Tem-se a necessidade de escrever para outros, para outro. Podemos enganar-nos e dizer que imprimimos palavras vendo-nos como receptores, mas a verdade è que se publicamos, se temos um blogue, é porque existe uma segunda pessoa a quem gostariamos de contar uma estoria, um desabafo. Eu pelo menos tenho descoberto isto, que escrevo para apenas algumas pessoas. Construo publicos, audiencias, espectadores reais ou hipoteticos. Depois sento-os na minha mente, frente a uma janela do internet explorer e espero que me ouçam, me leiam. Compreendendo-me ao mesmo tempo que vao sorrindo, imagino.
Na verdade acho que depois de ler todos os posts do ultimo ano e meio chego à quase certeza que apenas vislumbrei um vulto, sentado talvez ao meu lado, que realmente gostava que me lesse. Os outros, poucos, foram e sao talvez apenas « alguens » que gostava que soubessem do que ando a falar hà tanto tempo com esse vulto. Nao vos falo de um amigo imaginario mas um vulto feminino, sem rosto e sem aspiraçoes eternas a musa pessoal. Apenas uma mulher ainda com um vèu sobre o olhar da alma, um veu que ainda nao tive oportunidade de destapar.
Sim, enganei-vos. Sempre fiz de vos personagens secundarias, alguns quase figurantes daquilo que sempre quis dizer à protagonista de uma personalizada doce epopeia idilica, lenda de todas as lendas de amor. Durante este tempo sempre escrevi sobre tudo, mas a intensa verdade è que a força motriz impulsionadora da escrita nao foi a tentativa de descoberta de novas teorias sociais, nao foi a procura da denuncia do sofrimento ou da alegria da humanidade, nao foi a partilha de poemas ou imagens de basbaques geniais. Foi sim a eterna e terna seduçao atraves da escrita. O engate puro em forma de grafemas de plastico. Nao quis iniciar qualquer discussao intelectual : quis encontrar alguma mulher que amasse o que escrevesse. Que me amasse conhecer.
Peço perdao a todos os que nao compreendem o facto de tudo o que alguns homens fazem ter a ver, em ultima analise, com as mulheres. Que muitos de nos (ou talvez jà poucos) imaginamos travessias solitarias no desertos de relaçoes faceis para encontrar o oasis de alguem especial. Que as nossas verdadeiras ambiçoes se resumem à tentantiva que uma rapariga, sempre a mesma, exista, ao final de cada noite, nos oiça, nos confidencie que fomos e somos felizes nesse presente. Que nos realmente conheça e goste muito do que conhece. Esta è a simplicidade que todos nos, os que buscamos um braço suave no ombro, auguramos : adormecer feliz no silencio de dois sorrisos, sem adverbios, sem adjectivos, sem adversativas. Nao queremos ser peritos em engenharias do quotidiano, nao queremos ser pragmaticos quando as noites caem, nao queremos razoes que tantas encruzilhadas nos traçam. Tentamos subir às estrelas que de vez em quando podemos ver, fugir de multidoes em direcçao a lugares inospitos feitos de amor entregue.
Uns somos bebados, outros somos apaixonados, outros somos poetas, bebemos a vida ora com sofreguidao ora boiando desatentos. Uns escrevem, outros pintam, outros compoem, esculpem, actuam, dançam para e por alguem que apaixone por si. Que se apaixone perdidamente por si. Uma mulher, um homem, o mundo.
Por tudo isto considero a maioria das minhas palavras, meus restos mortais, que aqui deposito, como engrenagens feitas de rodas dentadas de engate discreto, puro, às vezes patètico, outras vezes magico. Se esta inspiraçao fosse um exercito, seria um exercito de automatos programados com todos os meios tecnologicos ainda por inovar para encontrar a felicidade no corpo de uma mulher. Uma mulher bonita. E bela, tambem. Porque o corpo pede sempre um pouco mais de alma. Preciso inconscientemente de conquistar, de impressionar o mundo inteiro, de fazer amor com ele na forma de uma mulher especial. Primeiro seduzindo-o, enlouquecendo-o, desarmando-o, amando-o, consumindo-o selvatica e urgentemente com uma doce lentidao. Preciso de haver o fado afortunado de usar esses momentos em que todas as vestes materiais e imateriais se despem e por segundos conseguimos responder com toda a certeza a todos os porquês do Universo. Segundos de infinito turbilhao de sentidos, desprovidos de ansias, de medo, de perceptos, de construtos, de gramaticas, de linguagens. Neste pleno e pequeno mito que se torna o tudo, vive a meta da minha escrita. Na tentativa de o buscar, evado-me e esqueço-me das nossas vidinhas onde transbordam tantas emocoes faceis de consumir. E vai dando para viver numa vaga esperança de que tudo terà essa mudança, de que um dia posso tirar a mao do queixo.
Redescubro tudo isto aqui longe de Portugal, nao por estar melancolico, ou triste, ou sozinho mas por redescobrir que afinal tudo deriva ou tudo acaba no mesmo. Que o mais importante existe em mente nos minutos antes de abrir ou fechar os olhos, sozinhos na obscuridade.
Depois das noites de perdiçao nos braços de mulheres vulgares, lugares bonitos num mapa europeu, mas com nomes e passagens faceis de esquecer, redescubro que me faz falta uma Capital onde pousar a mochila, querer permanecer. Provavelmente faço a cronica de uma morte anunciada : o final da escrita neste blogue acontecerà no dia em que encontrar esse Porto de Abrigo. Porque nao precisarei de viajar mais, ou melhor, porque a viagem que foi este blogue nao terà o mesmo sentido. Porem, agora tem sentido, e assim mais tarde ou mais cedo aqui escreverei novamente coisas diferentes, consciente ou inconscientemente procurando o vosso ou o teu amor.
Um amor que poderei encontrar aqui em Italia, ou quase certamente que nao :
Como diria um grande amigo, cumplice de noites de Bairro, afortunado ha pouco tempo nesta busca que ambos partilhamos : « essa mulher para amar deve estar em Portugal, quem sabe provavelmente numa cidade pequena, talvez em Famalicao » - Tem sido isso que me tem faltado, nunca estive nem nunca conheci ninguem de "Famalicao". G .F .
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