quarta-feira, setembro 10, 2014

«Em 15 minutos toda a gente vai ser famosa» I

Penso que tinha dez anos quando comecei a ver a série “Indiana Jones e as Crónicas da Juventude”. Tornou-se na minha série preferida porque o MacGyver estava a terminar ou tinha já acabado. A minha disciplina preferida sempre fora História e o facto do pequeno Indiana Jones ter também dez anos e viver as aventuras nos lugares mais fantásticos do mundo fazia-me sonhar com uma vida igual.

 Acho que todos queríamos ser Indianas Jones. Não conheço nenhuma personagem mais fixe. Se me perguntassem um pouco mais tarde o que queria ser quando fosse grande eu e outros amigos meus queríamos ser arqueólogos-professores que lutam pelo bem em lugares onde a história mundial se está a escrever. O que mais me fascinava na série de que falo é que em cada episódio o velho Indiana Jones contava como tinha sido a sua presença juvenil em cenários como a grande guerra mundial, a revolução bolchevique ou a Paris dos Cubistas. O Indiana Jones não se tornou famoso por ter conhecido Picasso, Lenine ou o Hitler, mas ouviu-os ou disse-lhes alguma coisa em alguns momentos. Eu tinha um sonho de poder também viver uma vida assim. De aventuras e de, nos entretantos, poder conhecer vultos contemporâneos que mudam o nosso mundo. Sem ser notado, mas contente por ter aprendido qualquer coisa com eles. Saber que me viram um dia e, mesmo se esquecendo completamente de mim, eu poder dizer aos meus netos que troquei algumas palavras ou até histórias. Eu que adoro biografias  gostaria de guardar na memória alguns encontros com estas pessoas que, por talento, sorte ou trabalho se tornaram celebridades famosas. Talvez seja por saber que a maioria se irá libertar mais facilmente que nós das leis que a mortalidade dita e este desejo seja porventura o de lhes retirar um pouco dessa imortalidade. Talvez porque os figurantes sentem por vezes o desejo escondido de terem uma ínfima contra-cena com os protagonistas.

Todos os que viram o Forest Gump na altura e se sentiram assombrados pelo facto de ele ter tido a influência ficcional que teve junto de algumas figuras do século XX também percebem este sentimento. Era o Forest Gump que eu queria ser. O basbaque dos bastidores. O taxista zé-ninguém à conversa com artistas, políticos e sumidades de menor ou maior grau. Não é pois assim de procura de autógrafos de que falo. Um dos poucos autógrafos que pedi na vida foi ao Mickey e isso nem me parece que mereça qualquer relato. Não tenho selfies com conhecidos e pseudo-conhecidos da nossa praça. Mas tenho algumas histórias que gostava que contar sobre os cruzamentos que tivemos. Infelizmente nenhuma tem o poder de argumento que o Indiana Jones e o Forest Gump tiveram. A maioria são com portugueses o que relativiza a sua celebridade mundial. Eles não se lembram do contacto mas queria que outras gerações de Fontes pelo menos pudessem sorrir ao saberem que me cruzei com algumas das pessoas que eles só vão conhecer da Wikipedia.

O Andy Warhol celebrizou a expressão «No futuro toda a gente vai ter 15 minutos de fama» e depois parodiava a própria citação dizendo «No futuro 15 pessoas serão famosas» e «Em 15 minutos toda a gente será famosa». Decidi escolher esta última, pela sua maior fugacidade e adequabilidade à realidade que conheci. Será assim a frase que dará título a um conjunto de histórias pouco fascinantes e corriqueiras resumidas a menos que três frases e que vão desde o Rei Eusébio, à Mariza, Soraia Chaves, Platini, Toy, Noel Gallagher, José Luís Peixoto, Jorge Palma entre outros.


Felizmente posso escrever porque não sou famoso. Gonçalo Fontes

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