Então parámos tudo o que estávamos a fazer e começámos a olhar de um para o outro. Não porque houvesse muito por fazer e pouco por dizer. Apenas nos desligámos de fora. Pusemos o mundo no “off”. Ou nem sei se chegámos em algum momento a recarregar no power. Talvez tivesse sido a bateria a acabar por si própria. Estávamos ali. Nus mas não sozinhos. Sem música. Sem quadros. Dançámos e retratámo-nos. Estávamos nus e não sozinhos. Contámo-nos e éramos mais que a soma dos dois. Então quisemos esquecer as contas e resolvermos num impulso martelar todas as calculadoras que tínhamos em casa. Não sobrou nem um sinal de subtracção. Quisemo-nos multiplicar outra vez. Tirámos as teclas de todos os teclados e eu escrevi-te com elas uma canção de amor. Depois escondeste os tabus no sótão entre os livros que nunca quisemos ler e aqueles velhos colchões de molas gastas. Encontrámos uma lista telefónica de 1963 e decidimos que nome dar a um filho. Depois voltámos a virar costas ao planeta e ficámos outra vez sós. Quase no final ainda me voltaste a dizer que não te sentias sozinha. Mesmo estando nua. G.F.
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