A Ana Elisa teve a ideia genial de me pedir para gravar respostas dos putos lobitos sobre o que achavam que era o Amor. As perguntas que ela me pediu eram simples, a ideia com toda a certeza só poderia resultar. Já tinha falado com eles sobre isso e sempre tenho pena de não decorar todas as pérolas de sabedoria que me transmitem todos os Sábados, todas as actividades. Um dia escrevo, quando tiver a cassete todo o diálogo. Para que fique na memória que 5 ou 6 putos têm muito mais a ensinar que 5000 ou 6000 cientistas, teólogos, poetas, filósofos. Hoje deixo só aquilo que o Ricardo, de 7 anos e irmão do Guilherme, respondeu.
Perguntei-lhe "se o Amor fosse um objecto qual seria"? Ele respondeu "a parede", olhando para todos os lados e encontrando o que lhe veio logo à cabeça. "Uma parede porquê?", perguntei-lhe. E ele disse-me, "porque é dura", meio ao calhas sem pensar. Perguntei-lhe: "Mas achas que o amor é duro?" Ele esteve uns longos momentos a pensar e quando já estava para desistir de acreditar que ele pudesse associar a alguma explicação respondeu-me na sua voz de reguila, perspicaz e com uma expressão de representação infantil da tristeza: «Sim, quando as pessoas se separam é.»
Mais tarde no meio de um bando de putos, quando pedi para deixarem uma mensagem para quem não tivesse namorado e namorada e se sentisse triste, o Ricardo, interrompendo algumas respostas dos amigos, chegou-se a mim e ao pé do microfone e disse-me olhando-me com malandrice: «Vai pó Parque das Nações que há lá muitas». G.F.
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