. Ontem fui a uma loja da “Swatch” e perguntei à rapariga simpática da loja que horas eram. Não tinha relógio. Conheço quem tenha mães enfermeiras e nem um único Brufen existe em suas casas. Os que pior se vestem, de entre aqueles que nos inundam todos os dias os ecrãs dos nossos televisores, são na maioria das vezes os estilistas. Há dois meses, em Verona, houve uma inundação num quartel dos bombeiros locais, devido a uma negligente torneira aberta. Conhecem-se vários casos de ex-psiquiatras agora internados. Não conheço nenhum ferreiro nem sei se nas suas casas predominam espetos de pau mas tenho de concordar com Balzac: distingue-nos a contradição. E a estória que vou contar, traz-nos apenas um dos infinitos paradoxos das nossas belas vidas quotidianas.

Uma considerável parte dos médicos fuma. Uma considerável parte dos médicos alimenta-se mal. Uma considerável parte dos médicos bebe em demasia. Uma considerável parte dos médicos não faz desporto. Pois façamos o que um médico diz, não façamos o que ele faz…

Contou o meu pai que, nas terras de França, um homem nada parco em finanças tinha ganho a maior lotaria do país naquele ano. Esse homem, apesar de rico, albergava imensas dívidas e já tinha tido duas ameaças graves de problemas vasculares devido a preocupações monetárias. O prémio era exorbitante, cerca de 250 mil contos, e os familiares desse homem souberam da notícia primeiro que o premiado. Decidiram então chamar o mais eminente cardiologista da cidade dando-lhe a missão de dar tão surpreendente notícia ao patriarca estimado. Com uma pequena desculpa, levou-se o tal homem a uma consulta fantasma. O médico e o premiado sem o saber falaram durante quase quatro horas. Tudo num clima de relaxamento e de paz imensa. Todas as técnicas foram aplicadas. O médico, na mais cândida serenidade, conseguiu que o diálogo enveredasse pelo caminho desejado. Reflectiam então sobre prémios, sobre sortes e azares na vida, quando, sem dar muito nas vistas, o médico perguntou ao homem abraçado pelo destino o que faria se ganhasse a Lotaria nesse ano. Durante três segundos, o silêncio. Depois, a resposta suave: «Por todas as vezes que não me deixou ir desta para melhor, por ter salvo mais que uma vez a minha vida, dava-lhe, sem sombra de dúvida, metade de toda a minha fortuna». O médico teve um ataque cardíaco, falecendo naquele instante. G.F.

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