quarta-feira, abril 11, 2007

nove fora e nada


Olha, queria dizer-te a ti (que me lês em nome de todos os anónimos que esperarão um dia por mim) que não fui chato. Queria dizer-te que nunca mais escrevi porque tive de ir ali fora só viver um bocadinho. Sabes, era Julho, não me apetecia estar sozinho aqui. Só que tens de compreender que Julho vestiu o Agosto com um bikini contrafeito em Xangai e eu só queria estar ali a esconder os paus e as pedras dos nossos futuros. Enterrá-los na areia antes que chegasse Setembro e eu me tornasse literalmente finalista. Já sabia que não ia gostar de acabar mais alguma coisa, nunca gostei, sempre fui adepto do Benfica e das reminiscências.

Por isso me ilumino sempre desse imenso que são os inícios. Percebes: eu não voltei cá porque apenas não tinha nada para começar. Agora sim pá. Agora tenho vontade de começar a contar-te o que eu tenho pensado enquanto estive longe. Agora estou motivado para te acordar e dizer o que me passou pela cabeça enquanto brincava com o que restava dos paus e das pedras que te escondi e andei a esconder das boas pessoas.

Sabes, eu pus a gente toda do bairro a dançar com um objecto feito de reles plástico e papel. E eu nem sei tocar nenhum instrumento! Era toda gente minha vizinha pá, e riam-se para mim. Estavam felizes os meus vizinhos anónimos. E havia também gajas giras se queres saber. Ainda não eram tão bonitas como as últimas que amei, mas pá, sorriram para mim. Quando é que foi a última vez que uma mulher ou um homem bonitos sorriram para ti? Não ficaste contente? Eu fiquei pá, fui o rei do mundo. E para comemorar reuni a minha côrte de amigos e fomos ali embargar umas obras e pôr os ucranianos a dançar, fui ali embargar uns clubes de strip e pôr umas eslovacas a cantar. Fomos roubar gravatas às lojas finas e pusemo-las em todos os animais que íamos encontrando. Ainda tive tempo para dar gelados a toda a gente. Pois é, também já quiseste ser o senhor dos gelados. Olha e havia pessoal esquisito que não gostava de chocolate. A esses, demos sadicamente sudokus sem solução…Ainda lá estes meses depois. Estão eles e está aquilo que eu te vou contar nos próximos antes de partir outra vez.

Estava-vos a contar que foi uma bela comemoração pá. Fui feliz e caí na areia alegre. Só que é sempre quando caio na areia feliz que ensimesmado choro. Talvez a areia esteja sempre à espera do sal. Talvez o sal regresse sempre quando descobre que a areia não é deserta. Mas não te preocupes que as minhas lágrimas são sempre das boas pá. São as lágrimas das partidas e das chegadas, são as lágrimas da bicicleta de Padova, são as lágrimas que se misturaram nos beijos dela, são as lágrimas que vou semeando por aqui nos próximos tempos quando te contar tudo o que eu imaginei enquanto estava ali, durante meses, a não querer crescer um bocadinho. Sim, não te preocupes que as minhas lágrimas são quase sempre das boas. Porque quando sabemos que podemos sempre voltar a viajar e a poder relatar as nossas viagens, as lágrimas são em grande parte e simplesmente: H2O tipo positivo. Sim H20 positivo. As tuas também costumam ser?

Não interessa. Este devaneio que agora tive carece de enorme cientificidade. E depois de ter ido ver a constituição química de uma lágrima no “Google” (além de isso ser per se deprimente) acho mesmo que foi um erro técnico inqualificável como me diriam no 12º ano. Mas olha, nunca pensaste em mandar à merda a Física e a Química? E também nunca pensaste em mandar à merda por alguns instantes o que tinhas a fazer para vires ler este blog? Também foi por essa tua vontade que eu voltei. Mesmo que só depois destes meses não consentidos de envelhecimento. Mesmo que só depois destes meses a embasbacar-me comigo, com os outros e com o futuro.

Hoje é dia 11 de Abril, foram 9 meses fora e nada. Aqui nada, mas lá fora, quase tudo.G.F.

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